Por Sebastião Rosa

Nas duas últimas semanas, realizei os meets de acordo com as orientações da Secretaria Estadual de Educação do Paraná – SEED, ou seja, meets de 40min cada em todas as minhas aulas. Trabalho como professor de Português em duas escolas, ambas na periferia da Região Metropolitana de Curitiba. Tenho oito turmas do Ensino Médio, quatro em cada escola, totalizando 32 aulas por semana, implicando, portanto, a exigência de realização de 32 meets semanais.

Além da realização dos meets, procurei também dar conta das demais tarefas que nos estão sendo impostas pela SEED, ou seja, o acompanhamento de postagens no classroom, o acompanhamento das aulas veiculadas pela televisão, a preparação de atividades escritas para alunos que não têm acesso à internet, a preparação e a correção de atividades avaliativas, a participação em reuniões pedagógicas, o acompanhamento de postagens de orientações e de pedidos de informações em grupos virtuais dos colégios e das turmas, o preenchimento de RCO e de planilhas de desempenho e, ainda, o atendimento de pais e de alunos através do watts particular.

Somando minhas oito turmas, tenho aproximadamente 300 alunos, quantia muito inferior ao número de alunos atendidos por professores que atuam em outras disciplinas, como Sociologia, Filosofia e Arte, por exemplo, os quais chegam a ter mais de 1.000 alunos. Mesmo assim, o trabalho é exaustivo e estafante. No final do dia, invariavelmente, encontro-me com a voz rouca, com o corpo doído e com a capacidade mental completamente esgotada. E vejam que estamos falando de apenas duas semanas nesta rotina de trabalho, apenas iniciando o ano letivo. O enorme esforço despendido eleva, certamente, os riscos de adoecimento e de abandono do trabalho. O quadro acaba se agravando ainda mais, levando muitos profissionais ao desespero, quando vemos serem intensificadas as pressões da SEED por resultados, os quais se apresentam cada vez mais pífios.

Nas duas escolas em que trabalho, por maior que tenha sido o esforço dos professores, das equipes pedagógicas e das direções, a participação dos alunos nos meets é muito pequena. Entre minhas oito turmas, apenas uma vem contando com a participação regular de 25% dos estudantes. Nas demais, o percentual de participação gira apenas entre 0% e 10%. Isso mesmo, em sete turmas em que atuo, o percentual de participação médio dos estudantes nos tais meets é inferior a 10%. Muitas vezes, acabamos dando aulas para apenas um dois alunos.

Não sei qual é a situação em outras escolas, mas não acredito que seja muito melhor do que essa que estou relatando. Estamos fazendo muito esforço para obtenção de resultados ridículos. A SEED vem tornando cada vez pior o que já era muito ruim. As exigências descabidas de cumprimento de protocolos burocráticos retiram dos professores o tempo necessário para tentarem estabelecer outros tipos de interação com seus alunos, mais criativas e produtivas, menos burocráticas e cansativas. O mandonismo e os mecanismos de controle da SEED acabam retirando completamente o tempo necessário dos professores para pesquisarem, para se apropriarem de tecnologias, para planejarem suas aulas, para construírem materiais escritos com um mínimo de qualidade para aqueles estudantes que não têm acesso à internet e, enfim, para atenderem mais adequadamente inúmeros pais e estudantes que os procuram através de contatos particulares.

Outro ponto muito triste que ficou evidente durante essas duas semanas de realização dos meets, é a redução do trabalho do professor à mera aplicação de aulas prontas, planejadas por pessoas distantes do contexto social em que ele atua. Entristece ver o professor desesperado procurando se apropriar de recursos tecnológicos para tentar minimizar a dureza de suas tarefas, em uma perspectiva puramente tecnicista, na qual se prioriza uma suposta eficiência da tecnologia de ensino em detrimento dos sujeitos do processo educativo. O que está acontecendo no Paraná é um oportunismo tacanha do governo Ratinho Junior, que, na base da pressão e de ameaças, tenta adaptar estudantes e professores a uma lógica de ensino tecnocrática, excludente e seletiva, de interesse apenas do mercado e do capital.

É preciso reagir, mas tenho a impressão de que grande parte dos professores, amedrontados e acuados, encontram-se sem forças individuais e sem nenhum respaldo do sindicado que os representa. Ratinho Junior, covardemente, se aproveita dessa nossa fragilidade e vai deixando nossas covas cada vez mais fundas.

*Sebastião Rosa é professor na região metropolitana de Curitiba-Paraná

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