5 de maio de 2024

  O carnaval do ponto de vista de uma psicanalista foliã

Por Andréa Ladislau

A relação do ser humano com o carnaval vai muito além do sentimento alternado entre amar e odiar. Há aqueles que amam e vivem essa época do ano como se não houvesse o amanhã.

Se jogam de verdade, com o objetivo de compensar toda espera de quase 365 dias para extravasar a alegria e a possibilidade de dar vida a outros personagens através do uso de fantasias.

Outros, já encaram os dias de folia como sendo os mais propícios para descansar e aproveitam o feriado prolongado longe dos festejos de Momo.

Mas seja como for, a conexão com o carnaval, uma coisa é certa: é um período rico em aspectos emocionais que suscitam uma análise psicanalítica do ponto de vista dos desejos e dos limites. 

Para os apaixonados que se dispõem a brincar, curtir e extravasar sentimentos e emoções através da dança e do samba, o carnaval é a oportunidade perfeita para desconectar-se de cobranças e preocupações cotidianas.

 Um momento único que, do ponto de vista psicanalítico, desperta funções positivas no organismo, como: o estímulo à produção de endorfinas que fortalecem o sistema imunológico; exercícios físicos através do samba e da dança; elevação da autoestima; diminuição da irritabilidade, da ansiedade e do mau humor.

Ou seja, como psicanalista e eterna foliã, apaixonada pelo carnaval, defendo que, seguidos os cuidados e evitando os excessos e exageros, o carnaval faz bem para o corpo, a alma e, principalmente, para a mente.

Além disso, considerando o aspecto cultural, ele também contribui para divulgar, através dos enredos, que são desenvolvidos ao longo de todo o ano pelas agremiações, letras belíssimas e cheias de conteúdo histórico que contam e desvendam muitos segredos de nossa cultura popular brasileira.

O carnaval tem essa característica facilitadora de rompimento, mesmo que temporário, com os papéis de censura. É tentador extravasar e se libertar do personagem usual, aquele que desempenhamos durante todos os dias e nos exigem uma postura mais formal.

A folia estimula e oportuniza a vivência de escapes emocionais, nos quais podemos expressar sentimentos que enfraquecem a famigerada castração social.

Porém, é exatamente aqui que entra a importância de reconhecimento dos limites pessoais, já que muitos aproveitam essa época do ano para extrapolar em excessos e abusos, em nome de uma sensação de fuga da própria realidade.

Esquecem que o bom senso ajuda a balancear o bom e o ruim, o certo e o errado, preservando a integridade humana e os cuidados essenciais com a saúde do corpo e da mente.

Portanto, seja dentro ou fora da folia, o universo carnavalesco poderia ser melhor traduzido pelo sentimento de gratidão e comemoração à vida. Uma reverência ao amor e a resiliência da cultura brasileira recheada por letras que resgatam fragmentos históricos, entregando emoção e alegria através do samba.

Uma tradição que movimenta famílias e estimula o espírito competitivo e o sentido de pertencimento dos componentes das agremiações.

Enfim, podemos listar vários benefícios de se viver um período de carnaval saudável e leve, focando nos cuidados com a saúde física e mental, através do controle dos excessos (bebidas, drogas ilícitas, horas sem dormir, exposição ao sol sem proteção, falta de hidratação do corpo..) e do respeito aos próprios limites pessoais, sem querer viver os quatro dias de folia em um só.

Ou seja, descansando ou aproveitando a folia, com ou sem fantasia, o importante é carnavalizar com responsabilidade e equilíbrio. 

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