Por Maxwell Soares da Silva

O consumo do vinho faz parte da história de diversas nações a nível mundial, onde se tem a prática como tradição. Países como Itália, França e Espanha se destacam na produção, representando cerca de 45% da produção mundial de vinho no ano de 2021, segundo a OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho). No entanto, os países do “novo mundo” se evidenciam na produção e qualidade dos vinhos produzidos. Segundo dados do IBGE 2022, o Brasil possui uma área cultivada de 75 mil hectares, com 46% desse total no Rio Grande do Sul, mas regiões como São Paulo e Vale do São Francisco também se destacam, ambas com 9% de área cultivada.

O Brasil possui uma vitivinicultura única no mundo, com a produção de vinhos em três macro condições diferentes, na qual apresenta qualidades e tipicidades diferenciadas, podendo ser caracterizados como:

1) Viticultura tradicional com um ciclo vitícola, com uma poda e uma colheita por ano.

2) Viticultura tropical com dois ciclos, sendo duas podas e duas colheitas por ano, em qualquer período.

3) Viticultura de inverno com dois ciclos, sendo duas podas e uma colheita por ano.

O viticultor brasileiro, com essas opções de cultivo, aliado ao melhoramento genético das variedades e, principalmente, à irrigação localizada, torna a produção possível em diferentes épocas do ano.

A irrigação localizada no cultivo da videira traz o benefício de fornecer água e nutrientes para a planta nos momentos-chave do cultivo, como brotação, floração e crescimento da baga. São fases em que a planta demanda muitos elementos como nitrogênio, cálcio, magnésio, boro e água para concluir o seu ciclo. E se a região passa por um momento de estiagem (veranico) nessas fases anteriormente citadas e a propriedade não possui um sistema de irrigação localizada, o cultivo tende a diminuir tamanho de baga e comprimento do cacho, afetando também algumas características qualitativas como o teor de sólidos solúveis (°Brix), parâmetros essenciais para a produção de uva para produção de vinho quanto in natura.

Ter um sistema de irrigação por gotejamento é poder manejar com um nível maior de assertividade, podendo realizar déficits hídricos controlados a partir da fase de pegamento de frutos. A produção de uvas com este tipo de estresse hídrico controlado, proporciona uma elevação na acidez e diminuição do pH, e uma maior concentração de compostos fenólicos por consequência do aumento da razão película/polpa (DRY; LOVEYS, 2000; WAMPLE et al., 2002).

Este manejo pode ser realizado através de ferramentas como a estação meteorológica, que irá fornecer dados sobre a quantidade de evapotranspiração (evaporação de água do solo mais a transpiração das plantas) houve no dia anterior e necessitará ser reposta de acordo com a umidade do solo, que pode ser estimada através da tensiometria (equipamento que mede a tensão, podendo obter o teor de água no solo, sendo um método que determina de forma indireta a umidade do solo). Aliado ao Kc (coeficiente da cultura, específico para cada fase de crescimento), essas ferramentas visam fornecer a quantidade de água que a planta e o solo precisam, de acordo com a fase fenológica.

O monitoramento do fornecimento de água durante o cultivo e, essencialmente, na fase de maturação das uvas, é importante para a síntese e concentração dos compostos benéficos, como açúcares, redução da acidez, compostos aromáticos e fenólicos, nas quais são características sensoriais do vinho (cor, aromas e estrutura), capacidade de envelhecimento e estabilidade da cor.

Com estas ferramentas, a vitivinicultura no Brasil tem um caminho bastante promissor nos próximos anos, ofertando ao consumidor vinhos de excelente qualidade, produzidos com tecnologia de irrigação localizada de ponta, que possibilita produzir mais com menos.

Maxwell Soares da Silva, Especialista Agronômico da Netafim

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