Por Sebastião Santarosa

A prática pedagógica, o processo de ensino e de aprendizagem, é sempre guiada por uma teoria, a qual precisa ser explicitada e se demonstrar coerente com as ações desenvolvidas na escolas.

As pesquisas e os estudos pedagógicos, ao longo da história, tiveram como objetivo prioritário a problematização do próprio processo de ensino e de aprendizagem, a reflexão teórico-metodológica, a análise de práticas educativas e a consequente proposição de intervenções efetivamente fundamentadas. As políticas educacionais, por sua vez, em um governo sério, que se preocupa de fato em cuidar da infância e da juventude, são pautadas nos resultados dessas pesquisas e desses estudos.

Na contramão dessa orientação histórica, entretanto, quando um governo não tem como objetivo o cuidado da infância e da juventude – como é o caso do governo Ratinho Júnior no Paraná, as políticas educacionais distanciam-se da orientação científica, atendendo apenas a interesses de mercado, objetivando, controlando e descartando os sujeitos do processo pedagógico (estudantes e educadores), além de negar (como verdadeiro terraplanista) os resultados dos estudos científicos.

Como educadores, como cidadãos, temos obrigação de questionar Ratinho Júnior e o secretário de educação Renato Feder sobre os fundamentos teórico-metodológicos que embasam as ações de governo na gestão de nossas escolas. Afinal, como esse “biai”, os conteúdos estabelecidos no CREP e a obrigatoriedade do uso de plataformas digitais podem contribuir para a melhora do processo pedagógico? Quais são as pesquisas que sustentam essas determinações? E as avaliações de alta escala, a fiscalização das aulas dos professores pelas direções e a militarização das escolas? Em que estudos se evidenciam os benefícios dessas ações?

Pensar e planejar e educação não é coisa de achistas, de amadores, de improvisadores, de mercadores inconsequentes.

Nossas escolas viraram ambientes insalubres, espaços de adoecimento. Nelas, prevalecem a incerteza e o medo.

Nessa gestão obscurantista, travestida de tecnologia modernizante, quem perde são nossos jovens e nossas crianças. Como sujeitos responsáveis por nosso tempo, não podemos nos curvar às arbitrariedades do atual secretário de Educação e de seu séquito escondido em gabinetes com ar-condicionado.

A APP-SINDICATO tem, pelo menos deveria ter, um papel fundamental nesse trabalho de questionamento pedagógico e de construção de estratégias de resistência. A vida não se confunde, nem de longe, com o que Ratinho Júnior tenta impor a nossas escolas. E a escola, acima de tudo, é espaço de valorização da vida, da vida em toda sua riqueza e complexidade. É papel uma entidade sindical denunciar e combater tudo aquilo que nos reduz e nos oprime, que nos torna menos, que tenta transformar, por exemplo, educadores em feitores e estudantes em preenchedores de formulários de plataformas digitais.

Sebastião Donizete Santarosa, é professor na região metropolitana de Curitiba.

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