Por Sebastião Rosa

Sabe o que é violência contra professores? É a desvalorização, o desrespeito, o constrangimento, a humilhação! E olha não estou falando de salários, dessa miséria que recebemos; também não estou me referindo às péssimas condições de trabalho. Estou falando mesmo é da violência de orientações pedagógicas vindas da Secretaria de Educação do Estado do Paraná – a SEED. Isso mesmo, justamente o setor do estado que deveria proteger e valorizar os profissionais da educação é aquele que desvaloriza, que desrespeita, que constrange e que humilha.

Sou professor há quase trinta anos. O que eu mais fiz durante minha vida foi lidar com educação. Trabalhei em diferentes escolas e em diferentes níveis de ensino. Desde que me graduei, fiz estágios, fui aprovado em vários concursos, fiz especializações, mestrados, escrevi, publiquei, participei intensamente de cursos, de congressos, de debates pedagógicos e de organizações de projetos educativos. Apesar do tempo curto, sempre li e estudei muito. Durante todo esse tempo, nunca tive sequer uma advertência, pelo contrário, fui professor homenageado em muitas ocasiões, sempre tive o carrinho e o respeito de colegas de trabalho e de estudantes.

É claro que nem sempre as aulas foram como eu gostaria que fossem. Sabemos que aulas são sempre apostas, estão sujeitas a nuances contextuais, a movimentos de constituição de subjetividade incontroláveis e imprevisíveis. E quanto se é professor de escolas públicas, então, as adversidades se tornam maiores. Em cada sala que entramos, precisamos domar e matar um leão. Nossas condições de trabalho são horríveis. Exigem nossa dedicação permanente. É quase impossível ser professor de escola pública e não se comprometer inteiramente com a vida escolar. Desde que levantamos até o momento em que vamos dormir, temos nossas cabeças fervilhando em torno de planejamentos, de avaliações, de formulários, de problemas de ensino e aprendizagem dos mais variados. O pouco de sossego sonhado pelo professor acaba sendo o final de semana. Isso quando não tem reuniões, conselhos de classe ou tarefas atrasadas para fazer. Bom mesmo é o feriado, as férias, a aposentadoria, talvez, nesse atual contexto, a morte…

Agora, irresponsavelmente, completamente alheio à natureza da atividade docente, o secretário de educação do Paraná, o senhor Renato Feder, baixa orientação exigindo que diretores e equipes pedagógicas assistam a aulas de professores para avaliar os seus desempenhos. Isso mesmo. O cretino quer que nossas aulas sejam avaliadas permanentemente, quer que o diretor e o pedagogo assistam a nossas aulas pra botar defeito e nos desqualificar. Ou alguém é tão ingênuo a ponto de imaginar que se trata de uma tentativa de nos auxiliar em nosso trabalho?

Essa orientação é, no mínimo, canalhice. É coisa de gente que quer humilhar, de gente que quer provar para os professores que eles não são bons profissionais e, dessa forma, justificar o salário de merda que lhes paga. Quero saber quem serão os diretores e os pedagogos, sendo eles também professores, que irão se sujeitar a obedecer a essa ordem tacanha? Quero saber com que autoridade diretores e pedagogos, tão penalizados quanto todos os demais professores, irão avaliar individualmente o trabalho dos professores durante as aulas que ministram? Quero saber que autoridade pedagógica têm os burocratas capachões da SEED para estabelecer critérios de avaliação? Quero saber quem de nós vai baixar a cabeça e aceitar, docilmente, mais esse ato de violência contra a docência do Paraná.

A responsabilidade de dizer não a mais esse desmando é inteiramente nossa. Não podemos permitir que um absurdo como esse se efetive. O que precisamos avaliar, rigorosamente, é a política educacional que está sendo implantada no Paraná. O que precisamos avaliar é o que tutores chefes de núcleos estão fazendo. A escola pública não precisa de pau-mandado e nem de capatazes. Não precisamos de tutores para fiscalizarem nosso trabalho e muito menos de chefetes para nos punir. Embora o presidente de nosso sindicato, o Senhor Hermes Leão, tenha aparecido em fotografias trocando gentis “soquinhos” de mãos com o secretário Renato Feder, precisamos manter e intensificar o grito de “Fora, Feder”.

Renato Feder, sem dúvidas, é o que a escola pública do Paraná teve de pior ao longo de sua história. Nenhum outro secretário foi tão cruel e irresponsável. Não podemos nos curvar a seus desmandos.

Muda APP.

Sebastião Rosa é professor em Curitiba e na região metropolitana.

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