A política enquanto ação prática no mundo se vincula à ética ao definir um sujeito mais pelo que expressa em suas práticas do que, por exemplo, em linguagem institucional ou coloquial. Não obstante a informalidade das práticas dizer muito sobre qualquer pessoa, a argumentação aqui é reforçar a ética como prática e não tanto como discurso, seja em ambiente formal ou não cerimonioso.

Essas práticas podem ser as decisões sobre meio de transporte a usar, estilo de consumo em um mercado, alimentação, formas de circulação em uma cidade, se transitamos em diversos bairros ou apenas em territórios muito demarcados, como casa, trabalho, escola e shopping, por exemplo.

Além dos típicos marcadores de classe social, etnia, gênero e origem regional que nos orientam nas escolhas e ações, existem outras formas de condicionamento e pressão. Eles transpassam, e mesmo potencializam, os esquemas de condicionamentos tradicionais, embora contenham – dependendo de contextos históricos e culturais – potenciais formas de mudanças de comportamento e certo grau para uma liberdade identitária. Os algoritmos ajustam-se a estas formas de pressão pervasivas em nosso cotidiano.
As eleições brasileiras de 2022 serão uma das mais importantes de nossa história. A questão da ética enquanto ação política será um ponto relevante para as escolhas sobre o convívio entre os complexos e injustos agrupamentos sociais formadores do Brasil. Teremos uma eleição com mentiras, ficção e má-fé, principalmente entre os grupos antissistema que ironicamente vivem e sempre dependeram dele.

As redes sociais reforçaram um efeito tribal em nossa sociedade, diversamente de certa unidade global como imaginado por Marshall McLuhan. Cada vez mais só transitamos em nossas bolhas sociais, seja no mundo digital ou no mundo analógico e físico.
As relações de recordação e esquecimento terão grande importância na criação narrativa do jogo político, tanto nas redes sociais como na mídia empresarial, esta com interesses bem específicos sob a fictícia capa da imparcialidade.

Quando esquecimento e lembrança se misturam de uma forma inábil, sem entendermos os horizontes discursivos da ficção e realidade, o frenesi e o ódio instalam-se nas nossas ações. As consequências podem ser duradouras e comprometer gerações. É imperioso entendermos que estar em mundos de ficção achando que seria a realidade não é característica do mundo virtual, mas também um sistema de escape da dureza da vida no mundo físico, presente na literatura, no cinema, nos mitose nas religiões.
Nosso esforço intelectual é compreender e saber transitar entre estes dois mundos, sem os confundir. Do contrário ficaremos prisioneiros de enganos, circulando ideias e argumentos autorreferenciais, nos levando a tomar decisões que reforçam desigualdades, preconceitos, alocação desigual de recursos e estruturas de poder injustas.

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