11 de maio de 2024

Vilãs ou ferramentas essenciais?Como as telas se tornam aliadas em casa e na escola para educação de crianças e adolescentes

Pesquisa mostra que primeiro acesso à internet ocorre antes dos seis anos para 24% das crianças. Em 2015 proporção era de 11%

Férias de verão chegando e as famílias são novamente desafiadas a cuidar em casa, em tempo integral, de suas crianças e adolescentes. É o período do ano em que se torna ainda mais preocupante a tentação do mergulho sem limite nas telas, especialmente porque o primeiro acesso à internet está se antecipando no Brasil. “A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023, recém lançada, mostrou que 24% dos entrevistados relataram ter começado a se conectar à internet até os seis anos de vida, ou seja, ainda na primeira infância. Em 2015, esse percentual era de 11%”, menciona a pedagoga Dora Lúcia Cotrim Alcântara, lembrando que longe da escola a frequência e o tempo de acesso tendem a aumentar.

Especialista em direito educacional e aconselhamento familiar, Dora Alcântara elege a parceria entre escola, família e aluno como uma ferramenta imprescindível na educação para o uso saudável das telas. “Fazemos um trabalho constante de orientação e estamos sempre atentos a qualquer mudança de comportamento do aluno que mereça ser apresentada à família. É muito comum que a origem de algum sofrimento seja o acesso a conteúdos não adequados ou mesmo o alheamento das relações sociais e familiares que o uso excessivo da internet pode provocar”, diz ela, que atua como orientadora educacional do Colégio Santo Anjo, a maior escola de educação fundamental de Curitiba, com 3 mil alunos entre o berçário e o Ensino Médio.

Conduzida desde 2012 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), a pesquisa TIC Kids Online Brasil apresenta as tendências quanto ao acesso e ao uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) pela população brasileira com idade entre 9 e 17 anos.

“A pesquisa mostra tendência crescente de uso da Internet já na primeira infância. Esse fenômeno reforça a necessidade de dados robustos acerca das oportunidades e dos riscos online vivenciados por crianças e adolescentes, que orientem políticas e ações voltadas à garantia dos seus direitos e proteção”, aponta o gerente do Cetic.br|NIC.br, Alexandre Barbosa.

Atualmente, 95% da população de 9 a 17 anos é usuária de Internet no país por meio de telefone celular, televisão, computador e videogame, o que representa 25 milhões de pessoas. Mas o celular foi apontado como um dispositivo de acesso para 97% dos usuários, sendo o único meio de conexão à rede para 20% dos entrevistados. Além disso, 88% da população brasileira de 9 a 17 anos disse manter perfis em plataformas digitais. Entre 15 e 17 anos, a proporção foi de 99%.

“Internet não é bicho papão”

Quando escola e família trabalham juntas na orientação dos jovens, eles podem se beneficiar de todas as vantagens que o acesso à internet proporciona.

“Internet não é vilã, não pode ser vista como bicho papão. Estamos falando de acesso a conhecimento para a compreensão e internalização de conteúdos, do aprendizado sobre ferramentas de buscas e pesquisa, familiaridade com outros contextos culturais e sociais…Enfim, há muito o que aproveitar da rede. Mas seu uso tem que ser equilibrado. Na escola, fazemos com que o aluno use a biblioteca física, pratique esportes, brinque com os colegas, seja protagonista de sua vivência. Esse trabalho deve continuar em casa, com horários de convivência com a família, desde a interação durante as refeições até momentos de jogos, conversas e descanso, sem a presença de meios virtuais de comunicação”, diz Dora.

Habilidades digitais específicas para comunicação, socialização, busca de informação, produção e compartilhamento de conteúdo online estão entre aquelas consideradas necessárias para o melhor aproveitamento de oportunidades e para a resiliência da população até 17 anos no mundo digital.

A conectividade veio para ficar e há pesquisadores que dizem ser mais importante medir os impactos do uso do smartphone sobre a saúde mental e física perguntando o que fazemos quando a usamos, e como essas atividades podem ou não nos afetar. É o caso de Peter Etchells, professor de psicologia e comunicação científica na Bath Spa University, no Reino Unido.

“Há muitos anos os pesquisadores pedem uma abordagem que considere mais o conteúdo específico e o contexto de uso”, defende ele em artigo sobre o tema, que será explorado em seu próximo livro, acerca da ciência do tempo de tela.

“Essa ponderação faz todo sentido”, concorda Dora Alcântara, ao considerar que o uso dos quadros brancos digitais nas próprias escolas pode influir no número de horas dedicadas à internet pelos alunos, e esse uso é elogiável.

“No Colégio Santo Anjo, os professores usam a lousa digital como apoio pedagógico para conteúdos interativos. A ferramenta foi fundamental durante a pandemia, permitindo aulas ao vivo para todos os alunos. Também sabemos que vídeos e gamificação estimulam o aluno a ser protagonista no aprendizado, desde que sejam apresentados de forma afinada com o planejamento pedagógico.”