Ucrânia tem primeiro avanço contra forças russas desde agosto, em meio à indiferença após Gaza
Depois de muitos meses de uma contra-ofensiva até então pouco efetiva, a Ucrânia recuperou posições na margem do Dnipro, ocupada pelos russos. Kiev afirma que os combates têm se repetido todos os dias e “são violentos”.
As forças ucranianas “promoveram uma série de ações com sucesso na margem esquerda do rio Dnipro”, na região de Kherson (sul), informou no Facebook o comandante da infantaria da Marinha, evocando “prejuízos pesados” para o inimigo. O Estado-Maior confirmou os avanços e acrescentou que “combates violentos, operações de sabotagem, de ataque e de reconhecimento” estavam em curso na região.
O objetivo é “afastar o inimigo o mais longe possível” do rio para impedi-lo de invadir a cidade de Kherson e outras localidades da margem direita, controladas pela Ucrânia, detalhou o Estado-Maior.
Este foi o primeiro sucesso da contra-ofensiva da Ucrânia desde a retomada da cidade de Robotyne, em agosto, na região meridional de Zaporíjia. Kiev espera que esta reconquista lhe permita avançar sobre as linhas do front russas e liberar as zonas ocupadas, algo que o exército de Kiev ainda não conseguiu, face ao poder de guerra e das linhas de defesa russas.
‘Forte resistência’ russa
A tomada de posições na margem sul do Dnipro pode favorecer uma retomada do sul – mas, para isso, a Ucrânia deve envolver um maior número de homens, veículos e equipamentos nesta zona de difícil acesso, arenosa e pantanosa.
A operação se anuncia difícil. O Estado-Maior ucraniano apontou uma “forte resistência inimiga” na margem do rio ocupada pelas forças russas, dispostas em “uma linha de fortificações bastante significativa”.
Após dias de silêncio, o exército russo, por sua vez, afirmou nesta sexta-feira ter infligido “pesadas perdas’ durante toda a semana às forças que tentavam avançar na margem que ocupa, sem mencionar as performances ucranianas.
“No setor de Kherson (sul), na margem direita do Dnipro e durante uma tentativa de desembarque numa ilha, o adversário perdeu mais de 460 soldados mortos ou feridos, dois tanques e 17 veículos”, assegurou o Ministério da Defesa no seu comunicado, que se refere ao período de 11 a 17 de novembro.
Na quarta-feira, o líder da parte ocupada da região de Kherson, Vladimir Saldo, admitiu que várias dezenas ou centenas de soldados ucranianos conseguiram ancorar posições na margem esquerda do Dnipro, em particular em torno da aldeia de Krynky. Mas minimizou a importância desses avanços.
Nesta área do sul da Ucrânia, o Dnipro tem servido como linha de frente desde que o exército russo se retirou da cidade de Kherson, em novembro de 2022. A Rússia continua a bombardear diariamente a cidade e a sua região.
O governador regional, Oleksandr Prokudin, informou na quinta-feira (16) que uma mulher foi morta durante a noite. Duas outras mulheres, feridas no dia anterior em ataques russos, morreram no hospital devido aos ferimentos, segundo a mesma fonte.
Preocupações quanto à ajuda ocidental
O front russo-ucraniano está relativamente paralisado há cerca de um ano – e a guerra entre Israel e o Hamas não ajuda Kiev a manter o interesse dos seus aliados ocidentais no conflito, iniciado em fevereiro de 2022. A Ucrânia busca evitar o efeito do cansaço diante de um conflito que já dura quase dois anos, enquanto os olhos da comunidade internacional se voltam para a Faixa de Gaza.
A guerra entre Israel e o Hamas resultou numa desaceleração nas entregas de bombas à Ucrânia, disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a um pequeno grupo de jornalistas, incluindo a AFP, na quinta-feira. “Os nossos fornecimentos diminuíram”, frisou.
O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, alertou esta semana que a União Europeia não seria capaz de entregar um milhão de munições à Ucrânia antes da Primavera, como tinha se comprometido a fazer.
A Ucrânia é extremamente dependente das armas e munições que lhe são fornecidas pelos americanos e europeus, e a questão de uma redução do apoio econômico e militar é levantada em certos países.
O Kremlin, por sua vez, afirma ter reorientado a economia para a produção de armas e munições e recrutado cerca de 400 mil soldados adicionais desde o início do ano.