Transformando projetos em renascimento

O personagem de hoje é teimoso, extremamente inquieto e raro de ser encontrado. É perspicaz em tudo o que faz e, aos finais de semana, costuma investir um tempo refletindo no que aconteceu durante a semana e buscando aprofundamento. Tem paixão pelo conteúdo que pode ser aplicado e aversão por tudo aquilo que é teórico demais.

Sua outra forma de denominação é “pé no chão”, mão na massa, ou, se preferir o terraplanismo zodiacal, alguém de capricórnio. Brincadeiras à parte, é fácil identificar o nosso personagem. É aquele que, ao ser perguntado sobre algo na “firma”, logo entrega se não sabe e sai buscando o tema em seu primeiro tempo livre. Dias ou horas depois, retoma o assunto e esclarece os detalhes recém adquiridos. Detalhada a pessoa, vamos aos causos.

Operação acelerada

Durante a vida de consultor e professor, tive a oportunidade de trabalhar ou treinar muita gente e muita afinidade com este perfil. Dar aulas para os alunos é algo desafiador e instigante. Ao apresentar um assunto novo, você deve estar preparado para perguntas. As mais comuns são relacionadas às fontes para pesquisa, histórias e cases de aplicação, experiência prática e quais adaptações devem ser feitas para aplicar a teoria com êxito.

Às vezes, é comum aparecer perguntas sobre as quais você nunca parou para refletir. Lembro uma aula de Regressão Logística, que ministrava para um time de “Samurais”, e veio aquela rajada de porquês. Não sabia responder de bate pronto e tive de pedir um tempo para estudar o tema. Acabei investindo quatro horas de estudo àquela madrugada para conseguir responder ao aluno na próxima aula. Sorte que estudei, porque ele o fez, também – e isso nos rendeu um grande respeito mútuo, além de enorme compreensão sobre essa técnica que tanto gerou de resultados nos projetos futuros.

Neste caso, o líder era um ex-trainee de grande potencial numa empresa multinacional conhecida. Entretanto, poderia citar casos em todos os ambientes. Conheci líderes que aplicam em empresas pequenas, médias, startups, órgãos governamentais e afins. Apesar de serem raros, sua aparição não se concentra em um perfil específico de negócio.

Já conheci outro que conseguiu reduzir o tempo de fechamento contábil de nove para dois dias. Após conhecer o SIPOC e a Gestão Ágil, Adriano (nome fictício) foi atacando cada etapa do processo do fechamento, até reduzir o tempo. Num projeto de seis meses, realizado com disciplina e nosso suporte na aplicação, ele resolveu um problema crônico da organização. É claro, não foi fácil. Em cada etapa apareciam dois ou mais problemas que impossibilitavam o prazo de acontecer. Mas, com soluções simples, passando da reparametrização do código do ERP, até a renegociação do prazo para fechamento e cálculo das comissões dos vendedores, ele conseguiu.

“Mas era uma multinacional”, podem pensar. “Quero ver fazer em uma empresa de menor porte e cultura brasileira”. Foi exatamente o que ele fez, mas com as devidas adaptações. Ao sair do negócio em que estava, Adriano foi para uma empresa que atuava numa área não muito organizada. Com mais de 500 funcionários, teve trabalho para conseguir a virada de jogo, mas, três anos depois, deu certo novamente. Hoje, essa empresa cresceu seu faturamento em três vezes e ainda viu seu lucro triplicar. Seus valores e atitudes mais uma vez lograram êxito.

Uso intensivo do conhecimento adquirido

Característica desse tipo de profissional: usar o conhecimento adquirido até o limite. Se em um dia de chuva alguém falar que está com calor, o líder que quer aplicar rapidamente irá comentar, de forma cortês, que o problema é a umidade, que baixa a eficiência do suor para reduzir a temperatura da superfície da pele. Se alguém comentar sobre a formulação de produtos, esse perfil logo pensará em uma Planilha Excel para acelerar o processo com regras e tabelas pré-definidas. Por isso, tudo que facilitar a utilização do conhecimento na prática irá atrair sua atenção.

Por último, algo que o líder que quer aplicar consegue elaborar de forma exemplar: o time. Sua paixão por adquirir conhecimento e colocá-lo em prática é contagiante. Por isso, os membros da equipe que fizerem o mesmo irão se sentir reconhecidos e estimulados a seguir o legado. Ninguém é renegado por não saber algo, apenas se não tiver vontade de aprender. Com vontade, o liderado poderá contar com sua perspicácia e empatia para ensinar tudo o que sabe, coisa importante em sua organização.

Por meio dessa liderança, vi as maiores transformações nas organizações que trabalhei. Apesar de longe, sempre me inspiro nessa figura para levar tudo o que sabemos para o maior número de pessoas. É pela sua competência na catalisação dos resultados que esses profissionais transformam treinamentos e projetos em verdadeiros renascimento das companhias. Se você é ou conhece alguém assim, sinta-se com sorte. Tais perfis são raros.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.


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