Substituição da ONU por novas instituições para ajuda a refugiados palestinos é viável, avalia cientista político
A atuação da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) vem sendo alvo de intensas críticas e restrições, principalmente por parte de Israel, que questiona a efetividade e o impacto da agência no cenário político e social da região. Segundo André Lajst, presidente-executivo da StandWithUs Brasil, a UNRWA tem contribuído para agravar, e não resolver, o conflito israelo-palestino, alimentando uma dependência que, segundo ele, dificulta a autonomia e o desenvolvimento sustentável dos refugiados palestinos.
Criada em 1949 com o objetivo inicial de fornecer assistência temporária, a UNRWA se transformou em uma instituição permanente, atendendo milhões de palestinos em áreas como saúde, educação e moradia. Contudo, para Lajst e outros críticos, a atuação da UNRWA ao longo dos anos teria reforçado uma cultura de assistência continuada, ao invés de buscar soluções definitivas para o status dos refugiados, que permanecem, por gerações, na condição de deslocados.
Israel, que restringiu a atuação da UNRWA dentro de seus territórios e em Jerusalém Oriental, acusa a agência de fomentar uma narrativa anti-Israel e de perpetuar o conceito de “direito ao retorno”, visto pelo governo israelense como uma ameaça à sua segurança. Em resposta, a UNRWA argumenta que sua missão é atender a direitos humanos básicos dos refugiados, enquanto espera por uma solução política do conflito, uma tarefa que vai além de sua competência.
A substituição da UNRWA por outras instituições, defendida por Lajst, é vista como viável e até mesmo necessária por alguns analistas. Para eles, ONGs locais e agências internacionais independentes poderiam oferecer assistência com uma abordagem mais integrada e menos politizada. Segundo essa visão, uma reformulação das políticas de ajuda aos refugiados poderia promover maior independência e incentivar soluções que atendam tanto os interesses dos refugiados quanto a segurança e estabilidade da região.
No entanto, a transição para um novo modelo de assistência não seria simples. A UNRWA possui uma estrutura ampla e enraizada em países como Jordânia, Líbano e Síria, além dos territórios palestinos, onde atua em dezenas de campos de refugiados. Qualquer substituição demandaria um esforço coordenado entre diversas entidades internacionais, além do comprometimento de financiamento contínuo para que o suporte aos refugiados não seja interrompido.
A proposta de substituição da UNRWA gera polêmica e divide opiniões na comunidade internacional. Muitos temem que uma mudança brusca nas estruturas de apoio cause um impacto humanitário negativo para milhões de palestinos dependentes dos serviços da agência. Ao mesmo tempo, críticos da UNRWA questionam se o modelo atual é sustentável e capaz de promover uma solução para o problema dos refugiados palestinos, que se arrasta há mais de 70 anos.
O debate sobre o papel da UNRWA no Oriente Médio é mais um reflexo das complexas tensões políticas e ideológicas em torno do conflito israelo-palestino. Enquanto não houver consenso sobre uma solução política para a questão dos refugiados, a controvérsia em torno da UNRWA e de sua substituição por outras organizações promete continuar dividindo opiniões no cenário internacional.