São Sebastião: uma cidade em reconstrução após a tragédia de 2023
O litoral norte de São Paulo, palco de um Carnaval que se transformou em tragédia, ainda busca se reconstruir após as chuvas torrenciais de fevereiro de 2023. O município de São Sebastião, em especial, carrega as marcas profundas da devastação, com 64 vidas perdidas e um cenário de destruição que ecoa na memória dos sobreviventes.
A tragédia, que se assemelhou à que atingiu o Rio Grande do Sul no mesmo ano, deixou a região isolada, com as rodovias Rio-Santos, Mogi-Bertioga e Tamoios interditadas. A força da natureza se manifestou com fúria, provocando alagamentos, deslizamentos de terra e desabamentos, deixando para trás um rastro de dor e desespero.
Na Vila Sahy, o bairro mais atingido pelas chuvas, 52 pessoas perderam suas vidas. A comunidade, que se agarra à esperança de reconstruir suas vidas, convive com o medo e a lembrança da tragédia. A Defesa Civil, logo após o desastre, interditou as casas no alto do morro, alertando sobre os riscos de novas tragédias. No entanto, a realidade se mostra mais complexa.
Apesar da ordem de desocupação, muitos moradores permanecem em suas casas, desafiando a ordem judicial. A resistência se justifica, em parte, pela falta de alternativas concretas e pela profunda ligação com o local. A maioria das famílias que vivem na Vila Sahy não possui condições de arcar com o custo de um novo lar, e a promessa de apartamentos em outros locais não apaga a dor da perda e o trauma vivido.
O governo do estado, por meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), trabalha em conjunto com empresas privadas para a criação de um projeto de drenagem que vise minimizar os riscos de novas tragédias. A proposta, que inclui a remoção de 893 famílias, enfrenta a resistência da comunidade, que questiona a viabilidade da solução e teme perder seus laços com a terra.
A reconstrução de São Sebastião exige um esforço conjunto do governo, da comunidade e de organizações sociais. É preciso encontrar soluções que conciliem a segurança da população com o respeito à história e à dignidade dos moradores. O desafio é imenso, mas a esperança de reconstruir um futuro mais seguro e próspero para a cidade, e para as famílias que lutaram para sobreviver à tragédia, ainda persiste.
A história de São Sebastião se entrelaça com a história de outras cidades brasileiras que enfrentam os desafios da urbanização, da desigualdade social e da vulnerabilidade ambiental. A tragédia de 2023 serve como um alerta, um chamado à ação para que a sociedade reflita sobre as causas da tragédia e busque soluções eficazes para evitar que tragédias semelhantes se repitam. A reconstrução de São Sebastião é um símbolo da resiliência do povo brasileiro e da necessidade de políticas públicas eficazes que garantam a segurança e a dignidade de todos.