Histórias de luta, superação, aprendizado e solidariedade se entrecruzam nas diferentes frentes de atuação na rede
Como forma de celebrar a diversidade das culturas e de incentivar a garantia de direitos dos povos originários brasileiros, o dia 19 de abril foi instituído como o Dia dos Povos Indígenas, contemplando uma população que chega a 900 mil pessoas no país, segundo o censo de 2010 do IBGE. Em hospitais geridos pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), estatal vinculada ao Ministério da Educação, brotam ações de acolhimento e assistência que têm revolucionado histórias de vida e a forma como toda a sociedade deve olhar e cuidar dos indígenas.
O Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD/Ebserh), que é a terceira unidade de saúde do Brasil com maior número de atendimentos à população indígena, promoveu em comemoração à data, o 1º Simpósio Reserva & Saúde Indígena, na última sexta-feira (14), com grande presença de público.
“Eventos como esse colocam em perspectiva duas análises que são importantes para nós, do HU-UFGD. Primeiro, pontuar o que é importante para quem está sendo cuidado ao tratar a pessoa com base em suas preferências, seus valores, suas relações culturais, suas relações sociais e suas relações com a natureza; e segundo, fazer parte do combate em defesa dos povos indígenas, uma luta que é do HU-UFGD, da Universidade e da Ebserh”, destaca o superintendente do HU-UFGD, Hermeto Paschoalick.
Avanços
O evento também celebrou a Resolução nº 105, de 02 de dezembro de 2022, que assegura ao paciente indígena o direito a acompanhantes por eles indicados em tempo integral. Luzinete Lopes, esposa do Pedrinho Rodrigues, 39, cuja etnia é a Kaiwoa, da aldeia Amambai foi a escolha do paciente que está internado desde o dia 08 de abril. “Estamos sendo muito bem atendidos” afirmou a Luzinete.
Considerando que os povos indígenas são prioridade nas políticas institucionais, o HU-UFGD publicou em 2022 o Regimento Interno do Comitê de Saúde Indígena (CSI). O documento subsidia transformações na assistência em saúde aos povos indígenas e vem implementando o Plano de Metas e Ações para melhoria da qualidade assistencial, coordenado pela enfermeira Luciana Comunian – especialista em saúde indígena. Entre os avanços, ela destaca ainda que o CSI realizou levantamento de colaboradores falantes do idioma guarani para auxiliar nas interlocuções quando necessárias. E afirma que estão buscando instalar placas de identificação em idioma guarani nas dependências de maior circulação do hospital, bem como construir um espaço para atender pacientes indígenas junto aos cuidadores tradicionais.
Superação
Em São Luís, no Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA/Ebserh), Naianny Pereira, 15, indígena da etnia Guajajara, da aldeia Bacurizinho em Grajaú, terá ainda mais motivos para sorrir e agradecer no dia marcado para celebrar as conquistas e memória de seu povo. Após quatro anos de hemodiálise, ela passou pela cirurgia de transplante de rim no último 24 de março, trazendo um marco não só para a sua vida como para a do hospital. Ela é a primeira indígena transplantada no Maranhão.
Com uma boa recuperação, ela já está de alta desde o dia 14 de abril e encontra-se na Casa de Saúde Indígena, local que recebe e faz as intermediações entre os indígenas e os serviços do SUS. A mãe da Naianny, Geana Pereira Guajajara, é só gratidão a Deus e à equipe hospitalar pela oportunidade de a filha ter uma nova vida, longe das quatro horas de hemodiálise, durante três dias da semana. “Foi uma grande surpresa para nós, depois de tanto sofrimento. Chorava vendo-a naquela máquina e hoje sou muito feliz por esse milagre”, comemora.
A família precisou se mudar para São Luís para acompanhar o tratamento da Nayanny, já que o deslocamento do município de Grajaú para a capital era praticamente um dia de viagem, 563km de distância. Seguirão na capital por, pelo menos, três meses para os devidos acompanhamentos pós- transplante.
Solidariedade
A situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) declarada pelo Ministério da Saúde (MS) em 20 de janeiro deste ano, considerando a desassistência sanitária da população Yanomami no estado de Roraima, possibilitou uma parceria da Ebserh, do Ministério da Saúde e da Prefeitura de Boa Vista para oferecer a esse povo uma assistência de saúde digna. A ação tem investimentos de aproximadamente R$ 1 milhão.
Foram deslocados 19 profissionais e equipamentos para a ação humanitária por meio de atendimento via SUS, que iniciou em 10 de abril com atuação dos profissionais no Hospital Municipal da Criança. O grupo é composto por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e administrativos que estão prestando assistência aos pacientes e dando suporte na organização das informações hospitalares, na regulação interna e na gestão de leitos.
Entre os profissionais que se disponibilizaram para participar da ação está o enfermeiro especialista em Saúde Indígena do Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM-UFMT/Ebserh), Alídio Vieira Duarte. Ele relatou que nos nove anos como empregado público da Ebserh, essa foi uma das mais importantes atuações como especialista em saúde indígena. “Penso que o aprendizado será muito proveitoso para a experiência profissional, troca de saberes e práticas, além de contribuir com a organização e qualificação dos processos assistenciais, gerenciais e cuidado em saúde indígena no contexto etnocultural do processo de cuidar e fazer saúde indígena nos níveis primário, secundário e, principalmente, terciário de atenção à saúde” pontua.
O esforço solidário envolveu ainda o envio de equipamentos médicos, sendo oito camas hospitalares, três carros de emergência hospitalar, uma maca clínica, quatro monitores multiparâmetros e 11 ventiladores pulmonares mecânicos.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas. Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.