Quem cuida e acolhe as mães atípicas?

Por Andréia Ladislau

No mês em que se promove a conscientização do Transtorno do Espectro Autista (TEA), surge uma dúvida: quem cuida e acolhe as mães atípicas? Mães atípicas são aquelas que criam seus filhos com necessidades especiais, sejam elas físicas, emocionais, cognitivas ou comportamentais. Elas enfrentam desafios únicos, além da sobrecarga natural da maternidade.

Mas, como elas se cuidam e qual o tempo elas dispensam para seu autocuidado, uma vez que, grande parte delas, estão sem rede de apoio e se sentem exauridas pela rotina e atividades dos filhos?

A verdade é que, muitas mulheres entram no mundo da maternidade atípica de surpresa, no dia do nascimento de seus filhos. Algumas, poucas, adentram esse mundo um pouco antes, quando exames pré-natais (de imagem ou até mesmo testes genéticos) evidenciam que o bebê que está por vir apresenta algum tipo de comprometimento. Outras adentram esse mundo um pouco depois, quando seus filhos começam a manifestar sinais e sintomas de doenças genéticas durante a infância.

Mães atípicas veem suas vidas serem inundadas por incertezas, inseguranças e medos. “Por que meu filho?”, “O que esperar do futuro?” são apenas alguns exemplos dos muitos pensamentos inquietantes e angustiantes que ouvimos, e que se fazem estampados nos olhos dessas mulheres que, muitas vezes, abdicam de suas próprias vidas em prol da rotina de cuidados de seus filhos.

São mulheres que se transmutam em força e coragem para dar aos filhos todo suporte necessário para que tenham a melhor qualidade de vida possível dentro de suas condições. São mães que se desdobram para cuidar da casa (e muitas vezes de outros filhos) e conciliar as várias consultas médicas e terapias de estimulação.

São mães que saem de casa com horas de antecedência porque precisam pegar ônibus, metrô e trem para conseguir levar as crianças às consultas. São mães que saem de casa carregadas de bolsas contendo fraldas, sondas, cateteres e mamadeiras.

Mães essas que despendem grande esforço físico para empurrar seus filhos em cadeiras de rodas pelas ruas cheias de buracos. Nenhum desses esforços é romântico ou poético, mas exaustivo. Até porque grande parte dessas mulheres são, inclusive, mães solo. São mulheres fortes, movidas pelo amor, capazes de transformar fardo em propósito.

São mães que, muitas vezes, se tornam invisíveis aos olhos da sociedade. Mães que se dedicam tanto aos seus filhos que muitas vezes acabam esquecendo de si mesmas como mulher.

Mulheres que frequentemente sentem-se culpadas por não conseguirem oferecer mais aos seus filhos. Mães sem apoio, angustiadas por não terem com quem compartilhar suas angústias, e desabafar o quanto se sentem exaustas. Sofrem de exaustão física e mental.

A sobrecarga mental da mãe atípica é atípica mesmo. Inclusive, há pesquisas que comparam a maternidade atípica com a situação dos soldados em campos de guerra. Nessa fase, é comum muitas mães se sentirem exaustas, ansiosas e até deprimidas.

Enfim, como ajudar essas mães? Compreender suas necessidades e oferecer suporte emocional e prático sempre que possível, ajuda muito. Mostre a ela que se importa e que está disponível para ajudar. E se você é uma mãe atípica, saiba que não está sozinha.

Cuidar de si é essencial para cuidar dos filhos, como por exemplo separar um tempo para alegria e relaxamento. Aqui, tampouco importa quantidade, mas, sim, qualidade. É importante que essas mâes busquem ajuda sempre que necessário e tentem ter uma rede de apoio, seja de familiares, amigos ou profissionais de saúde, pois isso fará toda a diferença na sua jornada.    

        Dra. Andréa Ladislau é  psicanalista


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