Propaganda eleitoral inicia em meio a temores de manipulação por Inteligência Artificial
A partir da próxima sexta-feira (16), os brasileiros serão novamente bombardeados pelas tradicionais propagandas eleitorais gratuitas nas emissoras de rádio e TV, agora com uma novidade que promete esquentar o debate sobre a ética na política: o uso da inteligência artificial (IA). A tecnologia, capaz de gerar imagens e sons indistinguíveis da realidade, entra em cena em um cenário onde as regras ainda estão em fase inicial de elaboração e há temores crescentes de manipulação dos eleitores.
Com a chegada das eleições municipais de outubro, o Brasil enfrenta seu primeiro pleito diretamente impactado por ferramentas de IA, o que despertou uma resposta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em um movimento inédito, o tribunal aprovou normas para regular o uso de conteúdo multimídia sintético gerado por essas tecnologias, impondo que qualquer uso de IA nas propagandas eleitorais venha acompanhado de um alerta explícito para os eleitores.
No entanto, especialistas apontam que, apesar da tentativa de regulamentação, o Brasil ainda está muito atrás de outros países em termos de legislação específica para IA. “Essas regras são um primeiro passo importante, mas estamos lidando com uma tecnologia que evolui em ritmo acelerado e que pode ser usada de maneiras ainda desconhecidas”, comenta Marina Fontes, professora de direito eleitoral da Universidade de São Paulo. “A falta de uma legislação robusta pode abrir espaço para abusos.”
A decisão do TSE é vista como uma tentativa de mitigar os riscos de desinformação, mas críticos alertam para a possibilidade de que a regulamentação não seja suficiente. Em eleições passadas, a proliferação de fake news e o uso indevido de redes sociais já se mostraram problemáticos. Agora, a inclusão de deepfakes e outras formas de manipulação sintética pode levar a um novo patamar de engano, dificultando ainda mais o discernimento dos eleitores.
Além das preocupações éticas e legais, há também o impacto psicológico sobre os eleitores. “A capacidade de IA de criar conteúdos extremamente realistas pode confundir o eleitorado, que já enfrenta dificuldades em distinguir o que é verdadeiro ou falso no ambiente digital”, alerta Leonardo Rocha, psicólogo especializado em comportamento eleitoral. “Isso pode ter um efeito devastador na confiança pública no processo eleitoral.”
As propagandas eleitorais seguirão até o dia 30 de setembro, em um período que promete ser de intenso escrutínio tanto por parte da mídia quanto das autoridades eleitorais. Com a proximidade do início das campanhas, cresce a expectativa sobre como os candidatos e partidos políticos irão utilizar essa nova ferramenta e quais serão as respostas do TSE diante de possíveis abusos.
Enquanto isso, os eleitores são deixados com a tarefa de navegar por um terreno cada vez mais complexo, onde a linha entre o real e o sintético se torna cada vez mais tênue. A promessa de uma campanha eleitoral limpa e transparente é colocada à prova, e o país aguarda para ver como a democracia brasileira enfrentará este novo desafio tecnológico.