Primeiro transplante adulto de medula óssea do DF, 100% SUS, é realizado pelo HUB
Diagnosticado commieloma múltiplo e amiloidose, Gilmar Moreira Bomfim, de 48 anos, é o primeiro paciente a realizar o transplante de medula óssea pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Distrito Federal.
O mieloma múltiplo é um câncer da medula óssea considerado ainda incurável, que acomete o plasmócito, célula responsável por sintetizar os nossos anticorpos. Em cerca de 15% dos pacientes o mieloma múltiplo e a amiloidose são diagnosticados juntos, pois as células do mieloma produzem cadeias leves anormais que se depositam nos tecidos, causando disfunções ou falência nos órgãos.
Trabalhador da construção civil, Gilmar faz acompanhamento no Hospital Universitário de Brasília da Universidade de Brasília (HUB-UnB) desde 2019 quando procurou um otorrinolaringologista por conta de um incômodo no ouvido e acabou descobrindo um nódulo na garganta.
“Foi feita a biópsia desse nódulo e, no primeiro momento, os médicos da hematologia e da otorrino constataram que era uma amiloidose. Retiraram esse nódulo maior da minha orofaringe, porém ainda permaneceram alguns nódulos pequenos e a hematologia indicou tratamento que incluía o transplante de medula, pois logo depois, eu fiz outra biópsia e foi constatado o mieloma múltiplo”, comenta o pedreiro.
A chefe da unidade de hematologia e supervisora da residência médica de hematologia do HUB, professora Flávia Xavier, explica que a alta quantidade de quimioterapia recebida por Gilmar poderia matar a célula-tronco dele por muitos meses.
“A célula-tronco é quem produz o sangue, então ele ficaria com anemia, imunidade baixa, plaqueta baixa e assim com risco de sangramento e infecção. Ao salvá-la antes da quimioterapia, é possível que apenas as células doentes sejam atingidas. Ao invés do paciente passar meses sem o sangue ser produzido, ele vai ficar mais ou menos uma semana, no máximo 10 dias. É uma forma de você diminuir os efeitos colaterais e dar o tratamento para o paciente,” detalha a médica.
Em todo mieloma considerado jovem ou elegível ao transplante de medula, após induzir e conseguir uma resposta, é realizado o transplante autólogo, aonde as células vêm do próprio paciente a ser transplantado. Atualmente, o HUB acompanha 100 casos de mieloma múltiplo e esse é o primeiro transplante de medula realizado no hospital, sendo o primeiro local totalmente SUS a fazer transplante deste tipo em adultos no Distrito Federal.
“O transplante de medula autólogo permite que você salve a célula-tronco do paciente, que chamamos de célula-mãe, capaz de produzir todo o sangue antes da quimioterapia para tentar eliminar o resto da doença, melhorando a resposta ao tratamento e sobrevida global do paciente. Esta é uma arma importante no tratamento de mieloma múltiplo, que agora temos no HUB”, acrescenta Flávia Xavier.
A Gerente de Ensino e Pesquisa, Dayde Mendonça, destaca que a realização deste procedimento é também importante para formação e habilitação dos residentes em Hematologia e Hemoterapia do HUB que no segundo ano de especialização passam a realizar o acompanhamento ambulatorial e precisam dominar o manejo de pacientes transplantados e candidatos à transplante de medula.
Referência no DF, o HUB já realiza transplantes em órgãos como rim e córnea e, agora, acrescenta mais esse procedimento. “Este é um grande marco para nossa instituição e para o SUS do Distrito Federal. Com o apoio e parceria da UnB e Ebserh consolidaremos o nosso centro de transplantes, ofertando cada vez mais tratamentos de ponta para a população”, finaliza a Superintendente do HUB, Elza Noronha.
Etapas do transplante
Gilmar é paciente regulado pela central de transplantes, Na primeira fase, chamada de mobilização, ele recebeu uma medicação para “soltar” a célula-tronco da medula óssea que está dentro do osso para o sangue periférico (circulação).
Na quinta-feira (30/11), a célula tronco do Gilmar começou a ser mobilizada. No dia 4 de dezembro, foi feito um acesso central no paciente (cateter) e a coleta da célula-tronco em uma máquina, que a separa do resto do sangue por gradiente/densidade e a célula-tronco é colocada em uma bolsa de sangue separada.
Na terça-feira (5) iniciou-se a etapa de condicionamento, em que o Gilmar recebeu uma quimioterapia em altas doses para tentar realmente atingir essas células residuais da doença de base, que no caso dele é o mieloma.
Após 24 horas, período para passar o efeito dessa quimioterapia, a célula-tronco que estava guardada é colocada de volta na circulação do paciente em uma infusão pelo cateter. A célula-tronco é atraída de volta para o nicho dela e por volta de 11 a 12 dias, ao se fixar, produz o sangue novamente. Durante esse período Gilmar se mantém internado esperando a “pega da medula”, que deve ocorrer por volta do dia 17 ou 18 de dezembro.
Voltando a produzir sangue, Gilmar deve recuperar sua imunidade e recebe alta, iniciando a fase do pós-transplante, momento em que ele deve ser revacinado.
O transplante autólogo é indicado para diagnóstico de mieloma múltiplo, amiloidose, linfomas de células T, linfomas de células B e alguns subtipos de leucemia aguda.
Sobre o HUB-UnB
O Hospital Universitário de Brasília, da Universidade de Brasília (HUB-UnB), faz parte da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Rede Ebserh) desde janeiro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação. No HUB, a unidade de hematologia e hemoterapia (UHH) foi iniciada em 2014 e a residência médica de hematologia e hemoterapia em 2019. Hoje a UHH, chega a realizar mais de 500 consultas mês.