Pernambucana chega ao 4º ouro e potiguar é campeã duas vezes em 24 horas no Mundial de natação paralímpica de Manchester

Mundial de natacao paralimpica, Manchester, Lucilene durante as classificatorias

Mundial de natacao paralimpica, Manchester, Lucilene durante as classificatorias . Foto: Douglas Magno / CPB

Seleção Brasileira da modalidade tem 36 pódios no Reino Unido e ocupa quarto lugar no quadro de medalhas em competição que se encerra neste domingo, 6

A potiguar Cecília Araújo, da classe S8 (limitação físico-motora) e a pernambucana Carol Santiago, da classe S12 (baixa visão), conquistaram mais duas medalhas de ouro para o Brasil no Mundial de natação paralímpica de Manchester, Inglaterra, nesta sexta-feira, 4, antepenúltimo dia de competição.

O campeonato começou na segunda-feira, 31, e reúne 538 competidores de 67 países até o domingo, 6, no Manchester Aquatics Centre. O Brasil é representado por 29 nadadores de 10 estados (CE, MG, PA, PE, PR, RJ, RN, RS, SC e SP), sendo 15 mulheres e 14 homens. Com 36 pódios em todo o torneio (12 ouros, 10 pratas e 14 bronzes), o país ocupa a quarta colocação no quadro de medalhas, mas tem mais conquistas do que a líder Itália, que faturou 17 ouros, nove pratas e oito bronzes – 34 no total. Os chineses estão em segundo, com 14 ouros, 16 pratas e 10 bronzes, seguidos pela Ucrânia (14 ouros, 12 pratas e 14 bronzes). 

Além dos títulos de Cecília e Carol, o Brasil subiu ao pódio mais seis vezes nesta sexta-feira, com a paraense Lucilene Sousa, bronze nos 100m livre S12; a mineira Patrícia Pereira, da classe S4 (limitação físico-motora), prata nos 50m livre; o fluminense Daniel Mendes, prata nos 50m livre S6 (limitação físico-motora); o paulista Gabriel Cristiano, bronze nos 50m livre S8; a gaúcha Susana Schnarndorf, bronze nos 50m livre S3 (limitação físico-motora) e o revezamento misto 4x100m medley – 34 pontos, bronze. Com isso, no quinto dia de disputas, o país somou dois ouros, duas pratas e quatro bronzes. 

Cecília conquistou seu segundo ouro no Reino Unido em um período de 24 horas. Após subir ao lugar mais alto do pódio nos 100m livre na quinta-feira, 3, ela se sagrou tricampeã mundial (Cidade do México, Ilha da Madeira e Manchester) nos 50m livre da classe S8, com o tempo de 30s03, novo recorde das Américas. Ela superou a anfitriã britânica Alice Tai (30s97) e a chinesa Shengnan Jiang (31s07).

“Faltaram três centésimos para eu chegar à marca de 29s, que é a minha meta. Mas fico feliz porque sei que vou conseguir em breve. Tive algumas falhas na prova. Então, os 29s estão dentro de mim. Esse tempo é real. A gente sempre quer mais, mas tenho que agradecer por ter feito o melhor tempo da vida e conquistado mais um título”, disse a potiguar, que teve paralisia cerebral na hora do nascimento, o que limita os seus movimentos. Além dos dois ouros, Cecília também foi bronze nos 400m livre na Inglaterra.

Carol Santiago disputou sua sexta prova em cinco dias de Mundial e subiu ao pódio em todas. Foram quatro ouros (100m livre, costas e borboleta, além dos 50m livre), uma prata (100m peito) e um bronze (revezamento 4x100m medley – 49 pontos). A última medalha dourada até aqui veio nos 100m livre, com o recorde da competição: 58s87. O bronze também foi brasileiro. Lucilene Sousa chegou na terceira posição ao registrar a marca de 1min01s54. A prata ficou com a ucraniana Anna Stetsenko (1min00s83).

“Acordei me sentindo um pouco mais cansada hoje. Confesso que foi mais psicológico do que fisicamente. O programa é muito longo. Mas, à tarde, já estava mais organizada. Comemorei com o Léo [Leonardo Tomasello, técnico], porque eu fiz bem a primeira metade da prova. Ele me disse que estou no caminho certo e posso nadar ainda melhor nos Jogos Paralímpicos de Paris”, explicou a pernambucana, que nasceu com síndrome de Morning Glory, alteração congênita na retina que reduz seu campo de visão.

Com mais este feito, Carol é, até o momento, a atleta feminina com maior número de medalhas na competição. O chinês Jincheng Guo (S5) também tem seis pódios. 

“Estou muito feliz com o resultado. Essa é a minha principal prova. Uma medalha individual é diferente de uma conquistada no revezamento. Nos 50m livre, o bronze escapou por pouco, mas, nos 100m, eu não deixei. Ela veio para o Brasil”, completou Lucilene, que nasceu com atrofia no nervo ótico, o que resultou em baixa visão.

Nos 50m livre da classe S4 (limitação físico-motora), a mineira Patrícia Santos conquistou a prata ao cumprir a distância em 40s34, sendo superada apenas pela alemã Tanja Scholz, recordista mundial da prova. O bronze ficou com a australiana Rachael Watson (40s59), mas, por dois centésimos, não foi para a fluminense Lídia Cruz, que terminou a disputa na quarta colocação (40s61). Este foi o terceiro pódio e a segunda prata de Patrícia em Manchester. Antes, ela já havia sido segundo colocada com a equipe do revezamento misto 4x50m livre – 20 pontos e bronze nos 150m medley SM4.

“Só tenho que agradecer à Lídia. Sempre tem aquele lance de rivalidade, mas eu não vejo por esse ângulo. Uma torce pela outra. Ela me resgatou em um momento em que não estava bem. Disse para eu respirar que nem sempre as coisas dão certo. E é exatamente isso. Queria também mandar um beijo para Joaninha [Joana Neves, nadadora paralímpica], porque ela sempre me inspira e incentiva”, destacou Patrícia, que ficou tetraplégica após ser baleada durante um assalto.

Outro brasileiro que chegou ao seu terceiro pódio no Reino Unido foi o fluminense Daniel Mendes, prata nos 50m livre S6 ao fazer 29s74. Na mesma prova, o catarinense Talisson Glock (30s40) quase faturou o bronze, mas ficou 28 centésimos atrás do francês Laurent Chardard. O ouro foi do italiano Antonio Fantin, que estabeleceu o novo recorde da competição (28s59).

“Eu me senti bem já nas eliminatórias, pela manhã. Pelo que eu estava nadando, sabia que podia pegar alguma medalha. A prova é muito disputada. Qualquer vacilo, pode deixar a gente fora do pódio. mas deu tudo certo e estou muito feliz”, pontuou o nadador, que tem paraparesia espástica, doença que limita os movimentos dos seus membros inferiores.

Campeão nos 50m livre na classe S8 no último Mundial, o paulista Gabriel Cristiano faturou o bronze em Manchester, o seu segundo no Reino Unido. Nesta noite (tarde no Brasil), ele completou a distância em 27s32 e foi superado pelo grego Dimosthenis Michalentzakis (27s01), bem como pelo norte-americano Noah Jaffe (27s14). 

“Eu vim para ganhar essa prova, mas tenho priorizado os 100m [prova em que também foi bronze na Inglaterra]. Os 50m, infelizmente, saíram do programa dos Jogos Paralímpicos. Fiquei frustrado. Só que estou sempre disposto a nadar. Não era o resultado que eu queria, mas estou feliz com o bronze”, avaliou Gabriel, que  foi atropelado por um trem no Guarujá, onde morava, o que ocasionou a amputação do seu braço esquerdo. 

Susana Schnarndorf foi outra medalhista de bronze brasileira nesta sexta-feira, com a marca de 55s52 nos 50m livre S3. O pódio foi composto pela espanhola Marta Fernandez (42s51) e a britânica Ellie Challis (47s83). A paulista Maiara Barreto ficou em quinto lugar (1min02s11).   

“Tentei focar só em mim. Nem olho para o lado para focar no meu nado. Nem sabia a minha posição na hora em que cheguei. Estou muito feliz. É muito bom ajudar o Brasil a subir no ranking”, afirmou a gaúcha, que tem a doença MSA (múltipla falência dos sistemas). Essa foi a segunda medalha da atleta em Manchester. Na quinta-feira, ela foi bronze nos 50m costas. 

Para fechar a noite de medalhas brasileiras, o time do revezamento misto 4x100m medley – 34 pontos ficou com o bronze. Na final, a equipe foi formada por Mariana Gesteira (S9), Ruan Souza (S9), Cecília Araújo (S8) e Gabriel Cristiano (S9), atletas que cumpriram a prova em 4min35s30. O ouro foi da Espanha (4min31s92) e a prata, da Itália (4min34s45).

Entre os outros brasileiros finalistas nesta quinta-feira, a mineira Laila Suzigan terminou a final dos 100m peito SB5 em sexto lugar, com o tempo de 1min58s10. O também mineiro Gabriel Araújo foi o único da classe S2 na final dos 50m livre, ou seja, com limitações físicas maiores do que os oponentes da S3 – quanto maior o número da classe, menor é o comprometimento. Ficou em quinto, com a marca de 51s84. O carioca Douglas Matera encerrou os 100m livre S12 em quarto (54s98). Na mesma prova, mas na classe S11 (cegos), o catarinense Matheus Rheine ficou em sétimo (1min01s54).

Confira a programação dos brasileiros neste sábado, 5 (horários de Brasília):

50m costas S2 – 6h01 – eliminatórias 
Bruno Becker e Gabriel Araújo 

200m livre S5 – 6h39 – eliminatórias 
Lidia Cruz

100m costas S9 – 7h13 – eliminatórias
Mariana Gesteira

100m livre S10 – eliminatórias
Phelipe Rodrigues (7h42)
Ruan Souza (7h45)

200m livre S3 – 15h05 – final direta 
Edênia Garcia, Maiara Barreto e Susana Schnarndorf

Revezamento misto 4x100m medley S14 – 16h21 – final direta

Revezamento misto  4x100m livre 49 pontos – 16h36 – final direta 


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