Parlamentares defensores da vida que apoiam agrotóxicos abortivos
A recente aprovação do “PL do Veneno”, que flexibiliza as normas para o uso de agrotóxicos no Brasil, expõe uma contradição gritante no discurso de alguns parlamentares. Um estudo da Repórter Brasil revelou que 51 dos 56 deputados que assinaram o “PL do Estupro”, projeto de lei que criminaliza o aborto em todos os casos, inclusive em situações de estupro, também votaram a favor da lei que facilita a liberação de agrotóxicos. Essa aparente contradição levanta sérias questões sobre a coerência e o compromisso com a vida por parte desses parlamentares.
O “PL do Estupro”, como ficou conhecido, equipara o aborto legal após 22 semanas ao crime de homicídio, ignorando o sofrimento da mulher que passou por uma situação traumática como o estupro. A justificativa para essa postura se baseia em uma visão moral conservadora que coloca a vida do feto acima dos direitos da mulher e da sua saúde física e mental.
Por outro lado, o “PL do Veneno” facilita o acesso a agrotóxicos que podem causar danos graves à saúde humana, incluindo abortos espontâneos e malformações fetais. Estudos científicos comprovam que a exposição a pesticidas durante a gravidez pode ter impactos devastadores sobre o desenvolvimento fetal, levando a problemas como baixo peso ao nascer, malformações congênitas e até mesmo morte.
A médica e sanitarista Lia Giraldo, especialista nos efeitos dos pesticidas sobre a saúde de mulheres grávidas e bebês, alerta para a hipocrisia presente nessa postura: “Chama a atenção que o mesmo grupo político e ideológico que é conservador, e tem discurso de defesa da vida, é o que apoia as situações que colocam a vida em risco”.
Essa contradição revela um desprezo pela ciência e pela saúde pública. A defesa da vida deve ser pautada em evidências científicas e no respeito aos direitos humanos, não em dogmas ideológicos que colocam em risco a vida de mulheres e crianças. A aprovação do “PL do Veneno” demonstra uma clara falta de compromisso com a saúde pública e um desrespeito aos direitos reprodutivos das mulheres.
A hipocrisia parlamentar, ao defender a vida de um feto enquanto facilita o acesso a substâncias que podem causar danos irreversíveis à saúde de mulheres e crianças, precisa ser combatida. É essencial que a sociedade civil se mobilize para pressionar os parlamentares a defenderem políticas públicas que promovam a saúde, a segurança e o bem-estar de todos os cidadãos, sem distinção.
A defesa da vida não pode ser seletiva. A vida humana, em todas as suas etapas, merece ser protegida. A aprovação do “PL do Estupro” e do “PL do Veneno” demonstra um desprezo pela saúde pública e pelos direitos humanos, e é urgente que a sociedade se levante contra essa postura hipócrita e perversa.