Os bancos brasileiros estão preparados para um mercado financeiro sem fronteiras?

Por Wagner Martin

O Open Finance é uma realidade. Está em franco crescimento e tornará a gestão de finanças mais acessível, transparente e inclusiva. O movimento já está revolucionando a forma como as pessoas gerenciam suas finanças, além de oferecer novas opções de investimento e permitir que as pessoas tenham mais controle sobre seus ativos.

Com a evolução da tecnologia e a crescente demanda por soluções financeiras mais inclusivas, estamos caminhando para um sistema descomplicado e integrado, inclusive internacionalmente.

Mundialmente, a cidadania digital é uma tendência. Na Estônia, por exemplo, você já não precisa, necessariamente, estar lá, presencialmente, para ser um cidadão. Ser um cidadão digital significa ter acesso a uma ampla gama de serviços públicos e privados online, como votação eletrônica, declaração de impostos, assinatura de documentos digitais etc. Assim, lá, os cidadãos hoje já contam com um vasto acesso a informações sobre o governo e a sociedade em geral, além de conseguirem participar da tomada de decisões através de meios digitais.

Em termos globais, vale também considerar que no período pandêmico cresceu o número de pessoas que passaram a trabalham para empresas estrangeiras e, por isso, precisam transacionar valores internacionalmente. Sem contar o alto intercâmbio que já ocorre entre pessoas que enviam ou recebem valores, como, por exemplo, pais e filhos que estudam ou trabalham em países estrangeiros ou, até mesmo, investidores que queiram investir em moedas internacionais a longo prazo.

Para suportar a realidade desse futuro muito próximo, já é possívelencontrar no mercado soluções tecnológicas prontas para o que vai ser um dos grandes ganhos do Open Finance, as transferências internacionais mais ágeis e sem burocracias. Muitas empresas, interessadas em surfar essa onda e expandir suas operações para outros mercados, já estão se preparando por meio da implementação dessas soluções com o intuito de tirarem proveito de todos os movimentos de incentivo ao Open Finance, realizados hoje pelo Banco Central.

Dentro desse movimento, o onboarding financeiro internacional é a porta de entrada para isso. Com a globalização da economia e o aumento do comércio internacional, esse onboarding é o primeiro passo a ser implementado. Tanto que já é possível encontrar no mercado tecnologias que viabilizam o gerenciamento de diferentes processos de acordo com o país onde o usuário esteja localizado, com integrações prontas para uso que se adaptam às regulamentações de cada país em questão.

Outro movimento que já ganha a atenção das empresas que possuem operações em outros países e que poderá ser viabilizada com a expansão do Open Finance, são as transferências internacionais instantâneas, que poderão ser realizadas de forma muito rápida, para diversos países. A afirmação é comprovada pela iniciativa do Banco Central ao criar o Pix Internacional, que certamente modernizará ainda mais o setor financeiro brasileiro, além de torná-lo mundialmente acessível e inclusivo. Nesse sentido, a nova legislação do Banco Central sobre transferências internacionais também indica a reciprocidade do Brasil ao programa de transferência P2P (FedNow) do Federal Reserve, além de todas as aberturas já sinalizadas na América Latina e na Europa.

Em termos regulatórios, a tendência é que, no Brasil, o ocorrido com o Open Banking, que foi a ponta do iceberg para um movimento mais amplo que é o Open Finance, se repita e que a legislação continue acompanhando e caminhando ao lado do lançamento de outras funcionalidades. Como é o caso, por exemplo, do Pix Parcelado. O mesmo acontecerá com as transferências internacionais, a expectativa é que a regulamentação ocorra de forma rápida, uma vez que o sistema que opera esse tipo de transação instantânea já está a pleno vapor aqui no Brasil.

Vale também ressaltar que essa expansão internacional trará diversas oportunidades de negócio para empresas de todos os segmentos que quiserem obter vantagens do setor financeiro. Hoje, falamos sobre Pix e transferências instantâneas, mas, em breve, contratos inteligentes de criptoativos, Blockchain e outras formas de transação estarão em pauta.

De acordo com dados do Banco Central, o volume de transferências pessoais para o exterior cresceu 148% em 10 anos. Somente entre pessoas físicas, o volume saltou de US$ 86 milhões, em 2012, para US$ 214 milhões, em 2022. É quase impossível não esperar uma gama de novas oportunidades de negócio que serão criadas a partir da implementação do Pix Internacional. Mas para isso, é preciso que as instituições financeiras estejam preparadas, não só tecnologicamente, mas também por meio da oferta de plataformas adequadas à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) que busquem maximizar e gerar novos negócios, novas facilidades, diminua a fricção entre as transações e que possibilite a melhora da usabilidade nas operações crossborder para os clientes.

Há diversas novas necessidades a serem supridas pelo mercado financeiro e as instituições nacionais brasileiras detém toda a capacidade – e a sede necessária – para buscar em outros países novas formas de captação de recursos. No momento, contudo, poucos players estão preocupados em proporcionar aos seus clientes ferramentas realmente vantajosas que os permita explorar facilmente todas as vantagens do Open Finance que, em breve, será global e compartilhado entre instituições de diversos países.

Fato é que, as instituições financeiras que primeiro obtiverem um onboarding digital adequado, em compliance com a LGPD, e contarem com uma boa UX para prover as melhores opções para os seus clientes, sairão na frente na corrida da competitividade proporcionada pelo Open Finance. E você, já parou para pensar se a sua instituição está preparada para isso?

*Wagner Martin é VP de Negócios da Veritran. O executivo possui mais de 15 anos de experiência no setor de tecnologia, com amplo conhecimento de meios de pagamentos digitais, serviços comerciais, autogestão de clientes e operações de vendas e pós-venda.


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