Jogadora alemã rebate fala de Milene sobre salários de homens e mulheres no futebol

Eunice Beckmann é contrária à ideia de que jogadoras dos EUA deveriam ganhar mais do que os homens por terem mais títulos

A Copa do Mundo Feminina avança rumo às quartas de final e a discussão sobre a diferença salarial entre homens e mulheres também continua. Depois de Milene Domingues dizer que as jogadoras da seleção dos EUA deveriam receber mais do que os homens, por obterem resultados melhores e serem mais populares, o Wettbasis.com repercutiu a fala da brasileira com a jogadora alemã Eunice Beckmann.

Atacante do Viktoria Berlin, ela rebatou o raciocínio da ex-jogadora brasileira, atualmente comentarista e convidada do quadro “Elas no Apostagolos”, que abre espaço para grandes histórias e personagens do esporte feminino.

– Não faz sentido para mim dizer que os homens têm de ganhar menos. No máximo, as mulheres deveriam ganhar mais. Porque eu não invejo quem ganha mais dinheiro, isso é uma coisa. A outra é que essa questão de resultado é relativa. Os homens vendem mais. O esporte é entretenimento. E se o jogador consegue vender mais camisas que as mulheres, por exemplo, é justo que ele receba por isso – afirmou, para explicar em seguida:

–  É como ficar na frente da câmera da TV e não dizer nada, mas ter uma audiência de 3 milhões de espectadores. Eu também gostaria de receber meu dinheiro assim, mesmo que não tendo feito nada, entre aspas. É assim com os homens.

Copo meio cheio

Beckmann ressaltou que ainda existe muito conservadorismo e preconceito sobre as mulheres no futebol, ainda que a situação tenha melhorado muito ao longo dos anos.

– Você não deve esquecer que o futebol costumava ser um esporte masculino e, infelizmente, muitas pessoas ainda pensam nisso de maneira muito conservadora. Agora é um esporte masculino e feminino e o futebol feminino está se desenvolvendo bem. Se você olhar para outros esportes, as coisas são muito piores, por exemplo, o atletismo na Alemanha – lembrou.

– Os atletas ficariam felizes se ganhassem dinheiro, como as mulheres do Wolfsburg ou do FC Bayern têm ganho. Então eu vejo essa questão um pouco diferente. Espero que um dia as mulheres ganhem tanto quanto os homens, mas não esqueça onde você estava e onde está agora. Você tem que dizer que já se desenvolveu muito, muito bem.

Sem rivalidade entre gêneros

Para a jogadora, com passagens por seleções de base da Alemanha e temporadas no Bayern de Munique no currículo, o mais importante é o futebol feminino olhar para si, se comparações ou rivalidades com o futebol praticado pelos homens.

– Se eu vou ao estádio e, por exemplo, os homens do Bayern estão jogando contra o Dortmund na Allianz Arena, o estádio está simplesmente cheio. É por isso que os jogadores são pagos tão bem. Nosso objetivo no feminino deve ser encher os estádios também e não apenas uma vez por ano, mas de preferência em todos os jogos, em casa ou fora – frisou.

– Não devemos olhar para quanto o homem ganha e quanto a mulher ganha ou torcer para que o homem de repente ganhe menos que a mulher. Essa comparação não deve acontecer. Devemos sim pensar que ganhar mais deve ser o nosso objetivo em algum momento.

Popularidade intacta

Assim como a seleção brasileira, a seleção alemã caiu na Copa do Mundo Feminina ainda na primeira fase. Com um agravante, no caso da equipe da Alemanha: trata-se de uma das mais tradicionais do futebol feminino, com dois títulos mundiais no currículo.

O resultado ruim levantou questionamentos sobre qual será o seu impacto na popularidade do futebol feminino na Alemanha. Para Eunice Beckmann, o fracasso da Alemanha na Copa do Mundo não vai afetar o esporte no âmbito dos clubes.

– É claro que a derrota não terá nenhuma influência positiva agora. Mas a eliminação precoce das mulheres alemãs na Copa do Mundo não é o fim do mundo para a Bundesliga feminina. Não vejo dessa forma agora. Vai continuar, a Liga dos Campeões ainda está aí. Duas equipes da Bundesliga se classificaram lá – lembrou.

– Os homens também foram eliminados na fase de grupos (na Copa do Mundo do Catar) e os estádios ainda estavam cheios depois. Portanto, não acho que isso terá um impacto negativo na Bundesliga feminina.


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