Inspirado no xadrez e na filosofia, escritor paranaense lança livro de mistério e fantasia a partir de um assassinato no Monte Roraima
A interseção entre a literatura, a filosofia e o xadrez pode parecer um espaço inusitado, mas para Edgard Zanette, essa mistura se transforma em uma obra fascinante. O escritor paranaense, que já é conhecido por sua trajetória acadêmica como pós-doutor em filosofia e campeão brasileiro de xadrez blitz, desbrava novos territórios na ficção com seu romance de estreia, “Assassinato no Monte Roraima”. Publicado pela Editora CRV, a obra não é apenas um mistério; é uma exploração profunda das questões que permeiam a busca por significado, conexão e felicidade.
O Monte Roraima, uma das formações geológicas mais icônicas da América do Sul, serve como um pano de fundo vibrante e enigmático para a narrativa de Zanette. Conhecido por suas altas paredes verticais e paisagens impressionantes, o monte não é apenas um local de beleza natural, mas também um símbolo de mistério e aventura. Na tradição de grandes romances de mistério, Zanette utiliza essas características para criar um ambiente que cativa o leitor desde as primeiras páginas.
Zanette revela que sua própria paixão pela exploração do Monte Roraima foi uma das principais forças motrizes para a criação desta história. “Sempre quis subir e explorar o Monte Roraima. A ideia de escrever um romance surgiu dessa vontade de transformar uma experiência pessoal em algo que pudesse ressoar com os outros”, comenta o autor em entrevistas. O resultado é uma obra que combina elementos de fantasia e mistério, lançando o leitor em uma narrativa recheada de reviravoltas e questionamentos.
A história começa com um assassinato intrigante que serve como catalisador para a trama. Enquanto uma força sombria paira sobre o Monte Roraima, os personagens da narrativa se vêem envolvidos em uma teia de intriga onde o mal não é apenas uma presença física, mas também uma reflexão filosófica sobre o que significa ser humano.
Os protagonistas do livro são obrigados a confrontar não apenas o assassino, mas também suas próprias motivações e a moralidade de suas ações. Esse aspecto filosófico é uma marca registrada de Zanette, que se utiliza do xadrez — uma metáfora para a vida e suas escolhas — para construir personagens complexos e reflexivos. A cada movimento, seja no tabuleiro ou na vida, os personagens devem considerar suas opções e as consequências que delas advêm.
Para Zanette, o xadrez não é apenas um passatempo; é uma filosofia que permeia sua visão de mundo. Em sua narrativa, as peças do xadrez tornam-se metáforas para os protagonistas e suas interações. Cada jogador deve ler o tabuleiro, assim como os personagens precisam interpretar suas circunstâncias e se antecipar aos movimentos dos outros.
No livro, há uma clara conexão entre as estratégias do xadrez e as decisões morais e emocionais enfrentadas pelos personagens. As regras do jogo se refletem nas dinâmicas de poder e nas relações interpessoais, fornecendo uma base que torna a narrativa ainda mais rica e intrigante.
Além do mistério e da fantasia, “Assassinato no Monte Roraima” também é uma busca pela felicidade. Zanette, com seu background filosófico, introduz questionamentos que vão além do enredo, provocando o leitor a refletir sobre sua própria vida e busca por significado. O que é felicidade? Como encontramos conexão em um mundo cheio de incertezas? Essas são algumas das perguntas que permeiam a obra e que tornam a leitura ainda mais profunda.
Os temas centrais do livro dialogam com a filosofia existencialista, que busca compreender a condição humana e a busca por um propósito. Ao longo das páginas, o leitor é convidado a participar dessa discussão, fazendo paralelos entre a trama e suas próprias experiências de vida.
Edgard Zanette descreve seu trabalho como “uma obra modesta e delicada”, com um toque nostálgico que remete à coleção Vaga-Lume — uma referência à clássica série de livros que moldou toda uma geração de leitores. Essa simplicidade aparente, no entanto, não deve ser subestimada. O autor conseguiu criar uma narrativa que, apesar de sua estreia, traz uma complexidade surpreendente e uma profundidade que cativa tanto jovensquanto leitores adultos.
“Assassinato no Monte Roraima” é mais do que um simples livro de mistério; é uma jornada de autodescoberta que interpela o leitor a refletir sobre seus próprios tabuleiros da vida. Através de uma prosa acessível e envolvente, Zanette promove uma reflexão sobre os desafios da vida, a influência das escolhas e a busca incessante por conexão e felicidade.
A estreia de Edgard Zanette na ficção promete marcar um novo capítulo na literatura brasileira contemporânea, especialmente na intersecção da filosofia e da literatura de fantasia e mistério. “Assassinato no Monte Roraima” não é apenas um convite à leitura, mas uma oportunidade de viajar não só fisicamente ao Monte Roraima, mas também por uma jornada interna de reflexão e redescoberta.
À medida que o leitor se aventura pelas páginas do livro, é inevitável que se pergunte: como cada movimento que fazemos nos aproxima ou nos afasta de nosso destino? Zanette provoca essa reflexão com maestria, lançando uma obra que certamente ressoará na mente e coração dos fãs de literatura em todo o Brasil e além.