21 de setembro de 2024

Google Ads: financiador involuntário da desinformação?

Um estudo recente lançou luz sobre uma realidade preocupante no ecossistema digital: a infraestrutura de anúncios do Google, especificamente o Google Ads, está sustentando financeiramente uma gama de sites de extrema direita que promovem desinformação. A pesquisa, conduzida por Marcelo Alves dos Santos Junior e Bruno Washington Nichols, revelou que quase 70% do financiamento desses sites provém da publicidade programática, com o Google AdSense sendo o principal contribuinte. Este modelo de financiamento cria uma fonte de receita quase passiva para esses sites, permitindo-lhes prosperar independentemente de relações diretas com anunciantes ou marcas.

A análise focou em sites frequentemente compartilhados em grupos de extrema direita no Telegram, como Terra Brasil Notícias e Jornal da Cidade Online, e constatou que outras formas de monetização, como assinaturas e conteúdo pago, são secundárias. O estudo também investigou o apoio institucional a esses sites, identificando contribuições financeiras de figuras políticas e recursos públicos federais destinados a campanhas de informação. A Presidência da República, por exemplo, foi registrada pagando significativas quantias para campanhas de vacinação contra a covid-19 e outras iniciativas de saúde pública.

A descoberta é alarmante, pois sugere que o Google, inadvertidamente, pode estar facilitando a disseminação de conteúdo desinformativo. Isso levanta questões críticas sobre a responsabilidade das plataformas de tecnologia na moderação de conteúdo e na transparência de seus sistemas de publicidade. A pesquisa aponta para a necessidade de uma regulação mais rigorosa que vá além do conteúdo em si e aborde a infraestrutura que o sustenta.

O estudo propõe um debate mais amplo sobre a influência das grandes corporações de tecnologia na sociedade e na política. A dependência financeira de sites controversos em relação a gigantes como o Google coloca em xeque a neutralidade da empresa e sua posição em relação à desinformação. A discussão se estende ao papel dos anunciantes, questionando se eles estão cientes ou confortáveis com a associação de suas marcas a tais conteúdos.

A pesquisa de Alves dos Santos Junior e Nichols é um chamado à ação para que haja maior vigilância e responsabilidade no ecossistema de publicidade online. Ela destaca a complexidade das redes de financiamento que sustentam sites de conteúdo questionável e a dificuldade em rastrear e regular essas fontes de receita. A conclusão é clara: é imperativo que haja uma conscientização coletiva e esforços conjuntos para garantir que a tecnologia seja utilizada de maneira ética e construtiva, promovendo a verdade e combatendo a desinformação.

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