Fui demitido; e agora?
Por Virgilio Marques dos Santos
Transição forçada de carreira: nunca se sabe quando acontece, mas um dia, pode acontecer. Morando no Brasil, país cuja crise econômica é uma constante, demissões não voluntárias costumam acontecer. E o pior, não necessariamente o desligamento se dá por desempenho do colaborador ou pela falta da cultura da empresa. Às vezes, toma-se a decisão apenas colocando os nomes em uma planilha e ordenando os maiores salários, que, via de regra, são das pessoas com mais tempo de casa.
Nesse processo de redução de custos mecânicos e sem muita análise, a pressão por resultados acaba se sobressaindo. E um bom e competente colaborador acaba sendo desligado, mesmo tendo passado mais de uma década na empresa. Quando situações assim chegam, devemos estar preparados. A pior coisa é sermos pegos de surpresa. Nessas horas, devemos ter um plano de ação para nos ajudar a ter foco. Sem isso, é muito fácil perder-se no oceano de oportunidades de caráter duvidoso que aparecem.
Sei que a analogia é pesada, mas a liberdade quando saímos da estrutura corporativa nem sempre é saudável. E, sabendo que o tempo conta negativamente para nós, muitas pessoas se aproximam e se aproveitam do sentimento de incerteza e dos poucos recursos das verbas rescisórias. Para a maioria dos profissionais, seis meses de seguro desemprego não serão suficientes para saldar suas despesas. A queima de reservas financeiras será inevitável, assim como a sensação de desamparo e fragilidade.
Como estruturar um Plano B enquanto tudo está bem?
A melhor hora para preparar-se para uma situação como essa é quando ainda se está empregado e superavitário. Então, mesmo que ainda esteja alocado em uma boa colocação, gostaria de convidar você a um exercício para analisar suas forças, fraquezas, oportunidades e riscos. E, para isso, seja em um negócio ou seja no âmbito pessoal, não há nada melhor que uma Análise SWOT.
Pensando nisso, resolvi pensar num exemplo de uma SWOT para um profissional formado em engenharia, entre 40 e 50 anos, que trabalhou a maior parte da sua vida em empresas de médio e grande porte. Reforço, meu objetivo é mostrar como a ferramenta poderá ajudar você, não restringindo a ferramenta.
Forças (Strengths):
● Experiência sólida em engenharia, com 20-30 anos de atuação no campo;
● Conhecimento técnico aprofundado e habilidades especializadas;
● Experiência em empresas de médio porte, o que pode ser vantajoso ao trabalhar com equipes enxutas;
● Familiaridade com o mercado brasileiro e suas peculiaridades;
● Rede de contatos no setor de engenharia e em indústrias relacionadas.
Fraquezas (Weaknesses):
● Recente demissão, o que pode gerar desconfiança por parte de potenciais empregadores;
● Possível falta de conhecimento em tecnologias emergentes ou habilidades atualizadas;
● Dificuldades em se adaptar a novas metodologias e abordagens de trabalho;
● Possíveis limitações de mobilidade geográfica devido a compromissos familiares ou pessoais;
● Expectativa salarial mais alta devido à experiência e idade.
Oportunidades (Opportunities):
● Cursos de atualização e capacitação para se manter competitivo no mercado;
● Consultorias e projetos freelance como alternativa à busca por emprego formal;
● Utilizar a rede de contatos para encontrar oportunidades de trabalho;
● Explorar áreas de engenharia relacionadas ou setores em crescimento;
● Oportunidades de mentoria e compartilhamento de conhecimento com profissionais mais jovens.
Ameaças (Threats):
● Concorrência com profissionais mais jovens e atualizados em relação às tecnologias e tendências atuais.
● Recessão econômica ou estagnação do setor, levando a menos oportunidades de emprego.
● Desvalorização da experiência e habilidades adquiridas ao longo da carreira.
● Eventuais preconceitos relacionados à idade por parte de empregadores e colegas de trabalho.
● Mudanças rápidas na indústria, tornando o conhecimento obsoleto rapidamente.
Com esta análise SWOT, o profissional de engenharia pode criar estratégias para aproveitar suas forças e oportunidades, enquanto trabalha para melhorar suas fraquezas e minimizar o impacto das ameaças. Isso pode incluir investir em educação continuada, explorar diferentes opções de trabalho e utilizar sua rede de contatos de forma eficiente.
Assim, com a análise em mãos, é possível estruturar um plano de ação para tornar-se mais “antifrágil” se algo inesperado acontecer. E como identificar ações para aproveitar os tópicos levantados? Pesquisa e networking costumam ser uma ótima opção.
Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.