FEBRASGO faz um alerta para os efeitos da obesidade na saúde ginecológica das mulheres
Em termos de saúde reprodutiva, a condição afeta negativamente a fertilidade e a contracepção devido às suas alterações metabólicas
No Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, definido em 11 de outubro, a FEBRASGO faz um alerta sobre os riscos associados a doenças como diabetes tipo 2, doença cardiovascular, câncer de mama e inúmeras comorbidades de impacto para a saúde feminina. A data tem um papel importante para promover a conscientização sobre o cuidado com alimentação, a prática de atividade física e todas as ações que contribuem para uma vida mais saudável e equilibrada.
Para o ginecologista Jan Pawel Andrade Pachnicki, especialista e membro da Federação Brasileira de Ginecologia Obstetrícia (Febrasgo), a obesidade pode gerar impactos muito negativos à saúde ginecológica da mulher, especialmente durante a gestação. “A doença está associada a um maior risco de perda gestacional precoce, taxas mais elevadas de parto por cesárea, complicações obstétricas de alto risco, além de taxas de mortalidade materna e neonatal mais elevadas, bem como um aumento na ocorrência de malformações congênitas”, alerta o médico.
O ganho de peso que leva à obesidade é consequência de um balanço energético positivo, que pode resultar do aumento da ingestão energética, diminuição do gasto energético ou ambos. “Esse desalinhamento pode ser pensado como uma falha dos mecanismos homeostáticos do corpo. Mas, os hábitos alimentares atuais têm importante contribuição nesse processo porque hoje há maior disponibilidade de alimentos processados e industrializados. O consumo excessivo desses produtos podem gerar diversos problemas à saúde, incluindo a obesidade”, aponta o ginecologista.
Fertilidade
No que se refere à saúde reprodutiva, a obesidade exerce um impacto negativo significativo sobre a fertilidade e a contracepção devido a suas alterações metabólicas, tais como hiperinsulinemia, hiperleptinemia, resistência à insulina e hiperandrogenismo. A manutenção da leptina em níveis normais (um hormônio produzido pelos adipócitos que circula em concentrações proporcionais à massa de gordura corporal e desempenha um papel fundamental na regulação do equilíbrio energético) é essencial para o funcionamento adequado das funções tanto no hipotálamo quanto nos ovários.
“Níveis reduzidos de leptina podem interferir na pulsatilidade do hormônio liberador de gonadotropina (GnRH), enquanto níveis elevados desse hormônio podem perturbar a pulsatilidade ovariana e a foliculogênese, levando à infertilidade. Além disso, a obesidade afeta adversamente a saúde materna, especialmente quando há ganho de peso excessivo durante a gravidez. Mulheres jovens e obesas enfrentam desafios adicionais durante a gestação, especialmente em países em desenvolvimento onde os cuidados ginecológicos podem ser deficientes”, alerta o médico.
Obesidade e a Síndrome dos Ovários Policístico (SOP)
O Dr. Jan Pawel explica que o aumento no peso corporal e no tecido adiposo está associado a anormalidades nos níveis de esteroides sexuais em mulheres na pré-menopausa e na pós-menopausa, e mulheres com obesidade central têm níveis circulantes de androgênios mais elevados, mesmo na ausência de um diagnóstico clínico de síndrome dos ovários policísticos (SOP).
Essas mulheres têm níveis de testosterona total e livre mais altos do que mulheres com peso adequado, e níveis mais baixos de androstenediona e SHBG. Alguns estudos científicos apontam as correlações entre os níveis de testosterona total e as características fenotípicas do hiperandrogenismo, como o hirsutismo. “Acredita-se que o momento da menarca seja afetado principalmente por fatores genéticos, mas a idade média da primeira menstruação dessas meninas tem diminuído, nos últimos 30 anos, em conjunto com mudanças no estado nutricional. Importante lembrar que um dos distúrbios reprodutivos mais comuns em idade fértil, e a principal causa de infertilidade, a SOP, mostra grande correlação com a obesidade visceral”, explica o especialista.
Tratamento
“Primeiramente entender que obesidade é uma doença crônica, e envolve processos muito mais complexos do que o acúmulo passivo de calorias. Não se trata do resultado de características pessoais negativas, como gula, preguiça, autoindulgência e falta de força de vontade, mas sim de um organismo tentando defender seu “peso corporal habitual”, desequilibrado por inúmeros fatores genéticos, comportamentais e/ou ambientais”, enfatiza Dr. Jan Pawel.