Falta de acolhimento e de profissionais preparados dificultam inclusão de estudantes com deficiência 

Setembro celebra o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência (21), apresentando avanços sobre a inclusão de crianças com deficiência nas escolas

Matrículas em escolas públicas avançam, mas familiares apontam dificuldade em manter rotina de estudo e de relacionamento com colegas e professores

Nos últimos dez anos, o número de crianças, adolescentes e jovens com deficiência matriculados em escolas públicas aumentou significativamente, saltando de 568 mil para mais de 1,2 milhão em 2022, segundo Censo Escolar. Apesar do crescimento, o entendimento de familiares é o de que há dificuldade de inclusão, falta de acolhimento e de profissionais preparados.

Essa percepção foi registrada na “8ª onda da pesquisa Educação na perspectiva dos estudantes e seus familiares”. O estudo mostra que quase metade dos alunos com deficiência (48%) está com dificuldade em manter a rotina, e seis a cada dez (59%) se sentem despreparados no que se refere ao aprendizado.

“A inclusão de crianças, adolescentes e jovens com deficiência na escola não deve se resumir a apenas colocar rampas ou elevadores para locomoção. Estratégias pedagógicas personificadas e uma abordagem flexível são fundamentais para acolher esse estudante”, diz a gerente de Implementação do Itaú Social, Cláudia Sintoni.

Outro dado mostra que 39% dos alunos com deficiência têm dificuldades de relacionamento com outros colegas e professores. Segundo a pesquisa, a falta de acolhimento é uma justificativa para levá-los à evasão (25%). Em ambos os casos, o índice é, pelo menos, 10% maior quando comparado aos estudantes sem deficiência.

“É importante destacar que esse amparo não depende apenas da escola. Uma medida simples mas essencial para garantir a permanência do aluno, por exemplo, é que a rede de ensino ofereça um transporte escolar adaptado, que facilite esse trajeto, oportunizando, por consequência, mais tempo de socialização com outros colegas”, diz Sintoni.

Roberta Gledsa Cruz é mãe do João, estudante de Vespasiano (MG), diagnosticado com AMC (artrogripose múltipla congênita), que impacta o movimento da criança. Ela afirma que as maiores dificuldades na inclusão de seu filho estão na falta de profissionais preparados e na melhoria do espaço físico da escola.

“Eu já pensei várias vezes em tirar meu filho da escola, não por conta do conteúdo pedagógico, mas pelos problemas dos espaços físicos e pelo preconceito de outros colegas. Acredito que ter um estudante com deficiência em sala de aula é uma oportunidade para que as crianças e adolescentes possam conviver com a diversidade”, diz Roberta.

Caroline Alvim de Almeida, ao longo de sua trajetória profissional como assistente social da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Tatuí (SP), notou o crescimento de matrículas dos estudantes com deficiência em escolas públicas. No entanto, ela conta que ainda há um caminho longo a ser percorrido, especialmente no que diz respeito à capacitação dos docentes.

“Nas escolas ainda não há equipe necessária para que a inclusão realmente aconteça, ou seja, o aluno vai para o colégio e, quando apresenta algum tipo de ‘crise’, os pais ou responsáveis são acionados para buscar seu filho. Isso acontece com frequência e é preocupante”, diz a profissional.

Transporte

Uma das atribuições da assistente social Caroline é acompanhar o trajeto dos estudantes com deficiência até a escola. Essa mesma iniciativa ocorre em Campo Grande (MS), por meio do projeto desenvolvido pela professora Maria Rosalina Gomes, que explica o início da proposta. “Fala-se tanto em inclusão, mas de nada adianta se é difícil a criança chegar à escola. Não poderia ficar de braços cruzados vendo aquela situação e comecei esse trabalho”.

Mesmo com a Lei Federal 8.899/94, que oferece gratuidade ao transporte público, Rosalina conta que muitas famílias têm dificuldade em utilizar esse benefício. “Não existe a opção de vans ou ônibus adequados e com monitores treinados”. Em razão desse cenário, atualmente, ela tenta incentivar o município a criar uma lei que garanta a oferta de transporte para o trajeto entre casa e escola.

Acessibilidade

O Censo Escolar de 2022 mostrou que há uma evolução na oferta de escolas com acessibilidade, aumentando de 33% em 2019, antes da pandemia da Covid-19, para 42% em 2022. Acompanharam esse crescimento as dependências e os sanitários com acessibilidade, aumentando de 52% e 42% para 64% e 49%.


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