9 de maio de 2024

Evento: jornalista Bruna Escaleira lança “poemas para Liz”, obra sobre maternidade, em São Paulo

Escrita durante a gestação e o puerpério de sua primeira filha, obra da jornalista lança um olhar sensível e revelador sobre essa experiência feminina historicamente tão silenciada


“não se culpe, mãe poeta

por estar em falta com seus cadernos

mas preocupar-se em registrar

cada primeira coisa dos seus filhos

pois não há livro mais importante do que a infância

quando se acolhe cada gesto

com a receptividade de uma folha em branco”

Trecho do poema “produti.vaidade” (pág. 61)

    “É um livro construído pelo afeto, que revela o esplendor e a grandiosidade de um cotidiano muitas vezes maçante ou até mesmo doloroso. Os poemas de Bruna relembram que a doçura também pode ser um modo de resistência, e retratam uma experiência tão singular quanto coletiva”

    Juliana Goldfarb, no prefácio

      O livro “poemas para Liz”, da escritora e jornalista paulistana Bruna Escaleira (@bru_esc), explora, de maneira poética, a maternidade. Da gravidez ao puerpério, a obra aborda com leveza e sensibilidade o processo da descoberta de si como mãe, sem romantizar ou demonizar a função e conta com o posfácio assinado pela professora, mãe e doutora em literatura Juliana Goldfarb. O evento de lançamento está marcado para dia 6 de abril, às 15h, no Catavento Café (Rua Antônio Mariani, 157, Butantã). Dentro do café, existe a Odisseia Livraria de Bolso, em que haverá um espaço kids com brincadeiras artísticas gratuitas para as crianças durante o evento.

      Publicada pela editora artesanal Arpillera (@editoraarpillera, 88 pág.), a poesia da autora ganha corpo em exemplares costurados um a um. Essa proposta manual, junto ao nome da editora, que homenageia o movimento de resistência das bordadeiras chilenas na época da ditadura, foi o que levou a autora a tentar a chamada para publicação desta pequena casa editorial. Para ela, esse modo de fazer as coisas combina perfeitamente com a forma e o momento em que seu livro foi escrito: “no tempo das coisas, no tempo da vida”. “Foi amor à primeira vista”, resume.

      Dividido em três partes, “poemas para Liz” organiza os lampejos e epifanias em frases curtas proporcionadas pela embriaguez hormonal da gravidez e do puerpério. As seções “Surpresa”, “Portal” e “Mundo novo”, tratam, respectivamente, sobre a gestação, o parto e o puerpério. O livro também inclui bordados feitos por Bruna com imagens de ultrassom e linhas coloridas.

      A poeta conta que, durante a gravidez de sua primeira filha, entendeu que também estava gerando uma nova forma de escrever: “A novidade, os hormônios, as expectativas e as sensações únicas da gestação me inspiravam poesia a todo momento. Logo percebi que aqueles textos que estavam surgindo tinham uma identidade em comum: eram ‘poemas para Liz’”. 

      O livro foi escrito nas mais diversas e improváveis situações, especialmente após o nascimento de Liz: “São textos molhados de leite, suor e lágrimas, muitos vezes com uma bebê no peito, no escuro das sonecas de dia, nas madrugadas em claro, nos refúgios no banheiro, no desespero da privação de sono e no êxtase do encanto com a vida.”

      Além do desejo de expressar o que vivenciou durante seu processo de se tornar mãe, Bruna afirma ter sido motivada a publicar esse livro por considerá-lo necessário: “As mulheres tiveram suas experiências de gestação, parto e puerpério historicamente silenciadas, distorcidas e medicalizadas por séculos. Precisamos recuperar nossas vozes e promover um debate que leve nossas vivências reais em conta.”

      Juliana Goldfarb considera que poesia de Bruna Escaleira revela uma maternidade nem sempre vista em capas de revista ou redes sociais e destaca isso no posfácio que assina: “Bruna fala de lugares ou comportamentos invisíveis, sujos ou interditos na poesia: a falta de privacidade no momento de suas necessidades básicas, a privação de sono, o banheiro como um lugar de fuga e respiro, as espinhas e pêlos que invadem esse novo corpo já com tão pouco tempo para si, o cansaço e o corpo marcado por novas dores, novos contornos”.