Adolescentes mostram que com investimento Brasil pode virar o jogo no ranking em que aparece entre os países com menos falantes de inglês
Três adolescentes de Curitiba acabam de voltar do Canadá com os melhores desempenhos em um dos mais concorridos programas internacionais de intercâmbio e aprendizagem de inglês. Pádua Parente e Maria Clara Terres, de 16 anos, ficaram em primeiro lugar masculino e feminino, entre quase 200 alunos de vários países que participaram em julho do Summer Program School, da Universidade de Toronto. Como prêmio, eles ganharam mais uma imersão no programa. Já Leonardo Navarro de Souza Teixeira, de apenas 13 anos, terminou o curso em quarto lugar, superando colegas com mais idade.
Os três adolescentes que estiveram no Canadá têm em comum a origem escolar. Eles frequentam o Centro de Internacionalização Santo Anjo, mantido pelo Colégio Santo Anjo, rede de escolas que em Curitiba tem o melhor resultado no exame de proficiência da Universidade de Cambridge. Há seis anos consecutivos, 100% de seus alunos são aprovados em testes de todos os níveis, conta Andressa Andrieli do Carmo, coordenadora do Centro e examinadora oficial de Cambridge. Cerca de 70 alunos de 9 a 17 anos obtêm anualmente seus certificados de proficiência, desenvolvida numa combinação de três aulas semanais do programa regular com o curso extracurricular do centro preparatório mantido pela escola.
Além da formação inicial, o Centro se especializou em providenciar todo o processo de candidatura de seus alunos para aplicação em universidades do exterior, desde a documentação e cartas de referência, até a preparação para obtenção de bolsas de estudo.
Em desvantagem, Brasil não fala inglês
Os resultados extraordinários do grupo de Curitiba comprovam que, com o investimento adequado na aprendizagem, o estudante brasileiro está plenamente apto a modificar as estatísticas que mostram o país em desvantagem no cenário internacional do bilinguismo.
De acordo com a edição 2022 do maior ranking mundial de países e regiões por habilidades em inglês, o Brasil ocupa a 58ª posição no índice de proficiência da língua. A EF EPI se baseia em testes de 2,1 milhões de adultos em 111 países e regiões. Em primeiro lugar está a Holanda, no bloco dos países com proficiência muito alta. No terceiro bloco, de proficiência moderada, está o Brasil, em antepenúltimo lugar, à frente apenas da Guatemala e do Vietnã. Entre os países sul-americanos, Argentina, Paraguai, Bolívia, Chile, Uruguai e Peru estão melhor colocados. Em relação a 2021, o país ganhou duas colocações, saindo da categoria de baixa proficiência.
Essa realidade não é nova. Já em 2013, o British Council realizou a pesquisa Demandas de Aprendizagem de Inglês no Brasil, que mostrou que apenas 5,1% da população com 16 anos ou mais afirmava possuir algum conhecimento da língua inglesa, porcentagem maior entre os mais novos – 10,3% dos jovens entre 18 e 24 anos declararam falar inglês.
Bilinguismo não pode ser visto como privilégio
O bilinguismo não pode ser visto como um privilégio nem tratado como formação secundária dos estudantes. A própria Base Nacional Comum Curricular brasileira mostra em seu capítulo Língua Inglesa no Ensino Fundamental que o ensino e aprendizagem de inglês tem caráter formativo. A BNCC fala na importância da formação integral do aluno, o que está diretamente relacionado com a proposta de educação bilíngue.
É o que diferencia programas bilíngues como o do Santo Anjo, que desenvolve não apenas as habilidades da língua adicional como também as habilidades socioemocionais que preparam o cidadão do futuro. “A fluência em inglês adquirida dentro da escola vem junto com a vivência cultural dos falantes de outra língua, o que faz toda a diferença”, diz a química Fabiana Romanelli, mãe de Ana Lúcia Skrobot, que entrou na escola com seis meses de idade e agora aos 17 anos esteve no Summer School Program na Austrália.
Carreira internacional
Empolgado com a experiência vivida no Summer Program, Pádua Parente viu crescer um desejo que já alimentava: estudar fora do país para seguir carreira na aeronáutica. “É indescritível a sensação de se virar sozinho em outro idioma, e de conhecer gente do mundo todo. Minha professora era do Uzbequistão e eu tinha colegas japoneses, coreanos, franceses e mexicanos, entre outros”, relembra o menino, que estuda inglês há sete anos.
Aos 14 anos, sua colega Lorena de Luca Fernandes também sonha em cursar uma faculdade no exterior na área de ciências. “Não sou muito fã de humanas”, diverte-se, feliz por descobrir no intercâmbio canadense que seu inglês é melhor do que pensava, o que já é meio caminho andado para estudar fora do Brasil no futuro. Além de comemorar a autonomia de circular por outro país sabendo se comunicar, Lorena voltou contente por fazer vários amigos estrangeiros.
O desafio da segunda língua traz confiança para os estudantes e deixa os pais, além de orgulhosos, mais tranquilos sobre o futuro. A arquiteta Daniella Navarro de Souza estufa o peito ao contar que o filho Leonardo, de apenas 13 anos, fez a prova de nivelamento no Canadá e entrou no nível “high advanced”, o mais alto do intercâmbio, onde estavam os alunos de 17 anos. E a cereja do bolo foi terminar o curso como o quarto classificado em desempenho.
Esse resultado não veio à toa, mas de um investimento feito pela família no aprendizado do inglês desde os cinco anos de idade do menino, que entrou no Santo Anjo aos oito meses. “O trabalho de formação da escola é excelente. Nota AA com louvor”, diz.