Especialista da USP propõe a criação de um banco de dados genômicos de brasileiros no SUS

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Dr. Michel Naslavsky argumenta que a Genômica é a base para a Medicina do futuro e que o Brasil precisa de um banco com o perfil de sua população miscigenada

O Prof. Dr. Michel Satya Naslavsky, professor do Instituto de Biociências da USP e coordenador do Laboratório de Análises Genômicas em Medicina P4 (Lamp4), afirma que a Medicina P4 (preditiva, preventiva, personalizada e participativa), que tem como base a Genômica, pode contribuir para a redução dos crescentes custos dos sistemas de saúde.

O Biólogo explica que essa nova vertente da Medicina se vale de testes genéticos para identificar fatores de risco para o desenvolvimento de doenças e assim preveni-las e tratá-las de forma personalizada. Isso é possível porque grande parte das doenças tem base genética.

Os resultados do sequenciamento do genoma de uma pessoa são interpretados com base em bancos de dados genômicos, que contêm informações que associam o risco de desenvolvimento de determinadas doenças a mutações genéticas específicas.

O principal obstáculo para o desenvolvimento da Medicina P4 no Brasil é a inexistência de um grande banco de dados genômicos brasileiro, que reflita o perfil miscigenado da nossa população.

Os testes realizados aqui são interpretados tomando como referência bancos de dados internacionais, que reúnem informações majoritariamente de pessoas com ancestralidade europeia, em particular o UK Biobank, o maior do mundo, com aproximadamente 500 mil pessoas sequenciadas.

“Os bancos internacionais reúnem informações majoritariamente de pessoas com ancestralidade europeia. Mas os brasileiros, na sua maioria, têm genomas de três grupos: além dos europeus, povos nativos americanos e africanos. Isso leva a um desvio, a uma perda de acurácia no resultado dos nossos testes”, alerta Michel Naslavsky.

O Biólogo relata que um teste de genoma humano completo, que custava cerca de US$ 1 milhão em 2007, hoje está disponível por menos de US$ 1 mil. No Brasil, há em torno de uma dezena de laboratórios que oferecem os testes. Esses centros dispõem de sequenciadores com a tecnologia de sequenciamento de nova geração (NGS, em inglês, next-generation sequencing), que conseguem processar um teste de genoma humano completo em cerca de uma hora e meia.

Os testes são especialmente precisos para a identificação do risco de doenças raras de fundo genético, como a atrofia muscular espinhal (AME) e a anemia falciforme. Eles também indicam o risco aumentado para doenças complexas multifatoriais, como câncer, Alzheimer, diabetes e doenças cardiovasculares. Servem ainda para predizer a resposta de um indivíduo a certas doenças infecciosas.

O único banco público de dados genômicos brasileiro é o do Centro de Estudos sobre o Genoma Humano e Células-tronco (CEGH-CEL), laboratório da Profa. Dra. Mayana Zatz na USP, também Bióloga, onde Michel Naslavsky atua como pesquisador. Entre 2010 e 2017, o centro sequenciou o genoma completo de cerca de 1.500 idosos na cidade de São Paulo.

Apesar de servir como referência para testes realizados com brasileiros por laboratórios locais, o volume de dados do banco do CEGH-CEL é insuficiente. Segundo Michel Naslavsky, para garantir a precisão dos resultados, precisamos ter no Brasil um banco com informações genéticas de pelo menos 30 mil brasileiros.

O Ministério da Saúde já tomou a decisão de criar um banco público brasileiro ao editar em agosto de 2020 a portaria nº 1.949, que estabelece o Programa Nacional de Genômica e Saúde de Precisão (Genomas Brasil). No entanto, talvez devido à epidemia de Covid-19, além do notório subfinanciamento do SUS, o trabalho de sequenciamento de pessoas para a formação do banco ainda não começou.

“Não precisamos sequenciar 30 mil pessoas de uma só vez. Podemos fazer ao longo de 5 a 10 anos, coletando informações de usuários do SUS, pessoas que comparecem para consultas regulares e seus familiares e acompanhantes”, defende o Biólogo, que sugere que a compilação das informações fique a cargo do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia.

O Conselho Regional de Biologia de 1ª Região (CRBio-01) lançou um podcast em que Michel Naslavsky se aprofunda nessas questões. Ouça AQUI.


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