Em depoimento, Cid entrega trama golpista de Michelle e filho ’03′

Cid foi uma testemunha direta das conversas entre Bolsonaro e seus seguidores e resolveu contar o que sabe, em um acordo de delação premiada após ser preso em maio, para ser liberado da cadeia – entre outros benefícios – em setembro último

No depoimento que lacrou a delação premiada do ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid, a ex-primeira dama Michele Bolsonaro e o filho chamado de ’03’, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) passaram a figurar como suspeitos de integrar o golpe de Estado fracassado em 8 de janeiro deste ano. Cid afirmou à Polícia Federal (PF) que ambos incentivaram a tentativa de uma tomada violenta do poder, após a derrota do candidato neofascista nas eleições presidenciais.

Cid foi uma testemunha direta das conversas entre Bolsonaro e seus seguidores e resolveu contar o que sabe, em um acordo de delação premiada após ser preso em maio, para ser liberado da cadeia – entre outros benefícios – em setembro último. O militar afastado de suas funções revelou, em detalhes, como Michelle Bolsonaro e do filho ’03’ passaram a incentivar o mandatário a tomar medidas golpistas, conforme relatório da PF vazado para a mídia conservadora.

O conteúdo da delação premiada permanece em sigilo, sob análise da equipe do subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, que observou a falta de provas que comprovem os relatos do delator. A PF discorda e, ainda segundo a mídia conservadora, já está muito adiante na formulação de um processo sólido contra os suspeitos.

Articulações

O plano golpista, segundo Mauro Cid, não foi adiante porque os comandantes militares discordaram quanto à aventura de um novo golpe militar, no país. Bolsonaro, no entanto, teria discutido a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres, mas apenas o comandante da Marinha apoiou a iniciativa, enquanto os chefes do Exército e da Aeronáutica posicionaram-se contrários à medida.

O militar descreveu, ainda, as articulações pós-eleição, mencionando a resistência de Bolsonaro em seguir as sugestões de um grupo moderado, que incluía o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), para acalmar os manifestantes golpistas. Cid também apontou a existência de um grupo radical, no qual Michelle e Eduardo Bolsonaro estariam envolvidos, incitando o ex-presidente a buscar um golpe.

As acusações foram negadas pela defesa de Jair e Michelle Bolsonaro, que as classificou como “absurdas” e sem provas substanciais. Eduardo Bolsonaro, por sua vez, afirmou a jornalistas que a delação foi considerada “fraca, inconsistente e sem elementos de prova” pelo subprocurador Carlos Frederico.

Joias

Ainda no depoimento de Mauro Cid, ele alega ter recebido “ordens diretas” do então chefe de Estado para avaliar o valor de um relógio Rolex e obteve autorização para a venda deste e de outros itens que compunham um kit de joias sauditas. As declarações de Cid corroboram as suspeitas da PF de que as joias foram comercializadas a mando de Bolsonaro, utilizando dinheiro em espécie para evitar rastros financeiros.

Mauro Cid revelou ainda que, no início de 2022, Bolsonaro estava insatisfeito com os gastos decorrentes de uma notificação judicial, despesas relacionadas à mudança e transporte do acervo de presentes recebidos, bem como multas de trânsito por não usar capacete em motos. Diante dos fatos, questionou Cid sobre presentes de alto valor recebidos durante seu mandato, para que fossem vendidos.

Cid relatou à PF que consultou o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), responsável pelo acervo presidencial, para obter uma lista de relógios recebidos por Bolsonaro. Ele identificou o Rolex de ouro branco oferecido pela Arábia Saudita em 2019 como um item de fácil comercialização e comunicou a Bolsonaro que lhe deu a ordem para avaliar e vender o relógio, juntamente com outros itens valiosos. Mais uma vez, Bolsonaro nega as evidências.


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