Educação Profissional: é preciso tirar o estigma de “anti-heroína” brasileira

 Por Francisco Borges

A educação profissional sempre foi vista de forma diferenciada no Brasil. Muitas vezes entendida como a solução mais estratégica para aumentar a capacidade produtiva do país, em outras foi compreendida como a maneira mais sensata de contextualizar os conteúdos das ciências nas etapas da educação fundamental e média. Além disso, também foi analisada como a solução para aproximar a educação preparatória com base científica do mundo do trabalho, bem como um meio de acelerar o moto-contínuo da produção, com ciência, renda e maior bem-estar social.

Todavia, ao longo da história brasileira, a educação profissional nunca passou de um suspiro, de uma ameaça de sucesso a cada momento que, efetivamente, fez parte das políticas de governo. Efetiva como alicerce político a cada ciclo eleitoral e correta como discurso de valorização do cidadão como ente participante da sua realização e da capacidade produtiva do país, entretanto, ela nunca passou de um movimento que sempre esbarrou no elitismo.

Enquanto os índios e negros tinham acesso à educação profissional, os jovens das classes mais abastadas, (filhos dos brancos europeus) estudavam em Portugal ou em outros países (o que demonstra o caráter elitista e segregacionista da proposta) e se dedicavam a se ordenar na igreja católica, visando à participação da família na fortuna desta instituição na época.

Ainda na idade média, a “implantação” da classe burguesa se deu com muita intensidade na Europa, centro do poder e do saber. O Iluminismo, que estimulou as revoluções Francesa e Industrial, teve pouco impacto na história do Brasil. Países como Inglaterra, Alemanha, Holanda, nações onde a Revolução Industrial se deu na origem e com intensidade, passaram a ofertar educação nos liceus de Artes e Ofícios e grande parte da capacidade produtiva industrial teve origem neste momento da história. No Brasil, os Liceus foram implantados, mas sempre como uma opção para poucos, ou seja, para aqueles oriundos das classes sociais dominantes, formados para sustentar o status quo.

A anti-heroína Educação Profissional encontrou estímulo e força na Constituição de 1937, contudo, mesmo tendo força para existir, foi descrita na Constituição Federal como sendo a destinada para os pobres. Durante o governo de Getúlio Vargas, a educação profissionalizante se tornou obrigatória e parte do ensino médio

Após a segunda guerra, mesmo com a oferta dos cursos profissionalizantes associados ao ensino médio, esta modalidade passou a ser prioridade dos sistemas de ensino para a Indústria, e para o comércio, como SENAI e SENAC, respectivamente.

O surgimento, recentemente, de marcas de cursos livres de instituições não relacionadas historicamente ao setor, que buscam formar quadros preciosos de produção com temas mais modernos acaba por mostrar a fraqueza dos setores público e privado da educação.

A Educação Profissional, como a anti-heroína, está sempre presente na cena histórica. Todavia, falta conhecimento para a gestão pública, falta clareza e empenho para os formadores de opinião e líderes sociais e, mais ainda, autoconhecimento para os cidadãos que compõem uma sociedade elitista, preocupada com a manutenção de direitos sociais que se acabam quando o país tem uma população mais velha e que não se mostrou produtiva no seu momento gerar renda.

* Francisco Borges é mestre em Educação e consultor da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT).


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