Em edição revista e ampliada, o sociólogo Mário Augusto Medeiros da Silva investiga a produção literária negra e periférica do país
As Edições Sesc realizam o lançamento do livro A Descoberta do Insólito: Literatura Negra e Literatura Periférica no Brasil (1960-2020), escrito pelo sociólogo, escritor e professor Mário Augusto Medeiros da Silva, dentro da programação da Estética das Periferias, que chega em sua 13ª edição. Este evento é idealizado pela Ação Educativa e construído colaborativamente por 50 coletivos, e tem como propósito mobilizar inúmeros espaços culturais em diversas áreas das regiões periféricas e no Centro da capital paulistana.
O evento de lançamento está marcado para o dia 30 de agosto, quarta-feira, às 19h, no Teatro Anchieta do Sesc Consolação. A programação terá início com a apresentação da poeta e slammer Midria Pereira. Ela convidará o autor Mário Medeiros, juntamente com os escritores Ferréz e Helena Silvestre para um bate-papo sobre a temática abordada no livro. Na sequência, haverá o pocket show intitulado “Bitita – As Composições de Carolina Maria de Jesus“, com Nega Duda e Sthe Araujo nos vocais, e Maurício Badé e Cauê Silva nas percussões. Ao final está programada uma sessão de autógrafos.
A obra chega às livrarias atualizada e ampliada, abrangendo duas décadas a mais do que a versão anterior, publicada em 2013, e que compreendia de 1960 a 2000. Com isso, a nova edição ganha mais um capítulo, intitulado “Pequena história sociológica de livrarias e editoras negras (1972-2020)”, salientando o poder das mulheres tanto na literatura negra produzida atualmente no país como, principalmente, no manejo de editoras e de livrarias voltadas a esse nicho de produção literária e seu público leitor.
Em A descoberta do insólito, o autor evidencia as barreiras e os apagamentos que as literaturas negra e periférica enfrentaram e ainda enfrentam atualmente, mas igualmente expõe a luta e a resistência de escritores, ativistas e intelectuais negros e periféricos por espaço e valoração. Nomes como Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Paulo Lins, Conceição Evaristo, Solano Trindade, Marcelo D’Salete, Ferréz e Sérgio Vaz são celebrados, e a importância histórica de suas obras é destacada no livro.
“[…] um consistente e vigoroso itinerário sociológico que desvela a existência de um universo criativo em ebulição — repleto de possibilidades e contradições, de encontros e desencontros —, salpicado de estrelas invisibilizadas por longo tempo. O meticuloso trabalho do pesquisador reforça a tese de estranhamentos e redescobertas inusitadas, pela constatação de um premeditado e retumbante silenciamento, e abre caminho para que novos leitores possam usufruir da potência dessas contribuições ainda pouco exploradas e plenas de novas conexões e horizontes.”
Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo
Por meio de entrevistas com escritores e outros nomes do universo da literatura brasileira e de uma extensa pesquisa bibliográfica, Mário Medeiros entrega uma obra fundamental, densa e instigante para quem estuda ou se interessa pelo tema. Dividido em dez capítulos, o livro aborda ainda as publicações de cultura negra Cadernos Negros e Níger.
“Aqui, as literaturas negra e marginal/periférica são tratadas como ‘ideias em movimento, sofrendo mutações ao longo dos anos, ao sabor das demandas e das interpretações históricas’ que produzem um conhecimento lacunar, preenchido pela imaginação sociológica que exaure possibilidades, descobre e explora fontes diversas e elabora argumentos de consistência comprovável.”
Cidinha da Silva, escritora
“[…] o desafio que acabou guiando todo o trabalho foi o de conceber as ideias de literatura negra e literatura periférica como forças sociais importantes para os grupos de onde elas se originaram, ao longo do século XX e nos anos iniciais do século XXI. Como elementos de socialização, capazes de forjar projetos individuais e coletivos, de enfrentar a realidade social e a condição histórica legadas a seus grupos. A literatura é a peça central, que dialoga e se confunde com o ativismo político, com as questões sociais, com os dilemas institucionais da história brasileira.”
Mário Augusto Medeiros da Silva, autor do livro
SOBRE O AUTOR
Mário Augusto Medeiros da Silva é sociólogo, escritor e professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Como escritor de não ficção, publicou Os escritores da guerrilha urbana: literatura de testemunho, ambivalência e transição política (1977-1984) (2008); e A descoberta do insólito: literatura negra e literatura periférica no Brasil (1960-2000) (2013), este último finalista na categoria Ciências Humanas do Prêmio Jabuti de 2014. É ainda coorganizador de Polifonias marginais (2015), com Lucía Tennina, Ingrid Hapke e Érica Peçanha, e de Rumos do Sul: periferia e pensamento social (2018), com Mariana Chaguri. Já no segmento de ficção, é autor dos livros Gosto de amora (2019), finalista do Prêmio Jabuti na categoria Contos, e Numa esquina do mundo (2020), semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura em Língua Portuguesa.
SOBRE OS CONVIDADOS
Ferréz, nome artístico de Reginaldo Ferreira da Silva (São Paulo, 1975) é um romancista, contista, poeta e empreendedor brasileiro. Costuma utilizar em suas obras a chamada “literatura marginal”, por ser desenvolvida na periferia das grandes cidades e tratar de temas relacionados a este universo. Ferréz começou publicando fanzines. Dotado de linguagem influenciada pela variante linguística usada na periferia de São Paulo, Ferréz já publicou diversos livros, entre eles “Fortaleza da Desilusão” (1997), “Capão Pecado” (2001), “Amanhecer Esmeralda” (2005), “Ninguém É Inocente em São Paulo” (2006), “Deus foi almoçar” (2012) e “Os ricos também morrem” (2015).
Helena Silvestre éescritora integrante do Sarau do Binho, tem quatro livros publicados, sendo finalista do Prêmio Jabuti 2020 com obra depois traduzida e publicada na Argentina (Mandacaru editorial, 2022) e na Espanha (Traficantes de Sueños, 2023). Coeditora da Revista Amazonas no Brasil, é educadora popular na Escola Feminista Abya Yala e pesquisadora em La Laboratoria – espaço de pesquisa feminista. Atriz, compositora, é também aprendiz de culturas populares e saúde pública.
Midria Pereira é poeta, slammer e cientista social graduada pela USP, mestrande em Antropologia pela FFLCH-USP, com pesquisas em trajetórias de poetas negras surdas em slams. Filha poética do Sarau do Vale e slammaster do Slam USPerifa, atua na cena de slams desde 2018, quando viralizou com sua poesia “A Menina que Nasceu sem Cor”, recitada no “Manos e Minas” da TV Cultura. Lançou “A Menina que Nasceu sem Cor” e sua versão infantil, pela Editora Jandira. Midria também integrou a coletânea de contos “Carolinas”, organizada pela FLUP e lançou “Cartas de amor para mulheres negras” na FLIP 2022. Capa da Revista Glamour (março 2023) e influência da geração Z na Vogue (abril 2023), lançará um quarto livro pela “Rosa dos Tempos”, do grupo editorial Record. Atualmente, apresenta um espetáculo de multilinguagens.
Bitita foi idealizado no contexto da curadoria da exposição Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros, realizada originalmente pelo Instituto Moreira Salles com itinerância no Sesc Sorocaba e no Sesc Rio Preto. Nascida em 1914 na cidade de Sacramento (MG), Carolina Maria de Jesus, apelidada carinhosamente de Bitita na infância, viu suas composições musicais serem reunidas em disco pela gravadora RCA Vitor em 1961. Na época, os arranjos foram feitos pelo maestro Francisco Moraes, a direção artística foi de Júlio Nagib e teve a participação do grupo Titulares do Ritmo, além da voz da própria Carolina. Na apresentação musical, Nega Duda e Sthe Araujo nos vocais, e Maurício Badé e Cauê Silva nas percussões
Ficha Técnica:
A descoberta do insólito: literatura negra e literatura periférica no Brasil (1960-2020)
2ª edição revista e ampliada
Autor: Mário Augusto Medeiros da Silva
Edições Sesc São Paulo, 2023
592 páginas
ISBN: 978-85-9493-242-6
Preço de capa: R$ 65,00