Do feed ao fórum: conteúdos de redes sociais como provas judiciais

Lucas Costa, Advogado, formado pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), com pós-graduação em direito processual civil pela Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDCONST)

No mundo hiperconectado de hoje, as redes sociais transcendem a mera função de plataformas de interação, emergindo como fontes ricas de evidências em processos judiciais, particularmente no âmbito do Direito de Família. De acordo com Lucas Costa, advogado especialista em Direito de Família (@escritorioparamaes no Instagram), a utilização de posts e prints de redes sociais está reformulando decisões sobre divórcio, guarda dos filhos e pensão alimentícia, impactando significativamente a dinâmica familiar.

A análise de conteúdos online, como fotos, vídeos e publicações, oferece um olhar singular sobre o estilo de vida dos indivíduos, revelando informações que podem ser cruciais para a justiça. “As postagens em redes sociais podem revelar muito mais do que intenções”, afirma Costa. “Elas são janelas para o estilo de vida que, muitas vezes, um dos cônjuges tenta ocultar durante disputas de pensão.” Com a crescente receptividade dos juízes a essa nova forma de evidência, as plataformas digitais se transformam em ferramentas de investigação e comprovação.

Um dos usos mais impactantes dessas evidências digitais ocorre nas disputas de pensão alimentícia. Pais que alegam incapacidade financeira para justificar menores valores de pensão, frequentemente, são confrontados com provas de suas próprias redes sociais, mostrando um estilo de vida de alto padrão, contradizendo suas alegações. “É um despertar para muitos que subestimam o poder de suas próprias publicações”, comenta o especialista.

O impacto se estende à guarda dos filhos. Publicações irresponsáveis ou que expõem os filhos a situações inadequadas podem influenciar a decisão do juiz sobre a capacidade parental. “Proteger a criança é a prioridade, e as redes sociais oferecem um vislumbre do ambiente que os pais proporcionam”, destaca Costa.

Entretanto, o advogado adverte sobre a necessidade de uma análise criteriosa: “Não se pode assumir que toda postagem reflete a realidade. É fundamental um exame cuidadoso para evitar julgamentos equivocados.” A recomendação é que os pais reflitam antes de postar, reconhecendo que o conteúdo digital pode ser usado contra eles em um tribunal.

A utilização de provas digitais levanta importantes questionamentos sobre privacidade e ética, mas revela uma verdade incontestável: a necessidade de um padrão de vida do filho em consonância com o do pai, especialmente em casos de disparidade intencional.

Lucas Costa chama atenção para a prática preocupante de pais que tentam evitar o aumento da pensão alimentícia para não reduzir seu próprio padrão de vida. “Não é raro ver casos em que o pai vive em uma realidade de luxo, enquanto o filho é mantido em condições modestas. Isso é injusto e vai contra os princípios de equidade que a justiça busca preservar”, explica o advogado.

Para as mães que lutam por uma pensão justa, a vigilância digital se torna uma ferramenta crucial. “Recomendo que guardem provas, tirem prints de postagens que demonstrem o estilo de vida do ex-parceiro”, aconselha Costa. “Essas evidências podem ser decisivas para que o juiz considere a quebra do sigilo bancário e ajuste o valor da pensão de forma a refletir a real capacidade financeira do pai.”

Este cenário destaca a responsabilidade dos tribunais em assegurar que as decisões sobre pensão alimentícia reflitam não apenas a necessidade da criança, mas também a realidade financeira do pai, promovendo um equilíbrio que respeite o direito do menor a um padrão de vida condizente com o de ambos os progenitores. A integridade desse processo judicial é vital para garantir que as crianças não sejam as verdadeiras vítimas de desigualdades econômicas dentro da própria família.

O uso de conteúdos de redes sociais como provas judiciais exige cautela e análise criteriosa, mas também oferece um novo olhar para a justiça familiar, garantindo uma maior transparência e equidade nas decisões. A necessidade de um padrão de vida equilibrado para os filhos, em consonância com o dos pais, é um princípio fundamental que deve ser defendido em um mundo cada vez mais interconectado e transparente.


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