Diamante feito com cinzas de Jô Soares é guardado em cofre: a nova tendência dos “biodiamantes” levanta questões éticas e culturais
Em um gesto que mescla homenagem e inovação tecnológica, as cinzas do icônico apresentador e humorista Jô Soares foram transformadas em um diamante, atualmente mantido em segurança em um cofre. A prática, que vem ganhando popularidade global, utiliza o carbono presente no corpo humano para criar o que é conhecido como “biodiamante” – uma joia que carrega a essência de uma pessoa, seja após sua morte ou, em alguns casos, ainda em vida.
O processo de criação dos biodiamantes é complexo e fascinante. Diamantes naturais se formam na crosta terrestre sob condições extremas de pressão e temperatura ao longo de milhões de anos. No entanto, cientistas descobriram que o carbono, responsável por cerca de 20% da composição do corpo humano, pode ser extraído das cinzas de uma pessoa falecida ou até mesmo de cabelos, recriando, em laboratório, as condições necessárias para a formação de um diamante. Assim, uma pequena parte de um ente querido pode ser eternizada em uma peça que pode ser usada como anel, colar ou outro tipo de joia.
A técnica, que inicialmente soava como algo saído de um filme de ficção científica, tem ganhado cada vez mais adeptos. Para alguns, é uma maneira única e poética de manter a memória de um ente querido viva, transformando luto em algo tangível e belo. A empresa suíça que realizou o procedimento para Jô Soares, por exemplo, já é referência mundial nesse tipo de serviço, oferecendo diferentes opções de lapidação e design.
Contudo, a transformação de restos mortais em joias levanta questões éticas e culturais. Enquanto alguns veem a prática como uma evolução natural dos rituais funerários, outros a consideram uma mercantilização da morte, algo que deveria permanecer no campo do sagrado e do intangível. “Estamos transformando a morte em um produto de luxo?”, questiona o antropólogo Marcos Teixeira, especialista em rituais funerários. “A ideia de eternizar alguém em um diamante pode parecer atraente, mas é preciso refletir sobre o que isso realmente significa para nossa relação com a morte e o luto.”
A prática dos biodiamantes também começa a chamar a atenção do mercado de luxo, que vê nisso uma nova fronteira para a personalização extrema de joias. Marcas renomadas já exploram parcerias com empresas que realizam esse tipo de serviço, oferecendo peças exclusivas que prometem não apenas valor estético, mas também um valor emocional inestimável. “Cada diamante é único, assim como a pessoa de quem ele foi criado”, comenta um joalheiro de renome, que prefere não ser identificado.
Apesar da crescente popularidade, a transformação de cinzas humanas em diamantes ainda enfrenta barreiras culturais, especialmente em países com tradições religiosas fortes, onde os rituais de cremação e enterro seguem normas rígidas. No Brasil, a prática ainda é vista com desconfiança por muitos, embora esteja começando a ganhar espaço entre as elites que buscam formas diferenciadas de lidar com a memória de seus entes queridos.
O caso de Jô Soares, uma figura querida e respeitada no país, pode contribuir para desmistificar o conceito, mas também abre espaço para um debate mais amplo sobre como lidamos com a morte e a memória. Afinal, até onde estamos dispostos a ir para manter viva a presença daqueles que amamos? E, sobretudo, quais são os limites entre a homenagem sincera e a exploração comercial de algo tão íntimo quanto a morte?
Por enquanto, o diamante feito com as cinzas de Jô Soares permanece guardado em um cofre, simbolizando tanto a eternidade quanto a complexidade das emoções humanas. Um lembrete brilhante de que, em tempos de avanços tecnológicos, até mesmo a forma como lidamos com a morte está em constante transformação.