Desigualdade racial nas exatas expõe barreiras educacionais e profissionais no Brasil
No mês da Consciência Negra, um estudo divulgado pelo Itaú Social e pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) lança luz sobre uma questão alarmante: a desigualdade racial nas ciências exatas. Segundo a pesquisa, 62% das vagas nas profissões ligadas a essa área são ocupadas por pessoas brancas, enquanto apenas 36% são preenchidas por negros. Os dados refletem não apenas as barreiras de acesso, mas também as disparidades históricas no sistema educacional e no mercado de trabalho brasileiro.
O abismo começa na base. De acordo com os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), apenas 4% dos alunos negros concluem o Ensino Médio com um nível adequado de aprendizado em matemática, em comparação a 11% dos estudantes brancos. Essa diferença, ainda na educação básica, tem implicações profundas para a entrada e permanência em carreiras de alto impacto nas ciências exatas.
A Matemática como ferramenta de resistência e valorização cultural
Apesar dos números desanimadores, iniciativas nas escolas vêm mostrando que a matemática pode se tornar uma aliada na valorização da identidade negra. Professores e educadores têm utilizado a disciplina para resgatar histórias de personalidades negras que contribuíram para o avanço da ciência e para reforçar a importância da representatividade nos campos acadêmicos e profissionais.
Exemplos como o de Katherine Johnson, matemática afro-americana fundamental nas missões espaciais da NASA, são apresentados como forma de inspirar jovens negros a enxergarem nas ciências exatas um caminho possível. No Brasil, educadores têm promovido atividades que conectam conceitos matemáticos à cultura afro-brasileira, como a geometria nas tramas das tradicionais cestarias e nos desenhos dos quilombos.
Impactos na economia e na sociedade
A pesquisa também destaca que uma maior inclusão de negros nas ciências exatas teria efeitos significativos para a economia brasileira. Profissões ligadas a áreas como tecnologia, engenharia e estatística são estratégicas para o desenvolvimento do país, e a diversidade nesses setores contribui para inovações mais abrangentes e socialmente relevantes.
Ainda assim, o caminho para a equidade depende de mudanças estruturais. Políticas públicas que garantam acesso à educação de qualidade, além de programas de incentivo e mentoria para jovens negros, são apontados como essenciais para corrigir o curso dessa desigualdade.
Um mês para refletir, um ano para agir
O mês da Consciência Negra reforça a necessidade de trazer à tona essas discussões, mas a urgência do tema exige ações contínuas. A matemática, frequentemente vista como uma disciplina fria e técnica, pode, na verdade, ser uma ferramenta poderosa para inclusão e transformação social.
A reflexão não pode se limitar a novembro: o Brasil precisa encarar a matemática da desigualdade para resolver uma equação que, há séculos, deixa boa parte da população fora do resultado.