Descamuflando a cretinice cotidiana: escritor e filósofo lança o sarcástico “O Manual do Cretino” com base no seu ofício de escrivão de polícia

André Luiz Leite da Silva nos convida a desmascarar os sujeitos cretinos do nosso dia a dia: os outros e nós mesmos. Publicado pelo Grupo Atlântico, livro também ganhará traduções para inglês e espanhol

“Os maiores cretinos não são os que xingam, mas aqueles que se aproveitam dos outros. É como aquele que gosta dos pobres, menos de descer das suas costas”. (Pág. 33)

Se você já furou uma fila do caixa de supermercado ou casa lotérica esperando o menor sinal de distração de quem estava à sua frente, você é um cretino. Se aproveita de alguém em situação desfavorecida atrás de um “bom negócio”? Cretinice. Finge “dar a outra face” para pagar de moralmente superior quando por trás dos óculos escuros está, na verdade, se roendo de ódio do mesmo jeito que um desenho animado? Gosta de compartilhar uma fofoquinha todos os dias como quem toma o café acompanhado de pão com manteiga? Não se importa de sentar em um assento reservado? Bingo! Cretinice é uma constante. Está por toda parte. E ninguém está imune. 

É o que frisa o escritor e filósofo paulista André Luiz Leite da Silva (@cronicasmaviosas), natural de Itararé, cidade localizada na divisa do estado de São Paulo com o Paraná. Escrivão de Polícia Civil há mais de 20 anos, o autor deságua numa investigação acerca das “idiotices” que foram naturalizadas pelas pessoas, o que resultou no primeiro volume do “Manual do Cretino” (Editora Grupo Atlântico, 228 pág.) sua 24ª publicação, entre 43 livros escritos. Além da publicação em português — com circulação no Brasil, Portugal, Angola e Cabo Verde —, a obra está sendo traduzida para outras duas línguas: inglês e espanhol. Há também planos para que ganhe versões em italiano, francês, alemão e chinês. 

O livro é composto por 106 artigos, como um código penal. Para cada artigo, um mal e uma sentença. Sentenças aplicadas de acordo com cada significado da palavra “cretino” presente no dicionário — afinal, não é porque todos são cretinos, que são os mesmos. Seu manual, também é escrito em primeira pessoa, com pontuais intervenções sobre algumas das situações retratadas (e condenadas) — acontecimentos incômodos que ocorrem no dia a dia e que sequer são percebidos. Eventos e aspas testemunhados pelo autor aparecem ao longo dos artigos, onde não são poupados os sujeitos ou próprio leitor, que por repetidas vezes, se encontrará tomando um touché entre as acusações feitas a cada artigo.

“Manual do Cretino” pode, à priori, soar agressivo, ou até mesmo bem humorado. É uma questão de perspectiva, mas é de fato melhor aproveitado quando se encontra o meio termo. Como o autor cita em sua carta ao leitor, às vezes as pessoas não entendem um texto literário – que ao invés de ser tomado como uma ‘verdade’, pode levar a reflexões sobre comportamentos, relações e até mesmo pensamentos indevidos.

Obra é resultado da escuta de mais de 30 mil pessoas em delegacias

Como policial, André Luiz trabalhou em importantes delegacias da capital paulista, como nos Jardins (78 DP), Mooca (57 DP e 8 DP), Santa Cecília (77 DP) — sendo esta que abrange a área da Cracolândia, atuando no local de 2013 a 2019. Além disso, ainda trabalhou no Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). 

“Posso dizer que aprendi muito em todos estes lugares, uma vez que sempre fui policial de frente, secretariando inquéritos e em plantões. Então, quando escrevo o que escrevo, pode ter certeza que tenho autoridade, pois vivi, pois trabalhei, pois me dediquei e fiquei muito próximo a marginais e outras pessoas que mais precisavam de atenção do que corretivos”, frisa o autor. “Era olho no olho. Dava para sentir a respiração. Essa experiência toda se tornou material de estudo e, em consequência, textos, muitos textos”, frisa, calculando que tenha ouvido mais de 30 mil pessoas em seu ofício.

Como é formado em filosofia, André Luiz faz uso da ciência do pensamento para investigar gestos, ações e crenças. Platão, Sócrates, Aristóteles, Santo Agostinho, Descartes e Nietzsche são suas principais referências literárias, embora confesse que para esse “Manual”, não tenha inspiração de uma obra específica, mas de sua rotina na Delegacia de Polícia. 

O autor passou a escrever em 2014 – publicando em redes sociais sob incentivo de sua esposa, Joana Marcela. Desde então, ele não parou mais e mantém o ritmo: escreve uma média entre 5 e 6 livros todos os anos. Seu próximo livro, “Pescador de Ilusão’’, será lançado pela mesma editora.

Leia um trecho de “Manual do Cretino” (pág. 175):

“O que tem de gente falsa? O que tem de gente fingida? O que tem de gente que não agüenta uma investigação? Caminham um ao lado do outro e, vez ou outra se encontram… Tudo interesse.” (Pág. 108) “No fundo ou no raso, a pessoa e sua forma de viver interessa somente a ela e, somente ela. (…) Mas temos cretinos nas sarjetas, aqueles que geralmente ‘não precisam de ninguém’.”

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