Crianças na mira da desinformação: como as redes sociais estão alienando uma nova geração

Alunos utilizam tablet para responder a um questionário sobre os jogos e sites mais utilizados por eles (Imagem: Divulgação MKT Colégio Marista Arquidiocesano)


Em um mundo cada vez mais digitalizado, as crianças estão se tornando alvos vulneráveis de desinformação e fake news nas redes sociais. Um projeto inovador, desenvolvido por estudantes universitários, levanta um alerta sobre os perigos da falta de educação midiática para os mais jovens, enquanto tenta promover um ambiente de conscientização e preparo para o consumo de informações na internet.

A iniciativa, que surgiu em uma faculdade de comunicação em São Paulo, foca em criar programas educativos para crianças e adolescentes sobre como reconhecer e combater notícias falsas. “As crianças hoje têm acesso a uma quantidade massiva de informações, mas não têm as ferramentas necessárias para discernir o que é verdadeiro do que é falso”, afirma Mariana Oliveira, uma das líderes do projeto.

Segundo um estudo recente da Unesco, crianças expostas a informações falsas nas redes sociais estão em risco de desenvolver uma visão distorcida da realidade. O impacto não é apenas imediato; ele pode afetar a formação de opiniões e a capacidade crítica ao longo da vida. “Estamos falando de uma geração que cresce acreditando em mentiras e teorias da conspiração, muitas vezes disseminadas por pessoas com agendas específicas”, alerta o professor José Carlos Silva, especialista em mídia digital.

O problema é complexo e multifacetado. As plataformas de redes sociais, como TikTok, Instagram e YouTube, tornaram-se os principais canais de comunicação para os mais jovens. Essas plataformas utilizam algoritmos que promovem conteúdo baseado no engajamento, não na veracidade, o que pode amplificar a disseminação de desinformação. Um relatório da ONG Media Matters revelou que o conteúdo de teorias da conspiração e fake news é compartilhado até três vezes mais do que notícias verificadas nessas plataformas.

O projeto dos estudantes, batizado de “Educação Midiática para Todos”, tem como objetivo mudar esse cenário, começando pela sala de aula. A proposta inclui oficinas interativas, debates e atividades práticas que ensinam os jovens a identificar notícias falsas, compreender o papel dos algoritmos e questionar as fontes de informação. “Não estamos apenas ensinando a evitar fake news, mas também a pensar criticamente sobre todas as informações que recebem”, acrescenta Mariana.

Além das atividades em escolas, o projeto também busca expandir sua atuação para comunidades mais vulneráveis, onde o acesso à informação confiável é ainda mais limitado. “É essencial entender que desinformação é também uma questão de justiça social. Comunidades de baixa renda têm menos acesso a recursos educacionais que os ajudam a lidar com a desinformação, e isso perpetua um ciclo de alienação”, pontua um dos estudantes envolvidos na iniciativa.

Embora o projeto tenha recebido apoio de várias instituições acadêmicas e ONGs, os desafios são imensos. A resistência de algumas escolas em incorporar a educação midiática ao currículo regular e a falta de investimento público em programas de alfabetização digital são obstáculos significativos. “Precisamos de uma política pública robusta que reconheça a educação midiática como uma prioridade. Sem isso, estamos condenando uma geração a navegar no mar da desinformação sem um mapa ou bússola”, conclui José Carlos Silva.

Com o aumento do uso de redes sociais por crianças a partir dos 8 anos, conforme aponta pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), o tema se torna ainda mais urgente. “Enquanto não tratarmos a educação midiática como fundamental para a formação dos nossos jovens, continuaremos a ver o crescimento da alienação e da desinformação”, alerta Mariana Oliveira.

O debate sobre a responsabilidade das plataformas e do governo no combate à desinformação para o público infantil está apenas começando. Uma coisa é certa: sem uma ação coletiva e coordenada, o futuro da informação pode estar nas mãos de algoritmos cegos ao compromisso com a verdade.


Nota do Editor: A educação midiática emergiu como uma necessidade urgente em tempos de proliferação de fake news. É um chamado à ação para pais, educadores e governos: proteger nossas crianças é também educá-las para serem cidadãs críticas e informadas.


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