Confissões de Mauro Cid detalham ação do ‘gabinete do ódio’
A citação aos integrantes do gabinete do ódio teria sido uma das exigências para que o acordo fosse homologado em setembro. Segundo o relatório vazado para a mídia conservadora, nesta segunda-feira, Cid relatou ainda a relação dos membros do grupo com os integrantes do clã Bolsonaro
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro (PL), detalhou, em seu acordo de delação premiada, como funcionava o “gabinete do ódio” no governo do qual fez parte desde o início. A Polícia Federal (PF) teria exigido que Cid detalhasse o papel de cada ex-assessor do ex-chefe do Executivo no esquema montado no Palácio do Planalto, para atacar adversários políticos pelas redes sociais.
A citação aos integrantes do gabinete do ódio teria sido uma das exigências para que o acordo fosse homologado em setembro. Segundo o relatório vazado para a mídia conservadora, nesta segunda-feira, Cid relatou ainda a relação dos membros do grupo com os integrantes do clã Bolsonaro. O principal líder do ‘gabinete do ódio’, segundo o militar, seria o segundo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, chamado de ’02’.
A delação de Cid já revelou informações sobre a venda ilegal das joias sauditas, a fraude nos cartões de vacina no sistema do Ministério da Saúde e a tentativa de golpe de Estado após a divulgação dos resultados das eleições do ano passado. Bolsonaro figura no centro de todas as suspeitas confirmadas no depoimento do militar.
Quartel
No cargo de ajudante de ordens, Mauro Cid teve acesso livre ao Palácio do Planalto, ao lado de Bolsonaro em entrevistas, transmissões ao vivo pela internet, reuniões e até mesmo em salas de cirurgias, sendo o braço-direito e secretário particular do mandatário neofascista nos quatro anos do governo passado. As memórias dele e os acessos que teve aos locais tornam a delação uma dor de cabeça sem precedentes para o ex-comandante em chefe.
Mauro Cid foi preso no dia 3 de maio, em uma operação da PF que investiga a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema de saúde. Após ter o pedido de delação premiada homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Cid foi liberado de um quartel onde estava detido no dia 9 de setembro.
O militar, hoje afastado de suas funções, admitiu participação no esquema de fraudes dos cartões de vacina de covid-19 no sistema do Ministério da Saúde e implicou Bolsonaro como o mandante. O site diz que o ex-chefe do Executivo pediu que os cartões dele e da filha, Laura, de 13 anos, fossem manipulados.
‘Plena ciência’
Segundo o tenente-coronel, os documentos fraudados foram impressos e entregues ao ex-presidente para que ele usasse quando “achasse conveniente”. Os dados falsos de Bolsonaro e de Laura teriam sido inseridos no sistema do Ministério da Saúde por servidores da Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no dia 21 de dezembro de 2022, nove dias antes de o ex-chefe do Executivo viajar para os Estados Unidos, às vésperas da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Naquela época, as leis norte-americanas exigiam que os viajantes comprovassem a imunização contra a covid-19.
A declaração de Cid confirmou hipóteses já trabalhadas pela PF. Segundo os investigadores, Bolsonaro e aliados tinham “plena ciência” das falsificações.
Cinco dias depois de sair da prisão, foi revelado que Cid disse aos investigadores que entregou ao ex-presidente uma parte do dinheiro proveniente do esquema ilegal de venda de joias no exterior. O tenente-coronel admitiu à PF que participou ativamente da venda de dois relógios, um da marca Rolex e outro da Patek Phillipe.
Delação
O dinheiro da comercialização ilegal teria sido depositado na conta do pai dele, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid. Assim, Bolsonaro teria recebido em mãos US$ 68 mil de forma parcelada, com um repasse nos Estados Unidos e outro no Brasil.
Outra informação cedida por Cid à PF durante a delação premiada foi a de que Bolsonaro teria se reunido com a cúpula das Forças Armadas, após o segundo turno das eleições presidenciais, para discutir a possibilidade de uma intervenção militar para reverter o resultado que elegeu Lula para a Presidência da República.