Comércios locais em cidades em expansão: desafios e oportunidades
Como o varejo local das pequenas cidades pode se preparar para os desafios do aumento da população e da alta concorrência?
São muitas as razões pelas quais pequenas cidades, principalmente no litoral brasileiro, vêm se expandindo de maneira acelerada. Um dos principais motivos é a busca pela qualidade de vida que regiões litorâneas e mais calmas oferecem: contato com a natureza, segurança, um ritmo menos acelerado, qualidade nos serviços públicos, como educação e saúde. Diversos pontos fazem com que cada vez mais pessoas deixem os grandes centros e busquem pequenas cidades.
A Pandemia do Covid 19 acentuou a migração, principalmente para o litoral de Santa Catarina. De acordo com dados do IBGE, entre os anos de 2000 e 2010, a população residente em áreas urbanas do litoral catarinense cresceu cerca de 12,3%, enquanto a população brasileira cresceu apenas 1,17%. O referido aumento se concentrou principalmente nas cidades mais desenvolvidas, como Florianópolis, Balneário Camboriú, Itajaí e Joinville, sendo a maioria delas, litorânea.
Embora os números do último censo ainda não revelem o aumento mais recente, dados como a quantidade de veículos e de matrículas escolares no ensino fundamental já apontam um crescimento ainda maior na última década.
Benefício ou prejuízo para população e comércio local?
Enquanto muitas pessoas vêem com otimismo a expansão das cidades, o aumento da população, principalmente nas regiões litorâneas tem trazido impactos significativos, também negativos para suas comunidades. Se por um lado, o desenvolvimento do turismo e do setor imobiliário impulsiona a economia local e gera novas oportunidades de emprego e renda para a população, por outro, este crescimento acelerado traz problemas relacionados à urbanização desordenada, como congestionamentos de trânsito, especulação imobiliária, falta de infraestrutura adequada para atender às necessidades da população e perdas no meio ambiente que, consequentemente, afetam a qualidade de vida das pessoas.
Outra questão que pode impactar drasticamente as cidades é a chegada de grandes marcas que, muitas vezes, não levam em consideração os hábitos culturais e a identidade da região, trazendo o modelo globalizado de mercado e apagando a história e o modo de vida de pequenas cidades. Além disso, grandes redes logicamente mais estruturadas e com uma oferta focada em alta competitividade deixam pequenos e médios comerciantes fora do jogo. “Nessas horas, os empresários locais devem estar preparados, com um ecossistema articulado, que valorize sua identidade, sua cultura e seu meio de vida, que atue com inovação e de forma sustentável para oferecer ao consumidor a melhor experiência”, avalia a Arquiteta especialista em Visual Merchandising e Varejo, Valéria Casttro.
Como vencer os desafios e tornar seu negócio mais lucrativo?
Em entrevista, a especialista Valéria Casttro apontou diferentes fatores que podem melhor preparar pequenas e médias cidades e seus empresários para os desafios da expansão acelerada. “É preciso dar condições para que comerciantes fixos e itinerantes, e dirigentes da cidade melhorem o varejo, criando mais empregos, auxiliando os comércios locais e atraindo gente de fora que entenda e respeite a forma de vida da região.”
Segundo a arquiteta de Negócio, o principal desafio é entender o que a geração Z (geração consumidora) valoriza no espaço de venda – loja ou comércio de produto ou serviço. “Ou seja, o ambiente deve ser muito agradável e de acordo com as aspirações desse público. Mas, não é apenas o ambiente. A curadoria dos produtos, as ações sociais, tudo é importante. Hoje,72% dessa geração consome de marcas que tenham comprometimento com a sustentabilidade. A forma de vender, negociar e entregar também é muito importante”, explica.
Acelerada com a pandemia, a tendência online é uma realidade. Mas segundo Valéria, essa deve ser uma facilidade, pois o varejo tem um papel ainda mais importante: ser um ponto de encontro presencial. “A compra híbrida, física ou on-line, em que eu retiro minha compra ou me entregam ela com rapidez onde eu estiver é uma grande tendência desta era tecnológica. Mas a cereja do bolo ainda é o ponto físico, a experiência.”
Valéria garante que a curadoria do produto deve estar integrada com a comunidade local. “O lojista, para ter assertividade, tem que saber com profundidade o que o seu público alvo deseja do seu negócio. Para isso, tem que estreitar o relacionamento, cuidar das particularidades de cada cliente. O pilar PESSOAS é fundamental, não importa o tamanho do negócio. Tem que trabalhar a sua imagem de forma atualizada, sustentável, inclusiva e acolhedora, com atendimento personalizado”, completa. “As pessoas, pós-pandemia, estão na busca de relacionamentos com proximidade, os dois anos de distanciamento vivenciados por todo o mundo criaram uma demanda de contato físico, que tem exigido um olhar mais apurado para a experiência dos espaços de convivência.”
Ecossistema sustentável no Varejo: um movimento colaborativo
Diante dos desafios, Valéria traz o olhar sobre as ações colaborativas, unindo a cidade na criação de um ecossistema saudável no momento da sua expansão, mais inclusivo e que gera impactos sociais, ambientais e culturais positivos, mostrando uma sustentabilidade mais prática do que teórica. “Este tipo de ação deve expandir para a cidade toda. Um ecossistema é feito com a colaboração de vários pilares, para que tenhamos público o ano inteiro, para promover a credibilidade do varejo local, e para que o público realmente possa consumir dos locais”, avalia.
Segundo a profissional, são os varejistas, lojistas, comerciantes, empresários locais as grandes chaves para a sustentabilidade das cidades em diversos níveis. Não sozinhos, mas unidos e incluindo outras esferas da sociedade. E que o efeito desta articulação gera resultados em todos os âmbitos. “A exemplificação do comércio local será a base para a compreensão mercadológica daqueles que chegam, de âmbito nacional e até global, como é cada vez mais comum as grandes grifes em pequenas cidades turísticas. Esta evolução comercial é altamente importante e benéfica para a comunidade local, se respeitando os modelos criados por aqueles que já estão construindo o ecossistema”, defende Valéria.
“Respeitando o Plano Diretor, por exemplo, feito de maneira participativa com lojistas e consumidores, todos ganham, mas na inexistência deste plano, as perdas podem ser irreparáveis. O meu trabalho de três décadas na arquitetura de negócio e as pesquisas que tenho feito nos últimos anos confirmam que é na sustentabilidade e no respeito ao meio ambiente, que juntos podemos construir negócios saudáveis, financeiramente e socialmente.”