Espetáculo discute o racismo estrutural e mostra como o adjetivo é usado para xingar o povo preto no Brasil
O apagamento das memórias e ancestralidades negras dão a tônica no espetáculo “MACACOS”, da Cia do Sal, dirigido e interpretado pelo ator Clayton Nascimento. A peça reestreia no Teatro Ipanema, na sexta-feira, 28 de abril, e segue até dia 7 de maio.
O espetáculo aborda a estruturação do racismo no Brasil e se coloca em cena a partir do relato de um homem negro em busca de outros espaços para ocupar diante do adjetivo MACACO, que nomeia a obra. O ator e diretor, Clayton Nascimento, lembra que, em muitos casos, o adjetivo é utilizado como xingamento ao povo negro. Além disso, a peça trata sobre episódios da História Geral do país, até chegar aos relatos e estatísticas das mães e famílias dos jovens negros presos ou executados pela polícia militar no Brasil.
“Os questionamentos desse homem negro convidam o público a pensar e debater sobre os preconceitos mascarados, que existem na estruturação e no cotidiano brasileiro. Com a pandemia do COVID-19, esses números se agravam e aumentam, evidenciando assim o grande desequilíbrio social ao qual nossa nação está estruturada”, explica Clayton que vive um momento especial na carreira não só pelas premiações recentes como também pela confirmação no elenco de Fuzuê, próxima novela da Rede Globo.
Estrutura cênica
Ulisses Dias, diretor da Bará Produções e produtor geral do espetáculo, explica que “MACACOS” é uma montagem que conta somente com um ator e um batom, e trata do preconceito contra os povos pretos, a partir do relato de um homem preto que busca respostas para o racismo que rodeia seu cotidiano e a história de sua comunidade.
“A obra se desenrola num fluxo de pensamentos, desabafos e elucidações que surgem em cenas pautadas em nossa história geral, como também em situações vividas por grandes artistas negros: Elza Soares, Machado de Assis, e Bessie Smith, até alcançar relatos e estatísticas de jovens negros presos e executados pela Polícia Militar no Brasil”, analisa.
Cronologia
No ano de 2015, MACACOS começou a ser desenvolvida, no entanto, só chegou ao grande público no Festival Verão Sem Censura e pelo Festival Farofa, ambos em São Paulo, em 2020, um mês antes da pandemia da Covid-19. A peça já passou pelos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará, Pernambuco, Brasília e Amazonas, e, agora, volta aos palcos cariocas.
“Durante sua turnê nacional, o espetáculo se comprometeu, diante de cada estado brasileiro, a pesquisar junto com historiadores e moradores das regiões, o que aconteceu naquele determinado estado em relação às decisões da Corte Portuguesa durante a escravatura. Para isso, tornou-se necessário criar uma nova cena dentro da obra para cada um desses estados conforme as apresentações”, afirma o ator e diretor.
Premiações
Entre os anos de 2016 e 2023, tanto o espetáculo quanto o protagonista, Clayton Nascimento, receberam diversos prêmios por conta da montagem da peça. Entre elas estão, mais recentemente, o Prêmio Shell 2023, de melhor ator. Além disso, Clayton também venceu na categoria melhor ator o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), em 2023, em que também foi indicado como melhor dramaturgo; melhor ator no FESTKAOS, em 2022; FESTIC Caruaru, também como melhor ator, em 2019.
Já a peça recebeu outras premiações coletivas, como Melhor Peça, no Festival Breves Cenas de Teatro, em Brasília, em 2019; Melhor Montagem, no Festival de Teatro do Amazonas, em 2017; Melhor Montagem, no Festival de Teatro de Cabo Frio (RJ), em 2016.
Serviço:
Apresentações: Sextas e sábados às 20h, domingo às 19h 28, 29 e 30 de abril; 5, 6 e 7 de maio.
Local: Teatro Ipanema (192 lugares)
Endereço: R. Prudente de Morais, 824 – Ipanema, Rio de Janeiro
Ingressos disponíveis no Sympla:
Valores: Inteira: R$40 / Meia R$20