22 de setembro de 2024

Bolsonaro mira delegado da PF: Associação Nacional de Delegados repudia ataques e aumenta pressão política

Eduardo Bolsonaro fez ataques ao delegado Fábio Shor na tribuna da Câmara Foto: Nilson Bastian/Câmara dos Deputados © Fornecido por Estadão

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) divulgou nesta semana uma nota contundente em resposta aos ataques feitos por deputados federais, com destaque para Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Marcel Van Hattem (NOVO-RS) e Gilberto Silva (PL-PB), direcionados ao delegado da Polícia Federal Fábio Shor. O episódio evidencia mais um capítulo da crescente tensão entre setores do Judiciário e figuras proeminentes do cenário político nacional.

Fábio Shor, o alvo das críticas, é o responsável por investigações sensíveis que envolvem inquéritos relatados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Tais inquéritos têm como foco apurações de crimes ligados ao ataque às instituições democráticas e à disseminação de notícias falsas, temas que acenderam a polarização política no Brasil nos últimos anos.

Eduardo Bolsonaro, conhecido por sua postura combativa e alinhamento com o discurso bolsonarista, não poupou críticas ao delegado, sugerindo que Shor estaria conduzindo as investigações com viés político. Em um tom que se aproxima da intimidação, Bolsonaro insinuou que as ações do delegado poderiam ser motivadas por interesses alheios à justiça. A declaração foi rapidamente endossada por Van Hattem e Silva, reforçando um coro de acusações que ressoa nas redes sociais e em discursos públicos.

A ADPF, em resposta, caracterizou os ataques como “inaceitáveis” e ressaltou a importância de preservar a independência e imparcialidade das investigações conduzidas pela Polícia Federal. Na nota, a associação enfatizou que “os delegados da Polícia Federal atuam com base na lei e na Constituição, não podendo ser alvo de intimidações ou pressões políticas que visam deslegitimar o trabalho investigativo”. O texto ainda reforça a confiança na integridade do delegado Fábio Shor e repudia tentativas de interferência no trabalho técnico da corporação.

Essa não é a primeira vez que figuras políticas próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro atacam membros do Judiciário ou das forças de segurança pública. Desde que as investigações sobre a disseminação de fake news e os atos antidemocráticos ganharam força, há uma escalada de discursos agressivos contra aqueles que conduzem as apurações.

A polêmica reacende o debate sobre a fragilidade das instituições brasileiras diante de um cenário de intensa polarização. Críticos apontam que os ataques a agentes públicos, como os delegados da Polícia Federal, podem minar a confiança da população nas instituições e enfraquecer o Estado de Direito. Por outro lado, apoiadores do grupo bolsonarista veem nas declarações de Eduardo Bolsonaro uma defesa legítima contra o que consideram ser um abuso de poder por parte do Judiciário.

Em meio a esse ambiente conturbado, a sociedade brasileira se vê diante de uma encruzilhada: de um lado, a necessidade de proteger e fortalecer as instituições democráticas; de outro, a pressão de um setor político que se sente ameaçado pelas investigações em curso. O desfecho dessa disputa, ainda incerto, terá repercussões profundas no futuro político do país.

A nota da ADPF encerra com um apelo à serenidade e ao respeito à lei, reforçando que qualquer tentativa de deslegitimar o trabalho da Polícia Federal representa um risco à democracia. No entanto, a realidade mostra que, em tempos de polarização extrema, as palavras de repúdio podem não ser suficientes para conter os ânimos exaltados de um debate que, cada vez mais, ganha contornos de uma batalha política intensa e sem tréguas.

Optimized by Optimole