Automutilação na adolescência. Quais as razões e os sinais de alerta?

Por Andréa Ladislau

Muitas famílias enfrentam a automutilação ou o “cutting” dentro de casa, praticado com maior frequência, pelos adolescentes. Uma prática a qual, devemos ter atenção redobrada, por se tratar de uma autolesão, que pode afetar tanto meninos quanto meninas, na faixa etária de 10 aos 19 anos. Mas, o que seria esse tipo de comportamento? Quais as causas e o tratamento mais adequado?

Como o próprio nome já diz, a automutilação é o ato de realizar, intencionalmente, pequenos cortes, superficiais, geralmente em locais fáceis de esconder, como braços, pernas e ombros.

Ela nos sinaliza da existência de um problema emocional que precisa ser tratado e que, normalmente, está associado à presença de algum tipo de tristeza profunda que, nem sempre tem um motivo aparente ou evidente.

O corte, em si, é sempre a expressão de um outro problema. É a substituição de uma dor emocional – muitas vezes pouco clara até mesmo para o adolescente que a sente – por uma outra dor, física, com a qual à primeira vista é mais fácil de se lidar. Ou seja, as razões incluem a dificuldade em gerenciar uma dor emocional e a expressão de sentimentos inarticulados que remetem à busca por controle.

Sabemos que a adolescência é um dos momentos mais delicados na vida do ser humano. É a fase da formação da identidade e da personalidade. Sendo assim, é indispensável um olhar cuidadoso para diagnosticar e tratar as questões que possam ter contribuído para desencadear a automutilação.

[Os sinais de alerta para saber se o adolescente está praticando a automutilação se referem à feridas inexplicáveis, seguidas pelo uso de roupas prolongadas que objetivam esconder a pele e os ferimentos, além de uma visível e recorrente, instabilidade emocional.

Infelizmente, no mundo registra-se mais de um bilhão de pessoas que vivem com transtornos mentais, segundo a OMS. Dentre esses, muitos jovens apresentam cortes, perfurações, queimaduras, arranhões e contusões, que são as expressões mais comuns desse tipo de violência que consiste em causar dano ao próprio corpo.

Estudos recentes realizados pela Universidade Federal Fluminense destacam que, 83% dos casos de motivação desse tipo de comportamento, estão relacionados a conflitos familiares. Um ambiente desarmônico, brigas familiares intensas e a separação dos pais, também podem ser considerados gatilhos para o problema.

Uma vez que, essa fase do desenvolvimento da vida, é carregada por sentimentos conflitantes, busca por autonomia e desligamento do corpo infantil, além da sensação de que falta alguém em quem confiar. Desta forma, se machucar é a maneira que muitos adolescentes encontram para enfrentar o sofrimento, pela dificuldade de se expressar, baseado em um discurso único: “prefiro sentir a dor do corpo, do que sentir a dor da alma”.

Como tratar o problema? O tratamento para a automutilação é, principalmente, a valorização do acolhimento e da comunicação com esse adolescente. O diálogo é muito importante neste momento. Além da promoção de iniciativas conjuntas entre a família e a escola, voltadas para a prevenção e o combate à autolesão.

Portanto, não é incomum ouvir relatos de jovens se ferindo e tentando esconder lesões da família e dos amigos, através do isolamento e da limitação da vida social. A terapia associada a orientação acadêmica e a aproximação familiar, através de um diálogo aberto e um olhar atento para identificar onde estão estas dores, contribuem muito para evitar a normatização desse comportamento disfuncional.

Pois, os conflitos internos sempre irão existir, principalmente, seja na adolescência ou na vida adulta, entretanto, aprender a lidar com eles, de forma mais madura e saudável, sem a necessidade de machucar o próprio corpo, é o maior ganho que o adolescente poderá ter, dentro de seu processo de autoconhecimento.

Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista

Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas,para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.


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