Anvisa proíbe “chip da beleza” e alerta sobre riscos de implantes hormonais manipulados
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou a proibição da fabricação, manipulação, comercialização, propaganda e uso de implantes hormonais manipulados, popularmente conhecidos como “chip da beleza”. A decisão, publicada nesta sexta-feira (18), veio após uma forte campanha liderada por importantes entidades médicas, incluindo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e a Associação Médica Brasileira (AMB), que alertaram sobre os riscos à saúde associados ao uso indiscriminado desses produtos.
O “chip da beleza” é comumente produzido em farmácias de manipulação e utilizado por mulheres que buscam aumentar a massa muscular, reduzir gordura corporal e melhorar o bem-estar. O produto, composto majoritariamente por gestrinona, um hormônio sintético com propriedades antiestrogênicas e androgênicas, não possui registro ou controle de dosagem pela Anvisa. A falta de fiscalização sobre a produção desses implantes tem gerado preocupações na comunidade médica devido aos efeitos colaterais graves e à ausência de estudos científicos que comprovem sua segurança e eficácia.
Diferente de implantes hormonais contraceptivos, como o Implanon, que contém etonogestrel e é aprovado pela Anvisa, os implantes manipulados são vendidos sem um controle rigoroso. A presidente da FEBRASGO, Dra. Maria Celeste Wender, destacou que o risco está na falta de precisão da liberação hormonal no corpo, o que pode provocar consequências sérias à saúde das mulheres. “Os implantes manipulados não têm respaldo em estudos científicos robustos. A liberação hormonal descontrolada pode causar desde alterações irreversíveis na voz até problemas graves de fertilidade, entre outros efeitos adversos como infarto, trombose e complicações hepáticas”, alertou Wender.
Além dos alertas de especialistas, a plataforma VIGICOM Hormônios, lançada em agosto, já registrou 233 casos de efeitos adversos relacionados ao mau uso de hormônios. Essa ferramenta permite que médicos relatem casos clínicos envolvendo problemas decorrentes do uso inadequado dessas substâncias, oferecendo um panorama preocupante sobre os riscos associados aos implantes hormonais não regulamentados.
A decisão da Anvisa é vista como uma vitória pela FEBRASGO e outras entidades médicas, que há anos defendem a necessidade de maior regulação sobre produtos hormonais manipulados. O ex-diretor da Anvisa, Dr. Dirceu Barbano, também elogiou a medida, considerando-a um passo fundamental para proteger a saúde das brasileiras. Segundo ele, essa é mais uma prova de que a agência atua em sintonia com as demandas das sociedades médicas.
A comercialização do “chip da beleza” explodiu nos últimos anos, com forte promoção em redes sociais e entre influenciadores, prometendo resultados estéticos rápidos. No entanto, as consequências podem ser devastadoras. Além de efeitos dermatológicos e psiquiátricos, como queda de cabelo e acne severa, há relatos de complicações cardiovasculares e renais.
Com a proibição, a Anvisa reforça a importância do controle rigoroso sobre medicamentos hormonais, especialmente aqueles que não possuem o respaldo necessário para garantir a segurança dos consumidores. A ação é vista como um marco na proteção da saúde pública, e o próximo desafio será garantir a fiscalização rigorosa para impedir que esses produtos continuem circulando no mercado clandestinamente.