5 de maio de 2024

Análise: Como fechou o mercado de trabalho em dezembro de 2023?

Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria (Foto: Isaque Martins)

Por Virgilio Marques dos Santos

À medida que o primeiro trimestre de 2024 se desdobra, o mercado de trabalho brasileiro apresenta sinais de uma transformação notável, marcada por uma série de desenvolvimentos encorajadores.

A redução da taxa de desocupação e o aumento da população ocupada emergem como indicadores-chave, refletindo uma economia que, apesar dos desafios globais e locais, mostra sinais de resiliência e dinamismo. Este período de análise revela não apenas uma melhoria nas métricas tradicionais de emprego, mas também uma evolução nas tendências de trabalho, incluindo um aumento significativo na ocupação informal, que traz consigo um conjunto complexo de implicações para o tecido socioeconômico do país.

Compreender essas mudanças é fundamental para desvendar os contornos da recuperação econômica do Brasil e antecipar os caminhos futuros que a nação pode seguir.

O aumento dos rendimentos médios reais sugere uma melhora no poder de compra e na qualidade de vida de muitos brasileiros, enquanto a predominância de vagas para pessoas com ensino médio completo e jovens indica uma mudança potencial na estrutura da força de trabalho.

Desempenho do mercado de trabalho

Pela carta de conjuntura do IPEA número 62, os dados do mercado de trabalho de dezembro de 2023 coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) podem ser resumidos:

● População Ocupada (PO): 101,1 milhões (+2,7% interanual);

● Força de Trabalho (PEA): 109 milhões (+1,6% interanual);

● Taxa de Participação: 62,1% (+0,4 p.p. interanual);

● Taxa de Desocupação: 7,2% (-1,0 p.p. interanual);

● População Desocupada (PD): 7,9 milhões (-10,6% interanual);

● Nível da Ocupação (NO): 57,6% (+1,0 p.p. interanual);

● Subocupação: 5,2 milhões (+20% interanual);

● Desalento: 3,6 milhões (-11% interanual);

● Rendimentos Médios Reais (Habituais): R$ 3.047,00 (+3,8% interanual);

● Rendimentos Médios Reais (Efetivos): R$ 3.352,00 (+3,1% interanual);

● Massa Salarial Real (Habitual): alta de 6,6% interanual;

● Massa Salarial Real (Efetiva): alta de 5,8% interanual.

Para a desocupação, o resultado foi o melhor desde janeiro de 2015. E, para os demais indicadores, pode-se verificar melhora em todos, com exceção da subocupação. A subocupação é parte integrante da estrutura de mensuração da força de trabalho, sendo calculada com base nas capacidades correntes e na situação de trabalho das pessoas ocupadas. Ou seja, houve um aumento de 20% no número de trabalhadores que desejavam trabalhar mais.

No que diz respeito à ocupação por vínculo empregatício, os dados da PNAD Contínua apontam que, assim como vem ocorrendo nos últimos meses, em dezembro, o crescimento da ocupação informal foi maior que o registrado pelo setor formal. Enquanto o número de ocupados informais avançou 4,8% em dezembro, na comparação interanual, o contingente de trabalhadores formais registrou alta de 1,2%.

De modo semelhante, as estatísticas apuradas pelo Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência, também mostram que a ocupação formal segue em expansão, mas em ritmo mais moderado. No acumulado de 2023, a economia brasileira gerou 1,48 milhão de novas vagas formais, abaixo, portanto, dos mais de 2 milhões de empregos com carteira assinada criados em 2022. Como resumo, pode-se apontar:

● Postos de trabalho destruídos em dezembro: 430.159, uma redução em comparação com o mesmo período de 2022 (455.715);

● Saldo de empregos gerados em 2023: 1.483.598, representando uma diminuição de 26% em relação ao ano anterior (2.013.261);

● Distribuição de novas vagas: 5,9% foram geradas sob a forma de contratos de trabalho intermitente, 1,8% de trabalho temporário e 3,6% foram para jovens aprendizes;

● Estoque de trabalhadores formais: aproximadamente 43,9 milhões, expandindo-se 35% em relação ao mesmo período de 2022;

● Criação de empregos por setor em 2023: serviços administrativos (279.539), comércio (276.528), construção civil (158.940) e serviços de alojamento e alimentação (119.791);

● Empregos criados por grau de instrução: a grande maioria se destinou a trabalhadores com ensino médio completo, correspondendo a quase 90% do total gerado;

● Faixa etária das novas vagas: mais de 1 milhão de novas vagas foram ocupadas por jovens de 18 a 24 anos, enquanto houve uma redução de vagas para trabalhadores com mais de 50 anos;

● Salário médio real de admissão: R$ 2.026,00, com um aumento de 20% em comparação com dezembro de 2022.

Desses pontos, percebe-se uma criação de 1 milhão de vagas para profissionais de 18 a 24 anos, mostrando que, apesar da geração “nem-nem” em alta, uma boa parcela dos jovens começou a conseguir uma oportunidade. Além disso, cada vez mais o grau de instrução é fundamental para o profissional ingressar no mercado de trabalho. E, ao ingressar, os salários estão 20% melhores do que há um ano. Considerando a inflação na casa de 5%, o ganho real desse trabalhador alcançou os 15%.

Quanto aos setores que mais contribuíram, nada novo. Serviços administrativos, comércio e construção civil puxam a fila. A indústria, dados os desafios, não está conseguindo participar de forma significativa na geração de emprego e renda, apesar dos inúmeros incentivos e programas. Como sugestão, o governo deveria se atentar no apoio aos setores que mais geram no momento, se livrando um pouco dos planos que prometem um futuro que nunca chegará.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

Sobre o Autor