A trajetória tortuosa da preservação de uma área verde em Curitiba: um caso de descaso e injustiça
A cidade de Curitiba, conhecida por seus parques e áreas verdes, enfrenta um paradoxo em relação à preservação ambiental. Enquanto se orgulha de sua vocação ecológica, a Prefeitura demonstra, em alguns casos, uma postura incoerente e prejudicial à proteção do meio ambiente. Um exemplo emblemático dessa situação é a história da área de 55 mil metros quadrados no bairro Boqueirão, que abriga um importante fragmento de Mata Atlântica, incluindo cerca de 550 araucárias, muitas delas centenárias, e milhares de outras espécies nativas.
Desde 2019, essa área, pertencente ao empresário José Luís Schuchovski, se encontra em um limbo jurídico, à mercê de decisões contraditórias e descabidas da Prefeitura. A saga começou em 1991, quando a região foi declarada Área de Preservação Ambiental (APA) na bacia do Rio Iguaçu, reconhecendo a importância ecológica do local. No entanto, a Prefeitura classificou erroneamente os 11 lotes que compõem a área como “área de média restrição de uso”, o que desvalorizava os imóveis e abria margem para atividades incompatíveis com a preservação ambiental.
Schuchovski, apesar de ter o direito de explorar os lotes, optou por manter a área intocada, preservando a rica biodiversidade presente. Ele próprio investiu na proteção do local, cercando e monitorando a área para evitar invasões e degradação. Em 2015, após um longo processo administrativo, a Prefeitura finalmente reconheceu o erro na classificação inicial e, com base em estudos técnicos, reconheceu a área como “Setor de Transição”, reconhecendo o real valor do local e abrindo caminho para a desapropriação para incorporação à APA.
A Prefeitura se preparava para adquirir os lotes e integrar a área à proteção ambiental, quando, em 2019, um golpe de misericórdia destruiu a esperança de uma solução justa e definitiva. A nova gestão, contrariando a própria legislação e decisões anteriores, anulou a classificação como “Setor de Transição” e retomou a classificação errônea de “área de média restrição de uso”.
A Prefeitura, ao desconsiderar os estudos técnicos e o valor da área, demonstra total desprezo pelos esforços de Schuchovski e pela importância da preservação da área. A decisão é ainda mais grave se considerarmos que o próprio município já reconheceu o valor ecológico do local, incluindo a área na APA.
Essa situação representa um grave retrocesso para a política ambiental de Curitiba. A Prefeitura, ao desvalorizar e dificultar a desapropriação da área, coloca em risco um importante fragmento de Mata Atlântica e compromete os próprios objetivos de preservação ambiental que afirma defender.
A história da área no Boqueirão se torna um exemplo de como a falta de coerência e de compromisso com o meio ambiente pode prejudicar a proteção de bens naturais de grande valor ecológico. A Prefeitura de Curitiba tem a obrigação de reavaliar sua posição e agir de forma responsável e justa, reconhecendo o valor da área e completando o processo de desapropriação para garantir a proteção definitiva desse importante fragmento de Mata Atlântica.