Doenças entéricas: um desafio concreto para a suinocultura do desmame à engorda

A suinocultura brasileira, como qualquer outra atividade agropecuária, enfrenta diversos desafios, especialmente quando se trata da saúde e do bem-estar dos animais. Um dos principais problemas enfrentados pelas granjas é a ocorrência de doenças entéricas, principalmente nas fases de desmame e engorda. Entre as diversas causas, destaca-se a bactéria Clostridium perfringens, um microrganismo gram-positivo e anaeróbico que habita diversos ambientes, incluindo solo, dejetos sólidos, esgotos e, infelizmente, o intestino de vários animais.

A Clostridium perfringens é uma bactéria oportunista que, em condições favoráveis, pode causar diversas doenças em suínos, desde enterite aguda até formas crônicas. A capacidade de formação de esporos e a sua presença natural no intestino de todos os suínos tornam a bactéria um desafio constante para a produção. A multiplicação rápida e a produção de toxinas por Clostridium perfringens podem levar à morte dos animais em questão de horas, resultando em prejuízos consideráveis para a granja.

Compreendendo a Doença:

As doenças causadas por Clostridium perfringens em suínos se manifestam principalmente como enterites, ou seja, inflamações do intestino. Essas enterites podem ser classificadas em diferentes tipos, dependendo da toxina produzida pela bactéria e da idade do animal.

Enterite Necrótica: É a forma mais comum de doença causada por Clostridium perfringens em leitões, especialmente na fase de desmame. A toxina alfa, produzida pela bactéria, causa necrose e inflamação intensa na mucosa intestinal, levando à diarreia sanguinolenta, dor abdominal e morte.

Enterite Hemorrágica: Esta forma da doença é caracterizada por diarreia com sangue, anemia e, em alguns casos, prolapso retal. Ocorre principalmente em suínos mais velhos, e a toxina beta é a principal responsável pela sintomatologia.

Enterite Necrotizante: É uma forma mais grave de enterite, com alta mortalidade. As toxinas beta e epsilon são as principais envolvidas, causando necrose e inflamação generalizadas no intestino delgado.

Fatores de Risco e Prevenção:

Diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento de doenças entéricas causadas por Clostridium perfringens em suínos, incluindo:

  • Estresse: Mudanças bruscas no manejo, desmame precoce, transporte e condições inadequadas de alojamento podem aumentar a suscetibilidade à doença.
  • Dieta inadequada: Alimentos com alto teor de proteína bruta, baixos níveis de fibra e digestibilidade limitada podem favorecer a proliferação da bactéria.
  • Imunossupressão: Doenças pré-existentes ou imunossupressão por outras causas podem aumentar a susceptibilidade à Clostridium perfringens.
  • Higiene inadequada: Ambientes com má higiene, manejo inadequado de dejetos e práticas de biossegurança deficientes podem facilitar a proliferação e disseminação da bactéria.

A prevenção é o melhor caminho para combater as doenças entéricas causadas por Clostridium perfringens. As medidas mais eficazes incluem:

  • Manejo adequado: Minimizar o estresse durante o desmame, oferecer um ambiente limpo e seguro, garantir condições adequadas de ventilação e temperatura e implementar práticas de manejo adequadas ao transporte e alojamento dos animais.
  • Dieta balanceada: Oferecer rações de alta qualidade, com níveis adequados de fibra e digestibilidade, além de incluir aditivos que promovam a saúde intestinal e a imunidade.
  • Controle de infecções: Implementar programas de vacinação para os principais tipos de toxinas, promover a higiene rigorosa das instalações, realizar a desinfecção regular dos ambientes e implementar medidas de biossegurança eficientes.
  • Controle de vetores: Evitar o contato de suínos com aves e outros animais que podem ser portadores da bactéria, controlar o acesso de vetores como ratos e moscas, e evitar a entrada de animais doentes na granja.

Tratamento e Diagnóstico:

O diagnóstico das doenças causadas por Clostridium perfringens geralmente se baseia na história clínica, sinais clínicos, necropsia e exames laboratoriais. O tratamento é geralmente feito com antibióticos específicos, mas a resposta pode ser variável e a mortalidade pode ser alta. A prevenção continua sendo o principal foco para evitar perdas e proteger a saúde dos animais.

Conclusão:

As doenças entéricas causadas por Clostridium perfringens representam um desafio real para a suinocultura do desmame à engorda. O conhecimento da epidemiologia da doença, dos fatores de risco e das medidas preventivas é fundamental para minimizar as perdas e garantir a saúde e o bem-estar dos animais. A implementação de programas de manejo e biossegurança eficientes, junto com a utilização de estratégias de vacinação e alimentação balanceada, são cruciais para o sucesso da produção suína e para o controle das doenças causadas por Clostridium perfringens.


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