Entre a vida e a morte: Michael Maia traz distopia reflexiva sobre a eutanásia
A morte, inevitável e universal, é um tema que permeia a experiência humana desde os primórdios. Mas e se pudéssemos escolher o dia e a hora de nosso último suspiro? Essa é a premissa intrigante que o escritor mineiro Michael Maia apresenta em seu romance de estreia, “Entre a vida e a morte, há vários documentos”, lançado pelo selo Paraquedas.
Em uma sociedade distópica, o ato de morrer se torna um processo burocrático, regido por leis e normas. O direito à eutanásia é garantido, mas as escolhas individuais e as consequências sociais desse ato são exploradas com maestria por Maia. O autor nos transporta para um mundo em que a morte deixou de ser um tabu para se transformar em um negócio lucrativo, com empresas de planejamento funerário prosperando e a própria religião se adaptando a essa nova realidade.
A trama se desenvolve através das perspectivas de diferentes personagens, cada um com suas próprias motivações e dilemas. Temos a figura de Clara, uma jovem que enfrenta um problema de saúde e precisa lidar com a decisão de escolher o momento de sua própria morte. Há também o pai de Clara, um homem envelhecido que tenta encontrar um novo sentido para a vida em meio a um mundo onde a morte se tornou um mero detalhe burocrático.
Maia utiliza a distopia como um espelho para a sociedade contemporânea, questionando temas como individualismo, consumismo, o papel da fé e a busca pelo sentido da vida. A narrativa é fluida, com linguagem precisa e envolvente, conduzindo o leitor por uma jornada que o convida à reflexão sobre a finitude humana e as complexas relações entre a vida e a morte.
“Entre a vida e a morte, há vários documentos” não é apenas um romance distópico, mas uma obra de ficção especulativa que nos coloca diante de questões existenciais que transcendem o tempo e o espaço. A obra nos confronta com a realidade de uma sociedade em que a morte se torna um ato cada vez mais individualizado, e nos convida a questionar o nosso próprio lugar nesse mundo e a forma como lidamos com a finitude.
O romance de estreia de Michael Maia se destaca pela originalidade da temática e pela profundidade da análise social. É uma obra que nos convida a repensar a morte, não como um fim, mas como um processo que nos define como seres humanos e molda a nossa relação com o mundo. Um livro que certamente marcará o início de uma promissora carreira literária para o autor mineiro.