Homens não possuem visão periférica
Por Cristina Vilas Boas de Sales Oliveira e Daniele Cafange
Calma! Essa é apenas uma analogia sobre características entre eles e elas, no intuito de compreender o motivo pelo qual muitas mulheres se sentem tão exaustas e sobrecarregadas. Ao concentrar a atenção e o interesse em um determinado objetivo exige fazer escolhas. O olhar focado, ainda que de forma desintencional, pode muitas vezes negligenciar o que está em volta, como os afazeres domésticos e os cuidados com os filhos e familiares.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que a divisão das tarefas domésticas é desigual entre os trabalhadores: em média, as mulheres ocupadas dedicaram 6,8 horas a mais do que os homens ocupados. Outro levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, em média, as mulheres têm um acréscimo de 11 horas semanais no trabalho doméstico e nos cuidados não remunerado.
Talvez a explicação para fato tenha início na infância.
O estudo Os estereótipos de gênero sobre a capacidade intelectual surgem cedo e influenciam os interesses das crianças, realizado por pesquisadores norte-americanos das Universidades de Nova Iorque, Illinois e Princeton, demonstra que meninas a partir dos seis anos começam a se achar menos brilhantes que os meninos. O que pode influenciar e impactar diretamente suas escolhas profissionais, pois se sentem menos capaz do que os meninos.
Ainda que elas se dediquem mais aos estudos, 19,4% delas possuem ensino superior, enquanto eles representem 15,1%, a remuneração das mulheres ainda é menor. Em setores da economia em que a presença masculina é predominante, como os setores da construção civil e de tecnologia, observa-se, embora tímido, um crescimento da presença feminina. De acordo com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), as mulheres representam 19,5% dos registros, equivalente a quase 200 mil mulheres engenheiras do total de mais de 1 milhões de profissionais de engenharia no país.
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, em 2021, o número de mulheres trabalhando na construção cresceu 16% em relação ao ano anterior. Contudo, o cargo de engenheiro civil possui uma desigualdade salarial de 38,6% entre gêneros, taxa ainda maior que a média nacional de discrepância salarial entre homens e mulheres, aponta pesquisa realizada pelo Banco Nacional de Empregos (BNE).
Já na área da tecnologia, nos cursos de qualificação, apenas 16,5% das vagas são ocupadas por mulheres. Nas demais áreas do conhecimento e disciplinas a média da participação delas é de 60%, os dados são do Mapa do Ensino Superior 2023, produzido pela SEMESP, entidade que representa mantenedoras de ensino superior do Brasil. Como sendo um dos segmentos da economia mais promissores, digo, como as melhores oportunidades e salários, os dados e pesquisas trazem um ponto de alerta, em especial, em aumentar a presença das mulheres nas salas de aulas.
O mês em que celebra o Dia Internacional da Mulheres (8) abre espaço para o debate das dificuldades enfrentadas por elas no mercado de trabalho, mas também em nossa sociedade um todo, um momento de elucidar questões enraizadas culturalmente e associadas ao feminino com frágil e acostumadas e estimuladas desde a infância a brincar com os cuidados da casa e da família. Estereótipo que com o passar dos anos estão tão incutidos que se normalizam e podem ser tornar um limitador para novas conquistas.
Cristina Vilas Boas de Sales Oliveira e Daniele Cafange são engenheiras e atuam na Universidade Santo Amaro (Unisa). Cristina é responsável pela coordenação dos cursos de Engenharia Ambiental e Gestão Ambiental; e Daniele é atualmente coordenadora da graduação de Engenharia Civil da Unisa.