Ivermectina, limão e caldo de cana não são eficazes no combate à dengue
Ao notar os sintomas, procure uma unidade de saúde e faça o tratamento adequado indicado pelo profissional de saúde
A ivermectina, remédio antiparasitário, volta novamente a ganhar holofotes como possível solução para combater doenças, dessa vez, a dengue. A narrativa falsa foi divulgada nos últimos dias nas redes sociais, inclusive com repercussão na mídia, mas sem nenhum dado ou fonte que comprove a afirmação.
Para quem não lembra, a ivermectina foi defendida na época da pandemia da covid-19 como parte de um tratamento precoce de combate à doença, porém sem nenhuma eficácia comprovada. Estudos rigorosos foram realizados ao redor do mundo e o resultado é claramente a ineficácia do medicamento no combate à covid-19.
Para ficar claro: a ivermectina também não é eficaz em diminuir a carga viral da dengue. O Ministério da Saúde não reconhece qualquer protocolo que inclua o remédio para o tratamento da doença.
Disseminação de fake news, principalmente quando se trata de um cenário epidemiológico que pede atenção, é extremamente perigoso. Por isso, saiba quais são os sintomas da dengue e qual o tratamento adequado para combatê-la.
Outra tese desinformativa que vem repercutido nas redes sociais é a ingestão do sumo de limão para “neutralizar a carga viral” de quem já está infectado com a dengue. De acordo com a Associação Brasileira de Nutrição, alimentos que contêm salicilatos e os de ação antitrombótica devem ser evitados em caso de suspeita da doença. Dentre esses alimentos, está o limão.
Além do limão, os infectados pela dengue devem evitar consumir abricó, ameixa fresca, amêndoa, amora, batata, cereja, groselha, maçã, melão, morango, nectarina, nozes, passa, pepino, pêssego, pimenta, tangerina, tomate e uva.
Esses alimentos diminuem a biodisponibilidade da vitamina C e os níveis séricos de folato – ferro e potássio e as proteínas plasmáticas. Ao mesmo tempo, aumentam a excreção urinária das vitaminas B1, B6 e K. Podem provocar alterações gástricas, hipotensão, alergia, distúrbio do equilíbrio ácido-básico e fenômenos hemorrágicos que poderão gerar anemia.
Peças de desinformação ainda atribuem ao caldo de cada uma falsa neutralização da carga viral em infectados com dengue. Diferente do limão, o caldo de cana não possui contraindicações. Mas o fator curativo atribuído nas fake news simplesmente não existe.
Quais os sintomas da dengue?
A infecção por dengue pode ser assintomática ou apresentar quadro leve. Mesmo assim, é muito importante ficar atento aos sinais, pois pode haver a evolução de um quadro leve para um quadro mais grave.
Os principais sintomas são febre, dor no corpo e nas articulações, dor atrás dos olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça, manchas vermelhas no corpo, dor abdominal intensa, vômitos, letargia ou irritabilidade.
A pessoa com dengue não terá necessariamente todos os sintomas. A febre alta associada a mal-estar, dor de cabeça e dores pelo corpo é a forma de apresentação mais comum. A forma grave da doença, conhecida como dengue hemorrágica, inclui dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas.
Está com alguns desses sinais e não tem certeza se é dengue? Não espere os sintomas piorarem. Procure atendimento em uma unidade de saúde mais próxima para diagnóstico com um profissional, que indicará o tratamento adequado. E lembre-se: não se automedique.
A identificação precoce de casos potencialmente graves é essencial para a eficácia do tratamento, que será iniciado o mais rápido possível.
Como é feito o tratamento?
O médico identificará os sintomas a partir de uma pesquisa com o próprio paciente e seguirá o protocolo oficial, que podem incluir exames laboratoriais.
O tratamento para dengue é baseado principalmente na reposição volêmica adequada, considerando sempre qual o sorotipo da doença (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4).
Para os casos leves, a recomendação é repouso, enquanto durar a febre; hidratação (ingestão de líquidos); administração de paracetamol ou dipirona em caso de dor ou febre; e não administração de ácido acetilsalicílico. Na maioria dos casos, há uma cura espontânea depois de 10 dias.
É muito importante retornar imediatamente ao serviço de saúde em caso de sinais de alarme (dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas). O protocolo sugere a internação do paciente para o manejo clínico adequado.
As condutas clínicas indicadas pelo Ministério da Saúde são sustentadas em bases científicas e evidências de eficácia que garantem a segurança do paciente. Os medicamentos prescritos para o tratamento têm aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e constam na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais do Sistema Único de Saúde.
O indivíduo pode ter dengue até quatro vezes ao longo da vida. Isso ocorre porque ele pode ser infectado com os quatro sorotipos existentes do vírus. Uma vez exposto a um determinado sorotipo, após a remissão da doença, o indivíduo passa a ter imunidade para aquele sorotipo específico, ficando ainda suscetível aos demais.
Mulheres grávidas, crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas (asma brônquica, diabetes mellitus, anemia falciforme, hipertensão, entre outras) são mais suscetíveis a desenvolver complicações pela doença.
Vacina contra a dengue
Cerca de 3,2 milhões de pessoas devem ser vacinadas contra a doença no Brasil ao longo de 2024, considerando a capacidade limitada de fabricação das doses da vacina pela farmacêutica.
A partir de fevereiro, 521 municípios de regiões endêmicas, incluindo 16 estados e o Distrito Federal, receberão o imunizante. Possuir pelo menos um município de grande porte, ou seja, mais de 100 mil habitantes; Alta transmissão de dengue registrada em 2023 e 2024 e maior predominância do sorotipo 2 do vírus da dengue (DENV-2).
Acesse a lista de municípios selecionados para receber a vacina
O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer a vacina no sistema público de saúde. Em dezembro de 2023, o Ministério da Saúde incorporou a vacina contra a dengue, após análise e recomendação da Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no SUS (Conitec).