3 dicas essenciais para engajar os alunos na leitura das obras obrigatórias para o vestibular
O professor do Curso Anglo, Maurício Soares, reúne dicas valiosas para estimular a leitura de estudantes do Ensino Médio e pré-vestibular
Periodicamente, grandes vestibulares como Fuvest e Unicamp divulgam suas listas de obras obrigatórias para leitura, que reúnem nomes atemporais da literatura clássica e contemporânea. A prova para o ingresso em uma graduação na Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, cobra uma leitura aprofundada de nove livros de literatura em Língua Portuguesa. Para a edição de 2024, os autores da lista vão de Machado de Assis ao moçambicano Luís Bernardo Honwana. O número pode parecer elevado, mas a real leitura e compreensão desses títulos é um trabalho que cabe não só aos candidatos, mas também aos professores.
Em um mundo cada vez mais online, o hábito de ler pode ficar em segundo plano. Dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que apenas 16% das pessoas acima de 18 anos haviam comprado livros nos 12 meses anteriores a pesquisa. Esse fato reflete diretamente no desempenho dos candidatos nos vestibulares. Sem o incentivo à leitura, esses estudantes, muitas vezes, podem apresentar dificuldades na interpretação de textos e na articulação da escrita, afetando sua nota final. Frente a isso, é essencial que essas obras sejam trabalhadas em sala de aula de maneira complexa, relacionando o enredo à época e ao contexto em que foram escritas e, até mesmo, à vida pessoal do aluno.
Ler não é somente saber a história, mas ter a experiência completa do que aquela obra pode te proporcionar. É o que defende Maurício Soares, professor de Literatura do Curso Anglo, especialista e mestre em Literatura Brasileira. Para o educador, o incentivo a uma leitura humanizada é a chave para um bom desenvolvimento nos vestibulares, sempre com a mediação do professor. “A leitura literária precisa despertar um envolvimento emocional, pois trabalha com outros registros além do simples intelecto. O ideal é que o leitor sinta e participe daquela emoção, compreenda aquele movimento internamente e, quem sabe, transfira para a sua própria vida. Considerando isso, é fundamental que os alunos tenham a leitura das obras obrigatórias como um momento de entrega, de atenção e de relação com o livro”, completa.
Para isso, é preciso que existam aulas dinâmicas e abertas ao debate dessas obras, para que o aluno também possa se expressar. Pensando nisso, Soares reuniu três dicas importantes que podem ser aplicadas dentro e fora da sala de aula. Confira!
- A interdisciplinaridade
É comum que vestibulares relacionem essas obras com as demais disciplinas, como aconteceu na última edição da Fuvest, em uma questão que abordava a vegetação descrita em “Angústia”, de Graciliano Ramos, com conceitos de botânica. Por isso, é interessante que todo o corpo docente esteja a par dessas listas e possa oferecer essa visão interdisciplinar aos alunos. Por que não planejar uma aula conjunta ou desenvolver projetos que permitam trabalhar conceitos literários e técnicos? “É o tipo de coisa que pode ser feita na hora do intervalo, quando ali no corredor, sem querer, encontra o seu amigo professor e ele te diz que está falando de um assunto que encaixa exatamente com o seu livro”, sugere Soares.
2. Tecnologia como aliada
A questão da implementação da tecnologia na literatura é controversa. “Optar por vídeos curtos e simplificados sobre esses títulos não é a melhor das opções, pois eles, em sua maioria, não abordam as obras com a complexidade que são exigidas. Por outro lado, fóruns de conversa e grupos online de leitura podem enriquecer esse processo de imersão e compreensão dos textos”, destaca o professor do Anglo. Segundo ele, o professor pode utilizar ferramentas que a para a criação de espaços de troca, permitindo que os alunos compartilhem ideias, dúvidas, dicas sobre as histórias.
3. Pessoalidade da obra
Por fim, a pergunta mais importante: como eu faço com que o aluno se interesse por essa história? A principal estratégia para incentivá-los a lerem as obras indicadas pelos vestibulares é relacioná-las à vida deles. “É fundamental que o aluno compreenda que essa leitura está sendo proposta porque ela faz sentido neste momento em que vivemos, porque aqueles sentimentos despertados pela leitura e abordados naquele enredo estão presentes na sociedade em que vivemos. Sendo assim, essa relação torna a leitura um diálogo de igual para igual. Um indivíduo que está em busca de si mesmo, tentando entender o seu lugar do mundo, pode encontrar nos personagens respostas para as próprias perguntas”, aponta o professor.
É preciso que fique claro ao aluno quais são as questões que estão sendo discutidas no livro — explicitando o contexto em que foi produzido —, mas também dando espaço para que o estudante tire conclusões do que está sendo tratado, alimentando, assim, sua capacidade de interpretação e senso crítico. Assim, o professor deve ser a ponte entre o aluno e o universo descrito no livro.