Sufocados pela inflação, inquilinos de Buenos Aires se desesperam com crise imobiliária

O argentino Tomás Sislián se prepara para deixar seu apartamento, em Buenos Aires, devido à crise imobiliária. (Crédito: Luis ROBAYO)

Entre caixas vazias devido a uma mudança forçada, o produtor audiovisual argentino Tomás Sislián, 28, passa seus últimos dias no primeiro apartamento em que morou sozinho.

Em um contexto de inflação anual de 211% e onde os aluguéis podem ser fixados em dólares, a crise imobiliária deixa os inquilinos desamparados.

“Morei toda a vida nesta área e é horrível, porque sinto que estão me expulsando”, disse Sislián, que precisou sair do apartamento que alugava e não encontra uma alternativa acessível. “Fico frustrado, porque sou profissional, tenho dois títulos e quatro empregos. Não acredito que terei que ir morar a 20 km daqui.”

O problema imobiliário existe há anos em Buenos Aires, mas a crise se agravou para os inquilinos após a desvalorização de mais de 50% da taxa de câmbio oficial em dezembro, que alimentou a inflação e reduziu o poder de compra dos argentinos. Apenas no mês passado, os preços aumentaram 25,5% no país.

O governo do ultraliberal Javier Milei, que tomou posse em 10 de dezembro, também revogou leis que regulamentavam os termos dos contratos de aluguel, que, agora, podem ser fixados em dólares.

No caso de Sislián, as proprietárias do apartamento não renovaram o contrato de aluguel, alegando que “a situação do país está complicada”, contou.

Desespero

A crise econômica argentina afetou principalmente os inquilinos, com aumentos acumulados no último ano de 285% a 309% nos aluguéis de imóveis de um a três quartos, segundo levantamento do Centro de Estudos Scalabrini Ortiz.

“Recebemos pessoas desesperadas, que nos dizem que não sabem onde irão morar amanhã”, descreveu Gervasio Muñoz, presidente da organização Inquilinos Agrupados, que defende os direitos dos inquilinos argentinos.

Nos últimos anos, diferentes organizações de inquilinos lutaram por uma lei sancionada em julho de 2020, que previa um contrato mínimo de locação de três anos e reajustes por um índice que calculava a média do aumento dos salários e da inflação. Mas essa lei foi revogada por um decreto promulgado por Milei, que entrou em vigor em 29 de dezembro. As condições dependem, agora, da negociação entre as partes.

“Por que o Estado tem que se intrometer na vida privada?”, questionou o presidente libertário em diversas ocasiões, referindo-se a diversas regulamentações federais. Como resultado, “observamos, agora, que não apenas não há oferta, mas também que as condições para a renovação de contrato são acompanhadas de aumentos de 500% e reajustes mensais atrelados à inflação”, apontou Gervasio Muñoz.

“Normalmente, uma desvalorização na Argentina tem um efeito direto sobre os preços, e os salários tendem a ser atualizados por último. Por isso, ocorre a perda de poder aquisitivo, explicou o economista Hernán Letcher, diretor do Centro de Economia Política da Argentina.

O Inquilinos Agrupados entrou com um recurso de amparo para anular o decreto que elimina a lei que fazia a mediação entre proprietários e inquilinos.


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