Produção de etanol de milho caminha a passos largos no Brasil, estima Argus
Pesquisa realizada pela Argus, empresa especializada na produção de relatórios e análises de preços, constatou que 15 novas unidades de etanol a partir de outras matérias-primas que não a cana-de-açúcar foram anunciadas ao longo de 2023 e mais podem estar no caminho. Segundo a Argus, um consenso entre participantes do mercado é que o etanol de milho está a passos largos de abocanhar porções cada vez maiores do mercado doméstico do biocombustível, via projetos greenfield e brownfield.
Na safra 2022/23, a produção brasileira de etanol foi estimada pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) em 31,1 milhões de m³, dos quais 4,43 milhões de m³ partindo do milho, correspondendo a 14% do total. O setor de etanol de milho espera produzir 10 milhões de m³ até a safra 2030/31, abarcando mais de 20% do mercado brasileiro de combustíveis, segundo dados da União Nacional de Etanol de Milho (Unem), citados pela Argus.
O especialista no mercado de etanol da Argus, Vinicius Damazio, disse em nota que “o Brasil tradicionalmente apostou na cana-de-açúcar como matéria-prima principal para o processamento de etanol, mas o interesse crescente de antigos e novos investidores deve elevar a participação de mercado do biocombustível fabricado a partir do milho”. Segundo ele, “anúncios de novas usinas de etanol estão surgindo por todo o território nacional. As usinas em si não são novidade, dada a rica história do País na produção de biocombustíveis – especialmente etanol a partir da cana. O que chama a atenção é que a matéria-prima que essas fábricas processarão é o milho”.
Naturalmente, ponderou a Argus, alguns projetos são mais ambiciosos que outros. Um fator chave que levou algumas empresas a avançarem na produção do biocombustível a partir de milho e outros cereais foi a disponibilidade ampla sob um custo baixo, com a safrinha (segunda safra de milho) possibilitando abastecimento para o ano inteiro.
Além disso, destacou a Argus, analistas de bancos de investimento afirmam que usinas de etanol – seja qual for a matéria-prima – são intensivas em capital, mas o Prazo de Retorno do Investimento (ROI, na sigla em inglês) em projetos de milho é mais rápido em comparação com a cana.
Alguns especialistas acreditam que o avanço do etanol de milho pode inclusive mudar a dinâmica de trading durante a entressafra, observou a Argus. Isso porque usineiros mais capitalizados costumam adotar uma estratégia de “carry”, que envolve a formação de estoques para se beneficiar de preços mais atraentes quando seus concorrentes encerraram a moagem de cana, ou seja, quando há menos produto disponível no mercado. A cana-de-açúcar tem um período de cultivo limitado e não pode ser armazenada, pois começa a fermentar assim que cortada, enquanto as plantas de milho podem produzir o ano todo.